Mênon

Mênon Platão




Resenhas - Mênon


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Daniel 03/01/2013

"Mas como irás empreender essa investigação, Sócrates, se desconheces inteiramente o que é? Como tencionas investigar algo que desconheces cabalmente? Na hipótese de topares com ele, como saberás que se trata da coisa que desconhecias?"

Essa pergunta faz Mênon a Sócrates quando ambos não conseguem definir o que é a virtude. Antes, Mênon havia perguntado se ela poderia ser ensinada ou não, e Sócrates recusa-se a responder antes de ambos averiguarem o que é a virtude em si, qual a essência dela. Após a busca frustrada, Mênon elabora esse paradoxo extremamente cético sobre a busca de conhecimento.

A resposta de Sócrates é a da reminiscência. O conhecimento está dentro de nós mesmos, em nossa alma, nós só temos que fazer aflorar, pacientemente e com esforço, esse conhecimento; na verdade não aprendemos nada, apenas rememoramos o que já está dentro de nós. Temos essa habilidade inata, a capacidade lógica e determinadas ideias e conceitos dentro de nós mesmos que possibilitam nosso acesso ao conhecimento. Assim, temos acesso à Verdade.

Enfim, após o impasse e a perplexidade de ambos ao não conseguirem definir o que é virtude, eles voltam a analisar a questão inicial sobre se é possível ela ser ensinada, chegando à conclusão de que não pode ser ensinada e não é inata à nossa natureza, e sim é um presente arbitrário dos deuses a certas pessoas.

Voltando ao início, este é um dos melhores diálogos de Platão que mostra o método de definição de um conceito. Ao definir virtude não basta a exposição de várias virtudes, em cada pessoa ou várias espécies de virtudes, mas sim a ideia, a forma, a essência da virtude, que é compartilhada por todos e todas. O exemplo dado por Sócrates é bem didático: enxame de abelhas. Cada abelha real é diferente da outra, mas todas são abelhas. Mais tarde na história da filosofia esse conceito será chamado de universal.

Então, qual é a definição universal de virtude que todas as espécies de virtude compartilham? Eles não conseguem descobrir, mas o importante é que chegam à conclusão de que ele existe, talvez não mundo real, fático, mas no mundo ideal, além das várias manifestações de particulares imperfeitos e impermanentes. Sendo que estes particulares compartilham do universal.

Na última parte do diálogo, Sócrates e Mênon tentam descobrir se virtude é conhecimento ou não, podendo ser ensinada ou não.

Nessa parte os dois acordam em dois aspectos, facilmente assimiláveis por duas metáforas: o caminho para Larissa e as estátuas de Dédalo.

Se uma pessoa soubesse o caminho para Larissa e para lá conduzisse outras pessoas, teria feito de forma correta, mesmo sem ter conhecimento desse caminho, apenas com base em uma opinião correta desse caminho. Mas se a opinião correta e o verdadeiro conhecimento podem levar à direção correta, qual a diferença entre os dois? Daí entra a metáfora das estátuas de Dédalo.

Dédalo: as estátuas de Dédalo eram tão bem feitas e realistas que pareciam dotadas de vida, parecendo caminhar e mover os olhos. Assim, as opiniões e crenças corretas são como as estátuas de Dédalo, se você não se cuidar, não as fixando, elas saem andando por aí, fogem da nossa mente facilmente. E o modo de fixá-las é através do conhecimento, de uma explicação racional e lógica de como as coisas são.

As estátuas/opiniões corretas são aparentemente perfeitas e permanentes, mas na verdade não são conhecimento a não ser se fixadas no lugar. O diálogo sugere que o método de fixação é o método lógico e racional da rememoração através de questionamentos e deduções lógicas.

No entanto, eles concluem que a virtude não pode ser ensinada pois não existem professores nem alunos de virtude, e o diálogo termina com a promessa de mais investigação no futuro.

Ocorre que não importa a conclusão, o que Platão nos mostra é o caminho em direção à Verdade. Não só é possível ir além do relativismo moral, das opiniões e crenças prevalecentes, da maioria, da tradição que nos foi legada, em busca do universal por meio da razão, como também extremamente desejável que a gente embarque nessa busca através da filosofia.





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Mariah 20/11/2021

simiosis*
Tradução de Maura Iglésias
Manuscritos B e T.
O MENON é um diálogo de transição, que ainda não conteria o pensamento platônico da maturidade, embora já aponte nessa direção.
"MEN: (...)Também eu digo que a virtude é desejar as coisas belas e ser capaz de consegui-las."
BURNET, John. Mênon: Platão. Bibliotheca Antiqua. Rio de Janeiro. Puc-Rio, Edições Loyola. 2001.

Eu qualificaria o livro, nas suas próprias palavras como um sentido "teatral", grandilöquente.
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Jéssica 24/03/2020

Muito atual
Mênon é um jovem que procura Sócrates a fim de questiona-lo acerca da virtude. Ele espera, com isso, uma confirmação de que sua maneira de pensar está correta.

