A Rota Antiga dos Homens Perversos

A Rota Antiga dos Homens Perversos René Girard




Resenhas - A Rota Antiga dos Homens Perversos


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Carolina 12/02/2024

Para entender a mentalidade e a cultura dos homens antigos
O impacto que este livro causa é surpreendente.

Depois de fazer uma leitura frustrante do livro de Jó (da qual saí com a sensação de que nada fazia sentido), parti para esta obra do Girard, que desde as primeiras páginas já foi esclarecendo questões problemáticas que haviam me deixado muito confusa.

Dentre os diversos pontos abordados, apontarei os seguintes:

1. O sentido do livro de Jó encontra-se nos DIÁLOGOS, que devem ser interpretados separadamente. O conteúdo do Prólogo e do Epílogo termina por dificultar (impossibilitar mesmo) a interpretação.

2. Os Diálogos mostram DOIS pontos de vista: o dos perseguidores (chamados ?amigos?) e o da vítima (Jó). O autor indica que dar voz à vítima, nesse tipo de obra, é algo sem precedentes.

3. Girard explica todo o contexto no qual Jó está inserido, comparando a situação dele a de outros personagens da literatura antiga, que tal como Jó, também são vitimados pelo mecanismo do bode expiatório.

O desenvolvimento do raciocínio do autor vai dissecando a mentalidade desses homens antigos e a cultura da qual Jó faz parte, dando cada vez mais sentido ao livro bíblico.

4. As falas de Jó demonstram um momento de mudança da compreensão de Deus, que se transfere do entendimento de um deus que permanece ao lado dos perseguidores (ao perseguir e punir), para um Deus das vítimas (que as defende e toma seu lugar) - Jesus.

A partir da perspectiva do Girard, eu pude finalmente enxergar a beleza incomensurável desse livro.
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Aline330 22/07/2023

Bem, o autor aqui traz uma visão muito diferente do livro de Jó. Para ele, os discursos dos "amigos" não tratavam diretamente do problema do mal, mas sim de uma justificação do que aconteceria com Jó, o chamado "bode expiatório". É uma teoria bastante complexa, mas que acaba dando crédito à ideia de que o cristianismo meio que pôs um fim em várias barbáries humanas anteriores, incluindo essa do totalitarismo que escolhia sempre uma vítima inocente em sacrifício da comunidade (presente em vários outros mitos, inclusive).
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samucacn 01/12/2022

A Bíblia narra a curiosa história de Jó, que perdeu tudo, é rejeitado pelos seus, abandonado por Deus, e se lamenta por sua desgraça. Ela apresenta também os diálogos entre Jó e aqueles que se dizem seus amigos. A tradição concede pouca atenção a esses diálogos, não obstante revelam a verdadeira dimensão social de Jó: o bode expiatório de sua comunidade. Como Édipo, ele deve seguir "a rota antiga dos homens perversos", que conduz à morte sacrificial. Recusando-se a entrar no jogo de seus algozes, Jó desvela o funcionamento vitimário dos perversos primitivos. Mas as discussões que se estabelecem entre Jó e seus amigos lembram particularmente as caricaturas de processos aos quais se entregam, à nossa vista, os regimes totalitários: mesmas acusações de perversão, mesma necessidade de confissões da vítima, mesmo desprezo pela verdade. Nesse sentido, o antigo livro de Jó permite a René Girard analisar com clareza e precisão o fenômeno totalitário que tenta ressuscitar um religioso violento e primitivo. Tentativa essa tanto mais assustadora do que mentirosa, já que todos sabemos, há dois mil anos, que as vítimas são inocentes.
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Marc 01/07/2021

O pensamento de René Girard é um dos mais interessantes que conheci em minhas leituras. Tenho profunda admiração por seus livros, por suas palestras e entrevistas, mas, sobretudo, pela coragem de abordar o cristianismo e fornecer uma explicação o comparando com outras religiões. Numa pequena nota pessoal, posso afirmar que houve uma confluência de fatores que me levaram à conversão ao cristianismo, mas que seu pensamento foi, provavelmente, a mais importante delas. Girard consegue traduzir para a ciência aquilo que era visto como uma bobagem sentimental pelos acadêmicos e completamente contrário à razão e à ciência. Seu pensamento tem ressonâncias em diversas áreas importantes, como na arqueologia, por exemplo, ao conseguir explicar fenômenos já existentes em períodos remotos, mas que sobrevivem, de alguma forma, entre nós.

Gostaria de fazer um resumo mais competente sobre esse pequeno livro, mas não consigo ser tão detalhista e acompanhar o raciocínio geral, ao mesmo tempo. Mesmo assim, procuro mencionar pontos importantes de seu argumento, sempre tendo em vista a lógica mais ampla e como eles completam o livro. Por esse motivo, o texto ficou mais truncado do que eu gostaria, porque cada parágrafo é uma espécie de resumo de algum argumento no livro. A verdade é que o pensamento de Girard é surpreendente, porque começa como uma constatação meio banal, até aparentemente anticientífica (afinal, todos falam de inveja, mas quem leva à sério esse tipo de coisa?) e termina abrindo enormes possibilidades de pesquisa e entendimento. Sempre bom citar a frase de Michel Serres a respeito de Girard: que ele foi o Darwin das ciências humanas. Não vou comentar sobre essa definição, mas o que ela faz pensar de início é que além de uma explicação, Girard cria também um modo de olhar, um método. Isso não é pouca coisa.

