Ju 22/01/2013Estilhaça-meA primeira coisa que me chamou a atenção nesse livro foi a capa. Sou completamente fascinada por ela. Mas eu já tinha uma impressão antes de ler o livro que agora se fortaleceu: eu acredito que essa seja a Juliette do futuro. Só não sei se ela usaria essa roupa.
Estilhaça-me é uma distopia, ou seja, trata de um mundo diferente do que conhecemos. Nele, a humanidade sofreu um colapso. O céu está estranho, não há mais plantas ou animais em abundância. Todos estão em busca de esperança para sobreviver, e é isso o que oferece um movimento chamado de Restabelecimento. Mas é claro que tudo tem um preço, e algumas de suas principais diretrizes estão no trecho a seguir.
"Os doentes devem ser trancafiados. Os velhos devem
ser descartados. Os problemáticos devem ser
abandonados em manicômios. Apenas os fortes devem
sobreviver. (...) Não falar sobre religião, crença, convicções
pessoais. As convicções pessoais foram o que quase nos
matou, era o que eles diziam. Convicções, prioridades,
preferências, preconceitos e ideologia dividiram-nos.
Iludiram-nos. Destruíram-nos. (...) Restabelecer a igualdade, restabelecer a humanidade. Restabelecer
a esperança, a cura e a felicidade."
Bem, a humanidade com certeza estava passando por um momento de desespero profundo para apoiar um movimento que impunha tais condições. Ao aceitar a ascensão do Restabelecimento, que aconteceu em todo o mundo, as pessoas passaram a ser dominadas pelo medo. Perderam sua identidade. Passaram a sobreviver, ao invés de viver.
Juliette é uma garota que sempre se sentiu um monstro. Seus pais descobriram muito cedo que não podiam tocá-la, a não ser que estivessem dispostos a sofrer para fazê-lo. E não estavam. Ela cresceu sem o carinho e sem a compreensão de nenhum ser humano.
"Às vezes penso que a solidão dentro de mim explodirá pela
pele e, às vezes, não tenho certeza se chorar ou gritar ou rir
de histeria resolverá alguma coisa. Às vezes estou tão
desesperada por tocar, por ser tocada, por sentir, que tenho
quase certeza de que vou cair de um penhasco em um
universo alternativo no qual ninguém, nunca,
será capaz de me encontrar."
Eu gostei muito da forma como a autora trabalhou as personagens. Realmente me envolvi com a Juliette. Consegui entender o que ela sentia, e isso para mim é essencial.
Tem uma personagem realmente detestável nessa história: o Warner. Fiquei o tempo todo tentando descobrir porque algumas pessoas viraram fãs dele. Não descobri. Não achei nada de bom no infeliz.
Muita gente não gostou de uma coisa muito presente no livro: a repetição de palavras. Mas não me incomodei nem um pouco com isso. Acredito que foi um recurso bem empregado e, à medida em que a história se desenvolve e a Juliette se torna mais forte e menos confusa, elas diminuem.
Existem também duas situações em que algumas palavras ou frases estão riscadas. A primeira situação é quando a Juliette pensa alguma coisa que ela não considera que possa se permitir. A segunda é exatamente no caso das repetições, e me parece que essa situação tem uma relação com a primeira. É quando ela tenta reprimir o pensamento, mas sem sucesso. Além de não me incomodar, achei genial. Claro que é apenas a minha percepção.
Eu me encantei completamente pelo livro. Ele é o primeiro de uma trilogia, e quero MUITO ler o restante o mais breve possível. Espero que não demore demais para os outros dois serem lançados por aqui.
Resenha originalmente publicada em: http://entrepalcoselivros.blogspot.com.br/2012/07/resenha-estilhaca-me.html