Leitora Viciada 26/07/2012Li primeiramente o livro Gula, Belzebu, desta mesma série e somente depois percebi que o volume um é o Inveja, Leviathan. Acho que fui gulosa e não percebi este detalhe. De qualquer forma, a série, que será constituída por sete volumes no total, cada um voltado à um pecado capital e seu respectivo demônio, não necessita ser lida em ordem alguma; cada livro de contos é independente e o leitor pode escolher qual lerá, na ordem que preferir. Então não pequei.
Aconselho: se gostar de Gula ou Inveja, leia o outro, pois ambos possuem o mesmo estilo e qualidade, tanto na parte gráfica quanto literária e formarão uma bela coleção juntamente com os cinco próximos se a Estronho mantiver o mesmo trabalho.
Como expliquei na resenha de Gula, Belzebu, não tinha gostado muito das capas pelas imagens vistas pela internet, porém com os livros em mãos, as adorei. Muitos detalhes que tudo tem a ver com o tema, imagens medievais.
A única diferença entre Gula e Inveja é que Inveja possui algumas páginas a mais. A própria introdução sobre Leviathan ocupa duas páginas, enquanto a de Belzebu apenas uma. Inveja possui um conto a mais. Alguns autores possuem contos em ambos os livros: Valentina Silva Ferreira, Lemos Milani, Raphael Montes, Fabiane Guimarães e Ghad Arddhu. As diferenças são bem leves, os dois volumes seguem um padrão.
Antes de cada conto, as informações sobre o autor(a) estão presentes, exceto no terceiro conto, onde consta apenas o nome da autora, porque ela não enviou sua biografia, a editora me informou sobre isso.
O livro está excelente na revisão e diagramação. Adoro os detalhes enfeitando as páginas e as figuras de ares medievais.
O primeiro conto é um dos melhores. Na verdade gostei mais do início do livro que do final. O título é As Irmãs Valia, Velma e Vanda e foi escrito por Raphael Montes. Uma leitura inesperada que prende a atenção a cada linha e transforma o amor em inveja. A admiração pelas irmãs perde para o ego. Qual delas será a pecadora? Surpreendente.
Uma villa fria, que me parece ser a mesma presente no conto Banquete em Gula, Belzebu, escrito pelo mesmo autor.
Além de excelentemente bem escrito, narrado em primeira pessoa e mergulhando o leitor em odores, texturas e sensações, o conto O Ferro é a Palha, o Bronze Pau Podre é uma surpresa. Não esperava encontrar uma história tão criativa e diferente dentro da temática inveja/Leviathan.
Richard Diegues me fez lembrar de algumas histórias em quadrinhos adultas, principalmente Hellblazer (com John Constantine).
Mesmo desconfiando do segredo e do desfecho da história, o texto não deixa de ser sensacional.
Embora não tenha gostado muito do conto de Fabiane Guimarães em Gula, Belzebu, eu adorei este em Inveja, Leviathan por completo! Duas Vezes Ana é excelente, inquietante, maduro e de texto fluido.
Mais um conto da Valentina Silva Ferreira que combina o charmoso português de Portugal, à genialidade de seu uso e almas e mentes sofridas de personagens que são levados à hediondos crimes. Em Chora, Mia, Chora, assim como em seu livro Distúrbio ou outros contos que li da autora, senti diversas reações físicas e emocionais durante a leitura.
Desta vez, por mais que a protagonista seja uma serial-killer motivada pela inveja, existe outro sentimento sinistro por detrás de seus atos. Embora isto nunca sirva como justificativa, por um momento me provocou pena dela. Senti pena e ódio ao mesmo tempo. Realista e provocante. Uma crítica aos padrões de beleza impostos pela sociedade, mídia, cultura.
Em Pablo, meu Querido Irmão, a narrativa é ágil misturando o misticismo oculto africano à história de uma família próspera de cinco irmãos. Uma família estrangeira trabalha na propriedade dessa família protagonista e fatos negativos começam a ocorrer com um dos irmãos.
Interessante a história ser contada de forma perfeita e pelo irmão corretamente escolhido por Davi M. Gonzales. Maldição e muito mistério que realmente só é desvendado na última linha.
Certamente um dos contos mais originais e criativos que já li. Lemos Milani desconcerta e surpreende o leitor completamente na escolha do narrador em Inumana. E com maestria os fatos nos são contados com riqueza, de forma dinâmica e em formato de depoimento.
