llRods 22/04/2024
Um minuto de felicidade plena
Minha dúvida ao começar um clássico é sempre a mesma: será que vou me perder na linguagem? Mas noites brancas foi uma surpresa pra mim. Mesmo nas partes em que me perdi um pouquinho, não demorei a me reencontrar, e gostei muito de perceber que até a forma de falar tem um significado.
A linguagem aqui faz parte dos personagens. O sonhador tem seu modo mais lúdico e rebuscado de falar, refletindo exatamente a personalidade e a vida dele, enquanto Nástienka ja é mais direta e menos eloquente, refletindo a vida simples e a pouca vivência.
Esse encontro dos dois é meio engraçado para os parâmetros modernos, mas a gente releva pela idade do texto, e pela interação deles que, mesmo que as vezes estranha, é gostosa de acompanhar. Vai te prendendo mais a cada nova revelação. Fiquei triste com suas angustias, feliz com suas resoluções e chocado com o final.
Essa edição da Antofágica, além de ser linda, trás vários textos complementares que me ajudaram a entender melhor as ideias, a época em que foi escrito, questões técnicas e artísticas. Gostei que não são só textos de especialistas ou estudiosos, temos o ilustrador explicando suas inspirações e a Letrux logo no começo que já te coloca no clima. Enriqueceram muito minha leitura e trouxeram ainda mais reflexões.
Por fim, dentre as varias falas bonitas e momentos que essa leitura me deu, a frase final foi a que mais me marcou, e deu sentido ao livro todo. Aquelas foram as poucas noites brancas na vida obscura de um sonhador. Um minuto de felicidade plena, suficiente para uma vida inteira.