Bárbara 17/10/2012ao ler este livro fiquei com várias impressões e nenhuma em particular se sobressaiu muito. então igualmente minha resenha tá meio confusa =D
nos primeiros capítulos, o livro é mais uma coleção de fatos bem curiosos e casos estranhos a respeito do funcionamento do cérebro, com alguns testes divertidos que você mesmo pode fazer. tudo isso com o objetivo de provar um ponto: a "consciência" na verdade não tem consciência de quase nada, e o nível de tomada de praticamente todas as nossas decisões é muito mais interno e autômato do que podemos pressupor. ele também ressalta o fato de que nossa realidade é somente uma percepção motivada pelo seu cérebro, ou seja, ela não existe como algo externo a nós, fixa e.. "real".
embora eu não tenha visto nada de muito novo - porque costumo ler sobre essas coisas - essas partes são bem interessantes, e a narrativa do livro é fluida.
aí na metade do livro, ele desloca o tema, não muito sutilmente, para a questão da imputabilidade das pessoas que cometem crime. porque partindo do pressuposto que não temos realmente controle algum sobre o que pensamos e fazemos, tanto pelos nosso genes quanto pelas influência ambientais que sofremos, a idéia de "castigo" seria sem sentido. embora eu ache que entenda aonde ele quer chegaqr com isso, o sistema que ele propõe no lugar me parece inviável, mas, mais do que isso, me deixa com um pouco de medo. mas vamos por partes. me parece inviável porque ele sugere que em vez de perguntarmos se a pessoa é culpada pelo que ela fez, nós analisemos a situação de forma prospectiva, isto é, com um olhar para o futuro. a pergunta seria: quais as chances da pessoa voltar a se comportar de uma maneira que ameace o bem estar da sociedade? e, com base nessa resposta, sugerir tipos de reabilitações neurais/comportamentais com base no problema da pessoa. nos casos insolúveis, ele propõe que o governo tutele a pessoa tornando-a incapaz de ferir a sociedade (como seria isso ele não diz, e eu fico com medo de imaginar). isso me parece extremamente inviável em termos burocráticos (como gerir análises extremamente individuais sobre o cérebro e funcionamento de cada pessoa e para cada uma desenvolver um tratamento de reabilitação específico), e, embora seja um conceito interessante, o de focar num prospecto e não no passado do criminoso, o autor solta uns dados que me parecem perigosamente próximos aos das teorias eugenistas do século xx. quer diz, ele diz "ah, pessoas com tal grupo de genes são 8 vezes mais propensas a cometerem crimes", como se o gene fosse de fato determinante, abrindo um precedente para se analisarem genes e fazerem "limpezas genéticas" na população. afinal, o que, senão esse tipo de idéia, que permitiu que se justificasse o genocídio e práticas horríveis no passado e ainda hoje? eu já estava com um amargor nesse pedaço do livro, mas então o autor, nos últimos capítulos, fica de repente mto mais relativo.
relativo pq ele retoma a idéia dos genes do crime e diz que o ambiente mtas vezes determina se a pessoa irá de fato "exercer" aquela tendência ou não. o que nos leva, por exemplo, a inteiros sistemas sociais que fazem com que algumas pessoas vivam em ambientes de injustiça, de violência cotidiana, de desestruturação familiar etc, que pesam tanto ou mais na sua trajetória qto os genes q elas carregam. e isso muda tdo, pq então ele aponta pra imprevisibilidade de doenças e condições mentais. é aí q ele claramente se posiciona contra o reducionismo científico, q é achar q dá pra isolar cada coisa em sua menor partícula, como, por ex, isolar uma doença a um único gene. ele diz q nós somos constelações mto complexas, tanto por dentro qto pelas nossas interações ambientais, o q torna extremamente difícil de prever qquer coisa e de se ter controle sobre qquer coisa. assim, eu voltei a respirar mais tranqüila, já q eu considero q esse tipo de lógica pode ser bem perigosa. até pq considerando q nós reduzíssemos tudo, essas tais classificações obedecem a pressupostos nossos, tão incertos qto qquer outra coisa, e q podem variar de acordo com a época e com os interesses em jogo. já foi mto interessante pra mtos grupos provar uma suposta inferioridade dos negros, por ex, como forma de sustentar um modelo político q previa a escravização dos africanos. daí vc isola um tal gene pra qquer coisa e usa isso como desculpa pra algum tipo de "seleção natural" forçada destes genes, e isso, na minha opinião, leva a cenários bem distópicos.
mas daí, com as ressalvas todas aparentemente concentradas no último capítulo, eu fiquei meio sem saber qual é a do autor. ele se empolga mto e depois faz mil considerações, e na minha opinião isso poderia ter sido mais bem equilibrado ao longo do livro todo. e tbm não entendi se o propósito todo desse livro dele foi fazer um manifesto qto à forma q ele entende ideal de julgar e "punir" os criminosos. em todo caso, ele traz idéias bem interessantes e eu julgo q vale a leitura de qquer um interessado no tema. o espírito do final, claramente empolgado com os rumos q podemos tomar qdo percebemos q nossa consciência tbm não está no centro de tudo (ele faz um paralelo com a descoberta de q o mundo não está no centro do sistema solar e nem do universo), é realmente bem interessante.