Janie 18/02/2024Eu li o livro no formato digital logo não tenho como falar sobre o acabamento dele ou comparar com a anterior, mas em questão de diagramação, em especial a desse livro, o trabalho está muito bem feito. Digo isso porque a narrativa conta com muitas, muitas mesmo, frase riscadas pela forma como os pensamentos da personagem se formam.
Estilhaça-me, conta a história pelo ponto de vista de Juliette Ferrars, uma jovem com um poder destrutivo, ao ser tocada pode causar a morte dessa pessoa. Por isso Juliette foi presa em um hospício, por ter tirado a vida de uma criança, mesmo que por acidente. Depois de 264 dias de pura solidão Juliette recebe um companheiro de cela, e um antigo colega de escola, Adam Kent. Mas a vida da jovem sofre uma reviravolta ainda maior quando o líder do Setor 45, Warner, pede que Juliette se una a ele na luta contra os rebeldes.
Do lado de fora do hospício temos uma outra história acontecendo. A humanidade destruiu o planeta de forma irreversível, com isso foi necessário um novo recomeço destruindo tudo aquilo que levou a humanidade ao colapso como politica, religiões, convicções, idiomas, ideologias, individualidade. Essas escolhas foram feitas por um grupo chamado Restabelecimento. Alguns pouco se rebelaram contra eles e entraram em conflitos diretos, isso deu a Warner, o líder do Setor 45, uma ideia, uma ideia que envolvia uma menina com poderes.
O ponto forte pra mim desse livro foi a narrativa, apesar de ser na primeira pessoa, pelo ponto de vista da protagonista, por ela ter passado muito tempo isolada ela tem uma linha de pensamento meio compulsiva, repetindo muito algumas palavras ou frases, e também algumas linhas dos seus pensamentos são riscadas como alguém que pensa em algo e depois se arrepende ou se censura por ter pensado aquilo imediatamente depois de ter pensado. Nos momentos em que a personagem está focada em toda a situação em volta dela a narrativa fica dinâmica mesmo tendo todas essas repetições e riscos.
Do outro lado esse livro tem um defeito que me deixou um pouco frustrada que é o romance da protagonista. Ele é muito instantâneo. Os personagens mal se conhecem e já estão absolutamente apaixonados e vivem e respiram um pelo outro. Gente, o livro tem 300 páginas e 60% delas é a protagonista dizendo o quanto ela ama aquele rapaz. Eu cortaria umas 100 páginas de romance e adicionaria 100 páginas de ação ou de contextualização da história. Tudo que a personagem tem que descobrir fica para os últimos capítulos. Por quê? Não entendo esse vício atual de fazer com o que o primeiro livro seja tão raso para ter conteúdo para mais outros dois, três, quatro livros.
SPOILER SOBRE O DESFECHO DO LIVRO
Adam, o jovem que divide a cela com Juliette, é um dos soldado de Warner que foi enviado sob disfarce para avaliar a lucidez da personagem. Mas Adam na verdade trai Warner porque ele é apaixonado por Juliette desde? sempre. Lembram que eu disse que o romance é muito instantâneo? Pois é, Adam diz que ama Juliette desde a época da escola, porque ela era muito boa com todo mundo mesmo que a tratassem mal, mesmo depois de 500 anos sem se ver ele ainda a ama. Se fosse pelo menos ?poxa você era legal e parece ser uma boa pessoa, não merece passar por isso? e daí desenvolver para um romance, eu aceitaria.
A personagem da Juliette tem uma carência afetiva muito grande porque ela foi rejeitada pelos pais no momento em que eles descobriram os poderes dela, em nenhum momento eles lutaram por ela, tanto que quando Juliette foi presa eles nem sequer reagiram. Logo ninguém nunca demonstrou carinho para com ela, ninguém nunca foi gentil mesmo quando ela se esforçava para cumprir com as expectativas, então encontrar uma pessoa que não só seja boa com ela, que possa tocar nela, mas genuinamente a ama a deixou desnorteada. Mas assim não precisava preencher 60% do livro com isso, não é? Podíamos ter desenvolvido isso de um jeito mais saudável e realista, não é?
Felizmente nem tudo é só essa decepção, Warner além de ter uma fixação absoluta por Juliette também pode toca-la! E Juliette percebe que sente uma certa atração física por Warner no final do primeiro livro. O que gera uns sentimentos de esperança de que o próximo livro vai nos trazer um melhor desenvolvimento desse triangulo.
Há mais um personagem que quero falar um pouco aqui que é Kenji Kishimoto. Kenji é o alivio cômico e isso é obvio desde o primeiro minuto, mas me permitam dizer que ele salva esse livro, se não fosse por ele seriam 300 páginas de Adam e Juliette se agarrando e dizendo o quanto se amam. Porque esse livro é quase que só isso. Obrigada, Kenji.
Se você cair em alguma conversa solta nos grupos de livros, alguns vão dizer que "esse é o livro que parece X-men". Bom? é verdade. No final do livro Kenji leva nosso casal para um lugar chamado de Ponto Ômega, onde eles encontram diversas pessoas com super poderes, e Juliette até ganha um traje para evitar matar alguém caso a toquem por acidente.