Gladia~ 17/04/2024
A redenção vem no fim da vida
O livro inicia com o anúncio de que Ivan Ilith, um membro importante da câmara judiciária, faleceu.
A primeira parte do livro nos descreve as primeiras reações, sentimentos e ações dos conhecidos e familiares em volta de Ivan Ilith.
O livro me fez pensar na hipocrisia com a qual as pessoas agem conforme os costumes nesses momentos e muitas vezes, sem de fato carregar sentiments reais sobre aquela morte.
Também me causou medo. Tolstoi, ao descrever o pensamento das pessoas envolta do falecido, coloca em evidência a falsidade com a qual aquele momento é levado e até o sentimento narcisístico do ser humano:
A dor foi minha e não do outro, ele morreu e não eu, o cargo que ele deixou vai ficar com quem?
Há até certo resquício de felicidade nas pessoas.
A primeira parte finaliza com os colegas do falecido reunidos na casa de um deles jogando baralho. A lição que me trouxe dessa cena é que a vida continua após a morte de alguém.
O que me chamou atenção é que Tolstoi, com uma escrita tão perfeita, coloca o dedo na ferida de uma hipocrisia tão presente, mas que não se fala e não se pode falar.
A segunda parte é a vida do protagonista, a vida e sua morte.
Ivan se formou em direito, se casou por convenção e seguiu a vida com os princípios de agir da forma mais convencional e tranquila que pudesse, foi dessa forma que alcançou seus cargos de trabalho.
A hipocrisia e tentativa de distanciar-se de tudo o que é incômodo, são as maiores características de Ilith.
Assim que ele é acometido por uma doença, a dor e a morte se tornam quase um personagem na história. Elas conversam com Ilith. E é nesse momento que ele se questiona sobre sua vida, o sentido dela, o que teria feito de errado e o que poderia mudar?
A sensação que eu tive ao ler isso é que Ilith não sentia, não amou, não se entregou e nem se questionou durante sua vida. Ele alcanço tão alto cargo que a notícia que sua doença iria mata-lo, o causou confusão? Como pode alguém como ele morrer?
Ele não se senti mortal (e nisso eu percebi que ele não era alguém vivo quanto ele mesmo pensava, já que não viveu a vida com verdade).
Assim que a morte deu de cara com ele, todas as nuances humanas chegaram juntas e todas as dores evitadas apresentaram para ele nesse momento.
A narrativa de alguém no fim da morte, sentindo a vida sair de seu corpo aos poucos, agonia, a gente sente na garganta aquela dor, a culpa e o arrependimento que ele é acometido ao perceber a forma que levou sua vida.
Pra conseguir entender todas as camadas desse livro, só lendo, porque cada frase que Tolstoi coloca ali, diz MUITO!
O personagem sofre tanto, que na verdade esses momentos de fim da vida, eles sim eram a morte.
E contraditoriamente, a morte existe porque a vida existe e a vida existe porque há a morte.
Ao pensar e estar de cara com a morte, Ilith de fato estava vivo.
?Fora a luz que tomará lugar da morte?
?Acabou a morte, ela não existe mais? (e nem a vida).