Porém Sócrates não oferece respostas, mas sim reflexões.
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Davi 28/12/2017

Leitura Indispensável
Uma obra fundante do pensamento filosófico ocidental. A Aporia do Mênon (também chamada de Paradoxo da Análise) é um problema epistemológico que revolucionou o nosso pensamento sobre a natureza do conhecimento. Sócrates colocar a questão de Mênon como um dilema acerca da investigação: é impossível haver investigação a fim de alcançar novos conhecimentos pois (i) para investigar algo você precisa saber o que está investigando, logo, já se conhece de antemão a coisa pesquisada e (ii) investigar algo que se conhece de antemão não é investigar, pois, se já se conhece, então não se investiga, justamente por já se conhecer. Se quem investiga algo ou conhece ou não conhece esse algo, essa pessoa em nenhum dos dois casos investiga, pois (i) se não conhece não pode investigar e (ii) se conhece o que se faz não é investigar.
Em resposta a essa Aporia surge a distinção de tipos de conhecimento, sendo a mais comum atualmente a divisão em conhecimento saber-fazer (know-how), conhecimento proposicional e conhecimento por contato/familiaridade (acquaintance).
A tradução de Maura Iglésias é a melhor em português, mas também possui muitos problemas.
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Juliana.Rissardi 22/12/2021

As leituras de Platão devem ser lidas com muito cuidado, nenhum diálogo socrático está colocado de forma aleatória... É um livro para se ler e reler
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sarahrodrigues579 17/01/2022

Gostei.
Iniciei por conta da faculdade e recebi orientações para a leitura. A pergunta inicial de Mênon sobre a virtude ser ensinável ou não, trás um diálogo bastante interessante, pois para se saberes se é ensinável ou não devemos saber o que a virtude. O diálogo rola ao longo do texto e os questionamentos de Sócrates são muito bons. Porém, dá uma releitura fica mais compreensível.
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DIÓGENES ARAÚJO 01/10/2013

Um tédio interessante
Diálogo interessante, mas muitas vezes entediante.
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Ana Ruppenthal 30/09/2017

A ética e a virtude
Platão, em seu legado, não chega a formar uma definição de virtude; deixa é referências com base nas suas teses sobre o mundo das idéias, a restrição dos sentidos e a imortalidade da alma. É Aristóteles, seu discípulo, quem forma um conceito: para ele, virtude é um meio termo a ser seguido entre os extremos que a vida oferece, a postura média, o comedimento.

Analisando a obra em seu aspecto histórico, verifica-se desde logo que não é o que se chega a considerar como “obra-prima” de Platão. Numa análise de estilometria, “Mênon” é uma obra que resplandece o pensamento do “Sócrates histórico”, ou seja, do Sócrates enquanto pensador apartado das idéias e da influência sobre Platão. No entanto, não se sabe o quanto do pensamento socrático é transmitido puro no diálogo.

Mas numa tomada geral, pode-se concluir, ainda que vagamente, que o conceito de virtude que Platão nos transmite através de Mênon é o de que virtude seria a busca pelas boas coisas e a capacidade de consegui-las com justiça.

Em se tendo a filosofia como um todo e mesmo a concepção moderna, poder-se-ia dizer que virtude é um princípio, uma reserva moral com relação às escolhas sociais e individuais. Deve-se ressaltar que virtude, moral e ética são coisas distintas: a virtude é a postura socialmente apreciada e esperada e individualmente valorada; a moral se relaciona à pretensão que os indivíduos têm de agir de acordo com os seus costumes (sociais, familiares, etc.), ao passo que a ética é a valoração das escolhas e da liberdade feita em prol das necessidades individuais e dos interesses coletivos. É necessário também, aqui, fazer a diferenciação entre ética em seu sentido comum e ética profissional: ética no sentido comum é o que foi anteriormente exposto, enquanto que ética profissional seria a normatização de conduta adotada por uma determinada categoria profissional.

É bom lembrar que mais tarde na história da filosofia a virtude assume um caráter político: de Maquiavel a Hobbes, em se considerando os pensadores pós-medievais e pré-modernos como um geral, a virtude deixa de ser algo relativo à honestidade, mas se torna um instrumento que define se o príncipe é bom ou mau governante.
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Cristiano 22/03/2018

Te fornece bases fundamentais da inteligência humana.
A forma como Platão trabalha a relação entre a multiplicidade das virtudes com a unidade nos objetos é muito interessante. Impossível não intuir que Platão enxergava as questões com uma forma geométrica, que são fragmentadas e largas na base, mas que vão se unificando na medida que se sobe, afastando-se das particularidades concretas. É uma leitura que cura parte da doença contemporânea que os brasileiros têm de considerarem as questões de forma plana e caótica. Pra Platão, a busca da verdade seguia uma forma muito bem cuidadosa, quase sendo possível imaginar degraus ou funis na direção das respostas..
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Ezequiel.Soares 31/05/2019

A virtude se aprende ou você já nasce com ela?
A virtude nem é algo que se ensina e aprende, nem algo que procede da natureza humana, a virtude é uma concessão divina.
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Caio Cézar 21/08/2020

Irretocável, como tudo que vem de Platão. Ou quase
Ainda que se possa discordar de algumas conclusões promovidas por Platão, as reflexões provocadas, o questionamento acerca do objeto da investigação filosófica e suas consequentes aporias (ao menos em nível superficial) são algo que o filósofo oferece de maneira magistral. Ao final da obra, somente duas coisas serão certas: a ausência de certezas e que justamente essa ausência nos torna mais qualificados para a aquisição do conhecimento.
Por fim, o livro só não merece nota 5 por razões que nada dizem respeito ao nosso caro filósofo, mas por opções da autora em não recorrer a tantas notas explicativas sobre preferências filológicas e informações adicionais que contextualizassem a obra. Nesse sentido, ver a obra "Protágoras", de Daniel R. N. Lopes.
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