Maria Gabriela 20/09/2022
Marasmo literário
O (infeliz) ápice do marasmo literário. “Leituras de escritor” é uma coletânea dos contos mais famosos de diversos autores renomados, entretanto, sua promessa de trazer ao leitor as melhores histórias não se concretiza por completo. Alguns contos apresentam pontos extremamente positivos: a narrativa é envolvente e sabe como conduzir a atenção do leitor para os pontos mais importantes da história; suas personagens são caricatas e únicas, chamativas em certo ponto, mas que desempenham seus papéis com maestria e bom desenvolvimento; os cenários diversos são bem explorados e os autores sabem dar a importância devida quando há elementos neles que precisam de atenção; as situações são mundanas e simples, mas parecem ser extraordinárias quando escritas de forma correta; as críticas sociais e políticas que muitos apresentam são muito bem desenvolvidas, não são colocadas de forma superficiais ou descartadas no meio para focar em outro ponto.
O mesmo não se encaixa em outros contos, que apresentam tantos pontos negativos: algumas narrativas são completamente tediosas e paradas, não apresentando mudanças ou reviravoltas, não trazendo o encanto da modernidade ou da antiguidade de forma simples, além de procurarem ostentar palavras complicadas e sentenças sem conexão do que algo fluido; as personagens são patéticas, nenhum um pouco carismáticas ou que cativam o leitor e o faça sentir compaixão por elas; as situações apresentadas são ridículas, e não falo isso quando decidem apresentar uma hipótese fantasiosa e completamente irracional. É quase um desperdício de enredo alguns autores preocuparam-se em focar tanto no “não natural” e deixar os demais fatores apresentados na história de lado. As críticas sociais e políticas são muito, mas muito ruins também, pois começam de um jeito e terminam de um modo que não há conexão nenhuma! Inicia-se com um “o racismo é errado”, desenvolve uma trama desconexa e desnecessária sobre o assunto, e termina com um “e é por isso que não se deve paquerar a mulher do vizinho”.
Algumas narrativas são boas, outras não. Algumas personagens são maravilhosas, e outras são descartáveis e inúteis. Alguns cenários ganham os devidos destaques, e outros servem apenas como um lembrete de que a história não se passa em um espaço branco. Algumas críticas são muito bem desenvolvidas e apresentadas, mostrando ao leitor o quanto a sociedade precisa evoluir, e outras começam com uma ideia e terminam de forma abrupta e sem explicação nenhuma, não fazendo relação com a ideia principal. Os autores selecionados para compor essa coletânea viveram em países e épocas diferentes, obviamente, mas alguns souberam isso a favor para compor um conto extremamente envolvente, enquanto outros… esqueceram completamente da ideia principal no meio do caminho.
É uma obra que se resume em “não é boa, mas também não é ruim”. Ela é uma leitura que se mantém no mais ou menos. Há pontos positivos, há pontos negativos; há autores muito bons, há autores medianos; as histórias ou são muito boas ou são muito chatas. É um livro que, infelizmente, na hora da seleção dos ditos contos não soube se manter no nível que propôs. Alguns contos não valem a pena serem retratados como Os contos e tenho certeza que deveria haver outros que seriam mil vezes melhores. O leitor que decidir se aventurar nesse livro deve ter em mente que essa coletânea vai de zero a cem na qualidade muito rápido.