Euflauzino 02/01/2013O nascimento da maldadeLivros com alta voltagem já me deixam em polvorosa. A violência me atrai, não sei ao certo por quê. Apenas sei dizer que ela puxa minha visão, me choca, me lança em um lugar que não quero estar, mas quero sorver. Comecei a me interessar por Mal intencionados (LP-Books, 325 páginas) por causa da sinopse, participando de várias promoções. Como que por encanto, acabei conhecendo a autora Geyme Lechner Mannes, maravilhosa! E ela, percebendo meu interesse alucinado, acabou enviando o livro da Alemanha (que chique né?). Pois é, foi um encontro inevitável. Eu e a escrita de Geyme. Ela bate pesado, expõe as igrejas evangélica e católica, exploradores da fé e da ignorância, os submissos, a mãe superprotetora, os aproveitadores sem ética, o mundo cão. Só por isso já valeria à pena lê-lo.
Mas ela vai mais fundo, sem cortes no texto, com cortes na carne, ela tece o perfil psicológico de cada personagem, provando que todos podem ter um quê de desajustados.É como se eu estivesse entrando no universo de Clive Barker (existe um colega que disse que as personagens de Barker querem provar quem é mais FDP que o outro, sempre sorrio quando me lembro disso, pois é a mais pura verdade), porém com uma diferença: é o mundo real! Seria o ser humano malvado por natureza?
Logo de cara me veio um filme o qual assisti há muito tempo chamado Funny Games (acho que Violência Gratuita é o nome lançado por aqui), as cenas são de virar o estômago, mas no livro a violência não tem nada de gratuita, nasce do ódio, do desespero, do prazer. Outro livro que me veio à mente foi “Eu sou foda!” de Hermes Leal, relançado como “Faca na garganta – a história de Cide e Alice”, retrato de uma juventude sem esperança, lançada à própria sorte. Quem não assistiu ao filme ou leu o livro, digo que é um bom início antes de se lançar em “Mal intencionados”.
O cerne da história é Tomás, uma criança mimada, que pensa ser seu pai um empecilho para o amor que sente pela mãe Ana, inclusive querendo se casar com ela (!!!). Porém, com a saída (abandono) do pai de sua casa, Tomás imagina estar no universo que tanto sonhou.
Mas sua mãe não pensa o mesmo. Trata de arrumar uma referência masculina para o filho. Coloca dentro de casa o “homem de barbas”, bronco e pouco afeito a higiene, fazendo de Tomás um joguete, iniciando com ele um jogo cruel, próprio de um pedófilo. O que faz de uma mãe, uma criminosa; de uma criança, um monstro; de um adulto, um pedófilo? É isso que este livro nos propõe evidenciar – como o mal é vagarosamente inoculado em nossas veias.
O nascimento de Tomás forja a ligação com a mãe:
“Quando nasceu, Tomás foi a criança mais feia que uma maternidade podia ter visto. Sua mãe o teve em uma breve gestação de seis meses e meio, e os médicos acharam que ele não sobreviveria. Pesando 900 gramas, fora uma “pulguinha” lançada ao mundo (ou um rato) como iriam alguns dizer mais tarde... Por dias e noites a fio, sua mãe o carregou nos braços. Cantava músicas que ele ainda não conhecia. Balançava-o de um lado ao outro, sorrindo e beijando-o entre canções... Algumas vezes ela revezava em segurar o bebê com o marido, mas quando isso acontecia, Tomás despertava do sono na mesma hora e chorava sem parar, entre lágrimas, soluços e saudades do perfume que exalava através do corpo de sua mãe... sentia-se bem somente com ela.”
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http://www.literaturadecabeca.com.br/2013/01/resenha-o-nascimento-da-maldade.html