Nandsland 16/10/2023
Esse livro estava há muitos anos na minha lista geral de leitura, lembro de ver muita gente falando dele quando eu ainda estava na escola, ainda possuía o antigo título e não lembro se foi falando bem ou mal, mas finalmente li.
Acaba que, infelizmente, se tornou uma leitura muito mais relevante aqui no Brasil do que na época em que foi lançado, pois trata de tiroteios em escolas partindo de próprios alunos, que é algo que vem acontecendo muito no país nos últimos anos e que era, muito limitado aos EUA.
Bem, o livro traz a história de um personagem que sobreviveu a um massacre na sua escola em que alguns alunos bem populares e conhecidos morreram, e que ela foi considerada suspeita pela polícia por um tempo, pois ela era namorada do atirador. Então, levanta-se a questão de: como ela poderia não saber se ela namorava com ele há x tempo? E o que torna a relação das suspeitas para cima dela bem divididas, é que ela tem um papel muito forte de concluir esse atentado, pois ela impede o namorado que morre e acaba levando um tiro na perna que a deixa com sequelas.
Os leitores então acompanham a desconstrução da visão que a personagem tinha para com esse namorado, ao mesmo tempo em que lida com sua relação com sua família, como seus pais e seu irmão se portam com ela agora, com seus sentimentos sobre si mesma depois disso e como ela lida ao ter de retornar para a mesma escola para concluir o ensino médio e como os outros sobreviventes reagem a ela e ao retorno de uma "normalidade".
Já li outro livro da Jennifer Brown antes, As Mil Palavras, e acho que a autora foca muito em livros com problemáticas bem atuais até para aumentar a discussão sobre, o que torna a leitura e a discussão sempre relevante.
Acho que o que fica para mim em A Lista do ódio, a questão da responsabilidade mesmo, que é diferente de culpa, a protagonista Valerie, realmente podia ter entendido a direção que o comportamento do namorado estava tomando, mas ela estava passando por umas questões pessoais que a levou a criar uma narrativa muito específica para com o namorado dela, de maneira que mesmo que ele falasse, tivesse um sentido ambíguo, ela compreendia com o significado que correspondia a narrativa dela. Então, a personagem tem uma parcela de responsabilidade mas que ela aos poucos tem que resolver isso consigo mesma, pois ela sobreviveu e agora precisa seguir em frente.
Gostei bastante de a autora traz já no fim, uma pessoa que não foi culpabilizada pelo público, mas entendeu para onde aquilo estava se encaminhando e acabou por não dizer nada a ninguém e como essa pessoa resolve isso também consigo mesma. Então, não é como se ninguém soubesse, mesmo não sendo a pessoa mais próxima como a Valerie, existe sim a possibilidade de alguém sacar e poder avisar a alguém com antecedência.
Um último ponto, que acho que é muito forte no livro é a multiplicidade de papeis que as pessoas tem na vida de outras pessoas. Então, um mocinho super querido e popular pela comunidade, fazia bullying com fulano. Como a Valerie era heroína para alguns e se tornou uma vilã, ou vice versa. Como o aluno atirador que matou x pessoas foi uma pessoa muito importante para a Valerie e por aí vai. Ninguém é uma coisa só, um papel fixo e isso é muito humano.