Augusto Jr. 19/10/2013
Ace of Spades!
O Clube dos Suicidas é o tipo de livro fácil de ser devorado; uma leitura viciante da primeira até à última página!
O livro nos traz três histórias: A história do rapaz com as tortinhas de creme; A história do médico e do baú de Saratoga; A aventura do cabriolé. O fato curioso é: por mais que não pareça de início, as três histórias de modo mágico acabam se interligando – algo que me surpreendeu bastante.
Na primeira história "A história do rapaz com as tortinhas de creme" conhecemos os dois personagens principais: Príncipe Florizel da Boêmia e Coronel Geraldine.
Príncipe Florizel é o tipo de sujeito simpático, honrado e dono de uma generosidade admirável, fora isso, é amante de uma vida aventureira. Já o Coronel Geraldine é o estribeiro-mor, dono de uma lealdade inigualável. Dando-nos uma imagem de como seria um verdadeiro melhor amigo.
Florizel quando entediado adora se aventurar noite a fora por Londres, mas sempre na companhia de Geraldine. Quando fazem isso, ambos adotam disfarces e nomes. O príncipe passa a se chamar T. Godall e Geraldine de Hammersmith. Em uma dessas noites de aventura os dois entram em um bar pra beber, quando de repente surge um rapaz com uma grande bandeja com tortinhas de creme oferecendo-as – insistindo, e com uma cortesia exagerada - um a um dos que estavam no bar. "Às vezes a oferta era aceita com risadas; às vezes rejeitada com firmeza, até mesmo com rispidez. Nesse caso o recém-chegado sempre comia o doce ele mesmo, com um comentário mais ou menos bem-humorado."
Quando o rapaz chegou até à mesa do príncipe, ele ofereceu suas tortinhas de um modo que fez com que Florizel ficasse fascinado em saber quem ele era e o porquê por trás disso. Um convite de jantar foi feito ao rapaz, mas foi adiado, pois o mesmo tinha que distribuir – ou comer – todas às tortinhas. Portanto, Florizel e Geraldine se uniram ao rapaz até que ele terminasse o que estava fazendo e ficasse livre pra puder jantar com eles.
No jantar, o rapaz das tortinhas conta o porquê de estar fazendo isso. "Existem inúmeras razões para eu não lhes contar minha história; talvez seja justamente essa a razão por que vou contá-la. Pelo menos, os senhores parecem tão bem preparados para ouvir uma história de tolices que não tenho coragem de decepcioná-los."
Depois de saberem o porquê, nós – leitores – somos levados ao Ponto X do livro: O Clube dos Suicidas.
Há um suspense gigantesco no ar, algo que nos prende mais ainda na leitura. Ficamos curiosos – do tipo devorador compulsivo de páginas – e um pensamento nos surge: um lugar onde pessoas se reúnem pra se suicidar? Que original!
Nesse lugar somos apresentados ao antagonista da história, O Presidente do Clube dos Suicidas, "o bandido mais corrupto de toda a Cristandade." – palavras do sr. Malthus.
Ainda no Clube, conhecemos o jogo praticado por eles: "Preste atenção no ás de espadas, que é o signo da morte, e no ás de paus, que designa o agente desta noite.”.
Depois disso, temos acontecimentos de tirar o fôlego.
– Evitando Spoilers –
A história do rapaz com as tortinhas de creme é o começo de tudo. As duas histórias a seguir dão continuidade, nos trazendo novos personagens importantes na história.
Em A história do médico e do baú de Saratoga, temos como principal Silas Scuddamore, mas não só ele, dr. Noel acaba por ser outro personagem – tão, até mais - importante. O começo da história nos leva acreditar que é uma história fechada, sobre um rapaz tímido e dono de uma curiosidade estranha, mas somos pegos de surpresa. – Robert Louis Stevenson sabe como fisgar o leitor.
O que teremos nessa história é uma conspiração: um morto, um inocente a ser culpado e uma solução.
Fiquei fascinado no dr. Noel. Vou deixar aqui algumas de suas sábias palavras:
- ❝Fale com franqueza com quem pode ajudá-lo. Acha que esta carne morta em sua cama pode mudar um grau sequer da simpatia que você sempre me inspirou? Jovem crédulo, o horror que um ato inspira perante a lei cega e injusta não se estende a quem o praticou, perante os olhos de quem o ama; se eu visse um amigo do meu coração voltar de um mar de sangue, meu afeto não diminuiria. Levante-se. O bem e o mal são uma quimera; nada existe a não ser o destino, e, sejam quais forem suas circunstâncias, a seu lado existe alguém que vai ajudá-lo até o fim.❞ – dr. Noel.
- ❝Qual a utilidade da visão e da palavra, se um homem não consegue observar e recordar as feições do inimigo? Eu, que conheço todos os bandidos da Europa, poderia identificá-lo, obtendo novas armas para a sua defesa. No futuro cultive essa arte, rapaz; ela pode lhe ser muitíssimo útil.❞ – dr. Noel.
- ❝A juventude é a época da covardia, quando os problemas sempre parecem mais negros do que são.❞ – dr. Noel.
Você vai rir quando dr. Noel achar qual a melhor finalidade para o baú de Saratoga. – das três, gostei mais dessa história.
No encontro de Silas, o autor nos doa um pouco de sua sapiência sobre o sexo oposto:
- "Quando uma mulher chega ao ponto de tomar a iniciativa, ela há muito já deixou para trás as restrições do orgulho. - A mulher adora ser obedecida no princípio, embora mais tarde tenha prazer em obedecer."
A última história, A aventura do cabriolé, teremos dois novos personagens que surgirão pra enaltecer o contexto: Tenente Rich Brackenbury e o Major O’Rooke.
– Evitando Spoilers –
A história nos traz o fim da caçada ao Presidente do Clube dos Suicidas, acontecendo às 3 horas da madrugada de quarta-feira no jardim de Rochester House - uma esplêndida mansão abandonada à margem do canal - no Regent's Park. Príncipe Florizel, Coronel Geraldine, Tenente Rich Brackenbury, Major O’Rooke e dr. Noel estarão presentes no desfecho. O que vai acontecer na mansão, e se o príncipe Florizel fará o papel de Providência Divina… Leia e saberá!
Termino com palavras do Príncipe da Boêmia:
- ❝A bala de uma pistola viaja nas asas da sorte, e muitas vezes a habilidade e a coragem levam a pior diante de um trêmulo atirador; portanto, decidi escolher as espadas, e estou certo de que aprovarão minha decisão. – Príncipe Florizel da Boêmia.❞
- ❝A existência de um homem é tão fácil de destruir e tão poderosa de ser vivida! Ai de mim, existe algo na vida tão decepcionante quanto realizar nossos desígnios? – Príncipe Florizel da Boêmia.❞
O Clube dos Suicidas nos traz uma leitura simples e viciante, fiel à magia que há nos livros de Robert Louis Stevenson. Pra quem já leu A Ilha do Tesouro e O Médico e o Monstro, O Clube dos Suicidas será uma leitura mais do que recomendada!