Karamaru 23/02/2019
CRIMES DE UM SÉCULO ESCUSO
Talvez não seja equivocado celebrar Alberto Mussa como um dos mais criativos autores nacionais contemporâneos. "O trono da rainha Jinga", livro que compõe o que autor denominou "Compêndio mítico do Rio de Janeiro" - um conjunto de cinco obras que retratam crimes ocorridos em solo carioca em diferentes séculos - comprova sua habilidade com a linguagem.
A história desse livro se passa no século XVII (época pouco explorada pelas letras tupiniquins, diga-se de passagem). Cinco crimes, supostamente engendrados por uma irmandade secreta de escravos, cognominada de "Heresia de Judas", é o que move a trama.
Para elucidar os fatos, Unhão Dinis, um juiz "por provimento régio", junto com o armador e baleeiro, Mendo Antunes, irá ao encalço de pistas para solucionar o complexo quebra-cabeça dos delitos.
Se há uma dica que posso dar aos que irão se aventuras por tais páginas é: leiam esse livro o menos espaçadamente possível; é um livro polifônico, detalhista; os narradores nem sempre são facilmente identificáveis (inclusive, o registro das falas parece mudar pouco, o que achei um ponto a desfavor), e muitos fios, do primeiro capítulo sobretudo, se conectam a fios de capítulos finais.
A rainha Jinga aparece na trama em capítulos intercalados; de início, nada é muito claro e definido sobre a misteriosa monarca africana, mas o final surpreende bem, pelo menos nesse aspecto. Os capítulos de que mais gostei foram esses; há neles um humor picaresco, e Jinga, sem dúvidas, é a melhor personagem do livro.
Confesso que dei uma desanimada ali pelo meio do livro; o exercício de recuperação de memória e elucidação me cansou bem apesar do livro ser curto. A linguagem é muito bem urdida, sem dúvidas, mas, por vezes, achei que beirou a afetação e, em consequência, o enfado.
Não há dúvidas também de que Mussa empreendeu uma dedicada pesquisa histórica. E, no tocante a isso, é o que livro mais me chamou atenção. Apesar da intenção do autor em deixar claro, na nota prévia e no posfácio, de que não se trata de um "romance histórico", e sim de uma "novela policial", surpreendentemente, para mim, funcionaria mais como o primeiro, e ficaria devendo na segunda!
De todo modo, quero conhecer mais o autor.