Vê 26/07/2012Desde a escola, eu não era muito fã de história nacional. Eu adorava, claro, saber mais sobre a história de outros países, mas sempre torcia o nariz para a nossa história. Por outro lado, sempre gostei do nosso folclore, histórias sobre Saci, Mula Sem Cabeça, Iara, Curupira... tinha livros infantis e, até hoje, tenho um chamado "Um Saci no Meu Quintal", que reúne diferentes estórias sobre esses seres tão conhecidos pelo povo brasileiro.
Unindo essas duas características, Danação retrata o Brasil colônia de tal forma que foi impossível não ficar fascinada. As descrições são riquíssimas e muito precisas e me transportaram até os cenários de seus 57 capítulos. Além desses detalhes, a escolha de enredo também foi inesperada e muito bem trabalhada. Uma peça do folclore brasileiro assombrará a comarca de Taubaté, da capitania de Itanhaém, levando todos os seus moradores a questionar a eficiência da guarda e de seus vereadores.
Paralelo a isso, acompanhamos a viagem de Dom Diogo Durão de Meneses e seus dois escravos, João e Inácio, pelas capitanias e os caminhos sinuosos enfrentados há quatro anos. Fugindo de um terrível passado e tendo seus passos acompanhados de perto por ninguém menos que o Diabo, Diogo há muito deseja a própria morte, algo não muito fácil de obter.
Enquanto nas manhãs de sexta-feira, corpos são descobertos carbonizados nos arredores de Taubaté, a população recorre à Igreja e às palavras do vigário para procurar algum tipo de consolo acerca do que ameaça a todos, sem distinção de raça, classe social, sexo ou idade. A principal suspeita é da ação de índios que ainda ocupam alguns trechos da terra já colonizada e, com exceção daqueles já catequizados, ainda resistem ao domínio dos homens brancos e da imposição da religião católica sobre suas crenças.
Somos guiados pelo dia a dia de uma civilização que está apenas começando em terras novas, o regime escravista ainda é forte e os engenhos de açúcar acabaram de perder sua prosperidade. As condições de higiene, precárias, e as moradas sem nenhuma infraestrutura assusta no começo, mas depois somos capazes de imaginar e pensar no quanto a vida era difícil naqueles tempos, sem tantos avanços com os quais vivemos hoje em dia.
Uma verdadeira aula de história, com a diferença de ser muito mais interessante e emocionante do que aquelas que tive na escola e, claro, adquirindo um tom sobrenatural que eu adoro! Desde o princípio, sabemos que Diogo possui uma maldição, mas ele não é o único a sofrer com a própria danação. Conforme ele for se aproximando de seu destino final, Taubaté, vamos descobrindo quem poderá estar à sua altura, ou até pior, para um confronto entre homens malditos.
Testemunhamos a ignorância de um povo, precariamente letrado através de ensinamentos filtrados pela Igreja, vivendo em terras desconhecidas, tentando sobreviver perante as rígidas regras da Coroa que, determinando impostos, pouco resta aos próprios moradores. Na época, o ouro e as pedras preciosas estavam alcançando seu auge em exploração e muitos escravos ajudavam na renda de seus patrões, como escravos de ganho. Alguns conseguiam alforria, outros estavam fugindo para os quilombos.
Embora poucos índios restassem, qualquer tipo de maldição lhes era atribuída e os confrontos, cada vez mais sangrentos. As milícias contra o Rei também surgiam, reunindo-se secretamente; algumas, inclusive, formadas por jovens letrados no exterior que retornavam à colônia, para o seio de suas famílias.
A história de diversos personagens se ligam e em uma bem entremeada história, onde se percebe que o autor fez sua lição de casa, a leitura destaca-se e garante os olhares atentos do leitor até sua última página.
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