Amor insensato

Amor insensato Junichiro Tanizaki




Resenhas - Amor insensato


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jota 10/09/2011

A ninfeta e o engenheiro
Escrito em 1924, Amor Insensato antecipa a temática do homem mais velho apaixonado - ou usado - por uma adolescente. Acompanhamos a relação entre Naomi, de 15 anos, uma ninfeta pobre e sem estudo, e Joji, engenheiro, "rapaz ajuizado" de 28 anos. E isso, desde o início, é bastante prazeroso. Sem contar, que o prefácio (para explicar um pouco o momento em que o Japão atravessava então, do início da ocidentalização de sua sociedade) é de ninguém menos que Alberto Moravia, autor da obra-prima 1934.

Na Tóquio dos anos de 1920, o engenheiro Joji leva para casa, para futuramente com ela contrair núpcias, a adolescente Naomi, uma bela garota de quem a família quer se ver livre. A intenção de Joji é fazer com que Naomi estude e aprenda boas maneiras para que se transforme numa "mulher distinta" - sua mulher. Embora o enredo lembre algo de Pigmalião, de George Bernard Shaw - o professor Higgins educando Eliza Doolittle -, na verdade essa história tem mais a ver com a Lolita de Vladimir Nabokov, a ninfeta Dolores cheia de vontades e caprichos - e que veio a público somente em 1955, portanto três decadas após o livro de Junichiro Tanizaki.

Mas o tempo vai passando (e aí já foram uns cem páginas do livro) e Naomi, embora continue bela, quanto aos modos em nada se parece com a distinta mulher que Joji imaginava ter em casa um dia – ela está cada dia se ocidentalizando mais, exige dele aprender piano, inglês e dança moderna (frequentar bailes, dançar a dois, etc.). Mais que isso: aos poucos, com suas compras exageradas e sua preguiça, vai levando o engenheiro à falência financeira. Mesmo assim ele continua fazendo tudo por ela: não conseguiria viver sem as "brincadeiras" que os dois aprontam na cama à noite - ele confessa a certa altura.

Amor Insensato tem capítulos curtos, parágrafos pequenos, diálogos rápidos, descomplicados e narrativa fluida. Mas acima de tudo conta uma história interessante, que prende a atenção sempre: queremos saber o que vai acontecer com o casal Joji & Naomi. De volta, então: Naomi, além de ter se tornado uma pessoa um tanto diferente daquela que Joji esperava - é desleixada, preguiçosa, vaidosa e cheia de vontades -, agora lhe inspira suspeitas. Arranjou quatro rapazes como amigos e com eles dança, bebe e passeia, muitas vezes desacompanhada de Joji. Ele começa a ficar desconfiado da fidelidade da garota. E também de que ela tenha perdido a castidade com algum desses rapazes. Mas são apenas suspeitas ainda...

Suspeitas que um dia acabam sendo confirmadas a Joji por um dos rapazes. Que ela também traía com outro... Não vou contar como o livro termina; ele termina bem diferente da história de Nabokov, por exemplo. Antes do final, recolhi algumas metáforas produzidas por Joji, quando ele descobre que sua amada deixara de ser pura e imaculada:

"Naomi era para mim como uma fruta de meu próprio cultivo. Eu empenhava esforços de todo tipo e profunda dedicação até levar aquela fruta a seu maravilhoso amadurecimento atual. Saboreá-la era a recompensa natural para mim, seu cultivador, e a mais ninguém deveria ser outorgado semelhante direito. E eis que de repente um completo estranho a descasca e nela crava os dentes." Maldita Naomi...

Ótimo livro.
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Henrique Fendrich 16/07/2020minha estante
Issaê, resenhas breves.




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Mario Miranda 30/04/2020

Amor Insensato cumpre exatamente o que o título propõe: dissecar um amor insensato de um homem de 28 anos que apaixona-se por uma garçonete de 15 anos. O que inicialmente se propõe a ser um amor pueril, inocente, de um homem que busca moldar uma jovem com uma condição sócio-economômica pior do que a sua, tornando-a uma mulher refinada.

Joji assume o papel de sustentar esta jovem, tomando a responsabilidade pela sua formação para si. Entretanto, Naomi a medida que cresce e se desenvolve, rompe com valores ético-morais, tornando-se uma mulher promíscua, interesseira, incapaz de manter-se próxima a outro homem sem que seja para obter algo em benefício próprio.

A narrativa, que passa por um período de 05 anos, mostra a ascensão deste relacionamento até a decadência da narrativa e de Joji, que aceita a insensatez como forma de manter o seu relacionamento ainda efetivo.

A primeira obra que vem a mente é o clássico "Lolita", de Nabokov (1955). Tendo sido escrito em 1924, Tanizaki antecipa em mais de 30 anos a discussão sobre um relacionamento pedófilo. Ao contrário da obra russa, Amor Insensato não tem a intensidade sensual/sexual presente naquela obra, tampouco a violência de um Humbert - Talvez uma justificativa do porquê ser menos lembrada como uma obra polêmica que a obra de Nabokov -, mas centra-se muito mais no sentimento do Amor em si, na degradação do homem e nos atos não sexuais de demonstração de afeto - Banhos, brincadeiras, carinhos -.

