Paulo 17/12/2023
O homem deve agir, ainda que cometa erros
Bem mais simbólica do que a primeira parte, vemos aqui Fausto vivendo intensamente no “grande mundo”. Após a “queda” narrada na primeira parte, que culminou com a desgraça da família de Margarida e sua morte, Fausto, sempre na companhia do demônio Mefistófoles, atua agora na corte do Imperador, onde apresenta um plano econômico consistente em emitir papel moeda para sanear as contas do Estado.
Para entreter os nobres enfadados do palácio, Fausto invoca do “mundo das mães” os espectros do casal Helena e Páris. Acaba se apaixonando por Helena, com quem vive em uma realidade alternativa após o fim da guerra de Tróia. Fausto e Helena têm um filho, Eufórion, que simboliza a poesia.
Diante do fracasso do plano econômico, o Imperador vê-se diante de uma guerra civil, vencida graças à ajuda de Fausto e às artimanhas do demônio.
Como recompensa, Fausto recebe uma imensa porção de terra banhada pelo mar. Ele aterra enormes porções do oceano, onde pretende construir moradias para o povo viver livre. Na sua ambição, determina a desapropriação da residência do casal de idosos Filemon e Baucis, que morrem queimados pela ação de Mefistófeles.
Já centenário e cego, Fausto enfim diz as palavras que havia pactuado com o diabo (“Oh! para enfim - és tão formoso”).
Contudo, Mefistófeles não consegue levar a alma de Fausto para o Inferno, em razão da intervenção de Margarida junto a Nossa Senhora. Fausto é salvo no final.
O livro é denso e eu necessito de mais estudo para compreendê-lo bem. A obra é repleta de referências mitológicas, históricas e religiosas que estão bem além do meu alcance.
Destaco a homenagem que Goethe faz ao mundo grego por meio de riquíssimos versos sobre a beleza inenarrável de Helena. O casamento do mundo antigo com o mundo germânico (simbolizado pela união de Fausto e Helena), porém, fracassa.
Vislumbro também uma crítica à industrialização nos versos que tratam da empreitada colonizadora de Fausto, que culmina com a morte do casal de idosos, representantes do mundo antigo.
Em minha percepção, Fausto caiu na tentação do diabo de querer ser como Deus, tanto ao seguir o homúnculo (espécie de mini homem criado por Wagner, um acadêmico) quanto ao tentar dominar a Natureza em seu projeto de colonização.
Em contrapartida, a tentação niilista do demônio de fazer o homem acreditar ser nada e levá-lo à inação, não conseguiu de forma alguma atingir Fausto. Pelo contrário: embora tenha cometido muitos erros durante sua vida, Fausto jamais deixou de agir sobre o mundo, tentando, à sua maneira, melhorá-lo.
Penso que Fausto não foi salvo no fim por méritos próprios, mas pela ajuda do eterno feminino, no caso, sua amante Margarida e a Virgem Maria. Com efeito, a misericórdia divina vai muito além da razão e compreensão humanas.