Katia 20/12/2020
Uma menina perdida em sentimentos
Mathilda tinha uma vida tranquila ate? perder sua irma? mais velha de forma brutal e ver sua fami?lia se desestruturar. Cada um sente a dor do luto de forma muito particular, mas com a ma?e que se volta para o alcoolismo e depressa?o e o pai que tenta fingir que nada aconteceu, ela se ve? em um limbo de tristeza, pa?nico, solida?o, rebeldia?
Usando de todos os meios pra ser notada e para que a fami?lia reaja, a menina usa me?todos nada ortodoxos, por vezes maldosos, para provocar uma interac?a?o, ainda que negativa, com a fami?lia.
Em meio a ataques terroristas acontecendo pelo mundo, a complicada fase da adolesce?ncia, a descoberta da sexualidade, a solida?o dentro de casa, Mathilda tenta ainda entender o que aconteceu com a irma?, Helene, que culminou com a sua morte.
Com a histo?ria narrada em primeira pessoa pela menina, a vemos inteira em sua maldade, pensamentos preconceituosos, medos exagerados e ataques de pa?nico. Mas Mathilda na?o e? ruim, ela so? esta? solta. O autor mostra de forma crua e sincera os sentimentos conflituosos e ambi?guos de uma menina com seus 13/14 anos tentando se encontrar, onde luta por carinho e atenc?a?o da ma?e e instantes depois, deseja que ela morra; belisca o cachorro, mas se preocupa mesmo quando ele fica doente?
"Quero ser horri?vel. Quero fazer coisas horri?veis, por que na?o?"
A sinceridade da protagonista e? fascinante e me fez ver o quanto somos vulnera?reis em nossas questo?es mais secretas, aquelas que na?o externamos por medo do julgamento alheio, por afrontar o chamado politicamente correto.
A trama da morte da irma? de Mathilda se intensifica no final do livro. Corajosa que e?, a menina vai descobrir o porque? desse acontecimento, uma verdade que a machuca, mas que a fez amadurecer e ter uma postura diferente em relac?a?o ao pro?ximo, pela primeira vez na histo?ria, ela na?o pensa somente em si mesma.
E no fundo e? isso? mesmo em meio ao caos, incertezas, dores, paixo?es, descobertas, culpa, medo, perdas? o que voce? pode fazer para tornar o mundo do outro, e tambe?m o seu, um pouquinho melhor?
Mathilda tem salvac?a?o, ela vai ficar bem. Mas acredito que nem todo mundo va? compreende?-la?
Quotes:
"Esse e? o tipo de coisa sobre a qual devi?amos estar sentados a? mesa conversando. Contando histo?rias sobre Helene, dos melhores dias de que pude?ssemos nos lembrar. Isso e? tido como um dos modos de as pessoas normais viverem o luto."
"Na?o se pode matar algo que ja? esta morto. Como o passado. Na?o se pode desacontecer o que ja? aconteceu. So? temos de viver com isso, quer se trate de uma coisa que fizemos, quer seja algo que fizeram conosco."
"Vejo que papai esta? sofrendo e que a dor dele e? diferente da minha. Da? para sentir um oceano entre no?s, com a a?gua escura e muito gelada. Sera? que algue?m disse que o luto e? uma ilha? Se na?o o disseram, digo eu. E? minha invenc?a?o. Um dia voce? podera? consulta?-la no livro de citac?o?es cita?veis.
O luto e? uma ilha. - Mathilda Savitch"
"Ha? muito pouca imaginac?a?o no mundo. Uma pessoa como eu fica basicamente sozinha. Se eu quiser viver no mesmo mundo que as outras pessoas, tenho de fazer um esforc?o especial."