Outra obra que aborda o tema é o clássico "O Amante", de Marguerite Duras (1984). Obra autobiográfica, narra a aventura sexual de uma jovem com um homem rico expressivamente mais velho. Se em Nabokov temos a ótica do Homem, em Duras o centro está na mulher em si. Ao contrário da jovem Lolita aliciada por um Humbert, em Duras a mulher é absolutamente indiferente à aventura sexual, sendo apenas um símbolo da sua liberdade. Talvez aqui tenhamos uma obra mais próxima da de Tanizaki: ao contrário de Lolita, e similar a "O Amante", Naomi não sofre a coação sexual, mas sim acaba aproveitando-se do seu corpo, e do amor de Joji, para extrair um benefício para si.
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Joao Felipe 22/04/2017

Naomi
"Você prefere um relacionamento escrupuloso ou experimentar o tormento de ser seduzido ?."
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raposisses 16/07/2016

Um estudo sobre a ocidentalização do Japão
Esse livro ganha muitas comparações com Lolita, por razões óbvias - o sumário até diz que "traz a marca de um dos mitos literários mais fortes da literatura contemporânea: o da ninfeta que aniquila a vida de um homem comum" (algo totalmente irreal porque, primeiramente, nem Dolores nem Naomi são as culpadas de se tornarem as obsessões de homens pedófilos bizarros). Mas apesar dos protagonistas fetichistas e narradores não confiáveis em comum, é aí que as similaridades entre os dois livros acabam. Amor Insensato é, na verdade, um livro que estuda as consequências da ocidentalização do Japão pós-Primeira Guerra, usando Naomi e Joji como alegorias para os Estados Unidos e Japão, respectivamente. É um livro muito interessante, e super recomendado para leitores interessados em literatura japonesa.

site: raposisses.wordpress.com
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chantili 27/01/2009

A Naomi é praticamente a Lolita oriental!
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Ricardo Rocha 25/07/2011

Ocidentalização, desejo e loucura
Dramática e patética, envolvida em grande parte por sua própria culpa e lascívia, a vida do bem-comportado homem carrega um fardo comum aos que se deixam levar pelo desejo sem domínio; a menina, já mulher, antes de qualquer coisa se defende da sujeição a que a sociedade oriental a estaria condenando. A ocidentalização está ali à mão para isso mesmo e restará ao Oriente, e particularmente o Japão, talvez representado tanto em Joji quanto em Naomi, resistir ou não. Ela resiste – e como – e a um só tempo “prostituta imunda” e “deusa venerada” não deixa pedra sobre pedra na ruína que, extasiado ainda, o homem (que a essa altura já foi reduzido a alguma outra coisa) amarga – ou com ela, ridiculamente, se delicia.

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Lisa 26/11/2014

A Lolita oriental
Apesar da sinopse do livro remeter à Lolita de Nobokov, obviamente que existem as diferenças. Joji não tem pressa de se casar, e escolhe Naomi porque ela lhe parece ser uma pedra bruta, pronta para ser lapidada a se tornar a esposa ideal. O que importa para Joji é a aparência, o que os outros vão pensar. Isso permeia todo o livro. A maneira como se arrumam, as coisas que ostentam, até a comida e os restaurantes que frequentam.

E Naomi, bem, Naomi não é tão inocente quanto supomos. Muito mais esperta do que o Joji, que acha que controla a relação, ela o manipula e manipula também os outros homens ao seu redor.

A repulsa por tudo o que é tradicional e oriental e a idolatria pelo que é moderno e ocidental também aparecem com frequência no livro. Dando um ótimo panorama das mudanças de valores orientais na época em que se passa a história.

Não é um excelente livro, mas uma boa leitura.
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Cristiano.Vituri 19/11/2020

A insensatez, que você fez...
Sei que todo mundo quer um pedacin'; é que a menina faz gostosin'. - Desculpem esse paralelo impensavel entre uma musica pop da Luiza Sonza e o clássico Amor Insensato escrito em 1924 por Tanizaki.
A coisa é tão atual que dificilmente no nosso convivio social, não conhecemos uma Naomi e um Joiji hoje em dia. O autor traz a tona um relacionamento amoroso platônico, contando minúcias e sensações que nem os melhores entendedores da psique humana conseguiriam expressar em palavras.

Além de pontuar historicamente o ambiente vivido pelo Japão e pelos japoneses em relação ao mundo ocidental. A história prende a atenção porque o desenrolar da trama é sempre inacreditavel, e ainda assim, conseguimos compreender os motivos de Joiji perdoar Naomi-san. ( nossa BRABA).




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Marcos606 24/03/2023

Examinando a profunda obsessão dos japoneses pelas coisas ocidentais do pós-guerra, o romance nos mostra a trágica e patética história de um homem encantado por uma mulher chamada Naomi, principalmente por seu nome e "aparência" inusitados e ocidentais, embora ela seja japonesa. Ele acha que isso o torna refinado e, vai até as últimas consequências para assumir a obrigação de educá-la em música e inglês para torná-la uma esposa ideal.
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itadorisadic 12/06/2023

Junichiro continua sendo um ótimo autor na minha opinião
Três estrelas porque está bem escrito, só não gostei. Não tenho dúvidas de que Junichiro Tanizaki é um autor brilhante, só não gostei da história do livro em si. Os dois personagens principais são pessoas horríveis em uma situação cada vez mais estranha e honestamente grosseira e abusiva (de ambos os lados), mas o que me fez continuar foi saber que o autor fez tudo intencionalmente, já que está claro que ele buscava um olhar para a globalização que estava acontecendo na época, principalmente as mudanças no Japão na década de 20. Acho que você não deveria gostar dessa história. É crítica, sátira e franqueza destinada a deixá-lo desconfortável. A história é, novamente, muito bem escrita e pensativa, apenas falo com base no meu próprio gosto pessoal e não gostei nada do que foi escrito. E eu acho que está tudo bem.
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