A inveja presente neste conto é formidável e o destino de todos que sofrem por ela ou com ela é interessante. Início e final ótimos, que se encaixam harmoniosamente com a história em si.
O Círculo do Demônio é um conto feito para quem curte histórias de cavaleiros, com batalhas, intrigas e dragões. Evandro Guerra apresenta o Reino de Inarc protegido por sua elite de guerreiros: Os Chacais com suas vestes negras. Mais alguns ingredientes da trama: Os misteriosos "folhas" atacam o Reino, uma princesa decidida e de personalidade definida e dois primos que são mais que irmãos sofrem fatalidades, a intervenção do demônio e da inveja em suas vidas.
Excelente conto; somente achei desnecessária a breve introdução.
Apesar de a inveja ser o pecado principal de Desejo de Pecar é interessante perceber como outros pecados aparecem discretamente interligados a ela, como a ira, a avareza e até mesmo levemente a gula; mas sempre regidos pela inveja.
Uma história de honra, com morte, sofrimento, lutas, sangue, zumbis e demônios. Ótimo conto de Eriwelton Alves.
Embora O Lago seja um conto com boas descrições e narrativa bem elaborada em terceira pessoa, a história não me prendeu a atenção como as anteriores, salvo pelo detalhe de As Viúvas, o ponto mais interessante. Mesmo com elementos fantásticos, com muita ação e o uso do pecado da inveja e do Leviathan não me empolguei muito com a história de Leona Volpe, apesar de seu bom trabalho.
O Veneno da Alma é uma história com muitas reviravoltas e surpresas. Além da inveja da protagonista que a leva a cometer atos horrendos, um pacto dela com Leviathan está selado e seu prêmio, montado aos poucos. E isso assusta!
Porém além das vítimas existe mais uma personagem enigmática. Um conto macabro com término inesperado escrito por Maurício Pessoa Pecin.
Em seguida, um conto curto e ousado escrito por Alliah: Fogo Negro. A inveja é elevada a um nível extremo e sem retorno. Existe um sutil e sagaz simbolismo com o lagarto e o conto leva o leitor a refletir sobre como às vezes inveja-se algo que na realidade é bem diferente do que vemos.
Momentos Engarrafados é o conto mais criativo no título que se inicia com um ar de crônica, mostrando o cotidiano de um condomínio onde cada apartamento inveja o outro.
A calmaria interrompida por um desastre e seres e fatos misteriosos é percebida somente pelo protagonista, alvo e gerador de inveja.
Um conto bem escrito por George Amaral, que junta o fantástico à normalidade de vidas habituais e não deixa o leitor se esquecer que essa inveja pequena e tão comum entre vizinhos pode ser a mais incômoda.
Sheilla Liz traz um conto com ambientação indígena brasileira de 1865. Em O Fruto de Abarondê ela mostra o encontro entre homens brancos estrangeiros e índios locais que nunca haviam tido contato com estrangeiros.
História narrada por uma índia, e ela mostra como a inveja veio trazida pelos homens de fora, uma palavra e sentimento antes inexistente na tribo. Dominada ela própria pela inveja, conta detalhes macabros.
Ótimo conto com final que choca. Possui um sumário do final para compreendermos os termos indígenas, gostei.
O último conto é O Obsessor no Caminho Ígneo do Bodisatva. Uma mistura de Ficção Científica com magia num conto excelente e bastante atraente. Ghad Arddhu criou toda a ambientação e fantasia de forma concreta e original, trazendo à tona a batalha do bem contra o mal, este é a mais pura inveja personificada através de Leviathan. O protagonista mostra ao leitor, além de poderes fenomenais, o oposto da inveja, a única forma de vencer esse vil sentimento.
O autor utiliza da ficção para deixar uma bonita mensagem contra a inveja, de forma discreta e finalizando muito bem o livro.
Inveja, Leviathan é tão bom quanto Gula, Belzebu, embora eu tenha pessoalmente preferido Gula. A Estronho está de parabéns com o trabalho realizado nos dois primeiros volumes, me deixando com maiores expectativas para os próximos!
Contos que mais gostei: As Irmãs Valior, Velma e Vanda; O Ferro é a Palha, o Feltro a Madeira; Duas Vezes Ana; Chora, Mia, Chora; Inumana; e Momentos Engarrafados.
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