Girard lida com a questão da violência em seus livros. Ela se origina, na maior parte das vezes, do que ele definiu como rivalidade mimética, que é o nome científico para a inveja, ou seja, quando surge um sentimento de competição e necessidade de superação do rival. Assim, sem alarde, Girard coloca que a violência é sim um desejo, essa palavra com tanto significado depois que Freud a estudou. O desejo tem necessidade de um obstáculo e detesta a liberdade, porque ele é mimese. Eis o que a psicologia deixa escapar e tem consequências muito amplas, impossíveis de abordar aqui. Mas o que Girard pretende dizer é que nos espelhamos nos outros e desejamos aquilo que eles desejam, configurando, assim, um cenário de competição, de rivalidade. Se esse modelo deixa de existir, o objeto desejado parece minguar e o abandonamos. Quem já não lutou por uma pessoa, competiu com outra por um relacionamento e depois, quando conseguiu afastar o outro pretendente, sentiu seu desejo desaparecer? É como se a pessoa perdesse seus encantos repentinamente, ou se tivéssemos acordado de um longo encantamento e estivéssemos vendo uma pessoa com poucos atrativos.

Mas o que Girard está pensando aqui é sobre a origem da violência sobre as vítimas inocentes, os bodes expiatórios. Pessoas que estão numa posição de admiração pelos mais próximos e pela comunidade em geral e que caem em desgraça, sendo perseguidas e até assassinadas, dependendo do caso. Fácil entender como o desejo funciona: a admiração e fascinação se transforma em ódio, que pode se camuflar por um longo tempo, até que se encontre meios de extravasá-lo e atacar aquele que se admirava anteriormente.

A violência é uma positividade. O que significa que ela é fundante de religiões e, por consequência, de culturas. Depois que o processo de violência e perseguição sobre um indivíduo termina, geralmente em morte, a sociedade se pacifica, pois aquele que era a origem do mal foi banido para sempre. Mas, devido à força do ato, sua grandiosidade, a comunidade tende a rever o momento e um culto vai se formando. Um rito é constituído e logo aparece um substituto para a primeira vítima (a que trouxe paz e união à sociedade com seu sacrifício), nesse caso um órfão ou qualquer outra categoria de pessoas escolhidas. Girard mostra que o órfão é perfeito porque não tem parentes que chorem sua morte, não tem apego de familiares e pode ser livremente apropriado pela comunidade na manutenção da lembrança da primeira vítima.

Nesse ponto, alguém poderia dizer que mesmo querendo mostrar o contrário, Girard acaba confirmando a tese de que a religião é uma forma de sacrifício ritual, que mascara a violência de sua origem através de uma postura de resignação e crítica à sociedade livre, dos homens que tentam viver segundo seus preceitos (Nietzsche ecoa) tese tão difundida nas ciências humanas e que ajudar a dar base para o ateísmo e o ódio da religião que caracteriza seus praticantes. Mas há uma ressalva importantíssima aqui. Essa descrição encaixa perfeitamente nas religiões antigas e de sociedades não ocidentais, o cristianismo é a única religião que lida com essa questão de frente e se posiciona abertamente, mostrando não apenas a violência como o que a origina e como romper com essa cadeia de sacrifício de inocentes.

O livro de Jó, na leitura de Girard, apresenta pela primeira vez o mecanismo vitimário em toda a sua amplitude. Essa explanação vai encontrar seu arremate nos Evangelhos, na Paixão de Cristo. Basicamente, apesar do prólogo levar a um entendimento um pouco enviesado desse texto, Girard ensina que a maneira correta de abordá-lo é a partir do discurso de Jó, jamais dando ênfase ao discurso de seus amigos. O que parece rebeldia e desafio de Jó é apenas a denúncia vigorosa de um membro da comunidade que era admirado, respeitado e ouvido, mas que caiu em desgraça e que é agora perseguido e humilhado, considerado a causa de todos os males que a afligem e que deve ser extirpado para que o bem volte a reinar. Jó era um líder e vivia de acordo com o bem, praticava a caridade, era generoso e bondoso. Mas esse comportamento, apesar de tudo que trazia de bom para os mais frágeis da comunidade, gerava ressentimento e inveja nos outros poderosos, que não se viam capazes de alcançar o nível de Jó. Assim, eles tramam escondido dele, esperando qualquer ato de vaidade e orgulho de sua parte, ou uma discussão, enfim, qualquer coisa que sirva de “prova” de que ele era uma pessoa má, apenas interessada em parecer boa, para conseguir a idolatria de seus concidadãos. Geralmente, as pessoas que sofrem desses sentimentos são justamente as mais próximas, os amigos que aparecem tentando mostrar a Jó que ele mereceu o que lhe acontece e que ele deveria apenas aquietar seu coração e se resignar. Essas pessoas tiveram que tolerar por longo tempo o que consideravam intolerável, que era uma pessoa superior a elas de alguma forma (veja como o mecanismo da inveja funciona: trata-se de um sentimento, não de uma constatação real, basta que a pessoa se sinta assim para que olhe para o alvo de sua inveja como um hipócrita, um cínico, um falso, qualquer coisa, ou seja, muitas vezes o ódio cega a tal ponto que a pessoa não questiona o motivo de seus sentimentos, apenas condena aquele que considera como mau) e agora conseguiram mostrar a toda a comunidade a real natureza, a pessoa por trás da máscara e todos se revoltam.

Esse é um ponto importante na descrição desse fenômeno. Ele começa pelas pessoas próximas, aquelas que a futura vítima confia e considera mais do que todos os outros. Mas elas nutrem profunda aversão por suas atitudes e ficam esperando um deslize, de acordo com seu modo de ver, que lhes permita ir ao restante das pessoas e denunciar o enganador. Essa denúncia pode precisar de muitas ou poucas provas, isso não importa, mas o fundamental aqui é que só com o apoio da massa é que o mecanismo se completa. É preciso fazer o entendimento social sobre a pessoa mudar. O que antes era admirável se converte agora em execrável, provocando na multidão o sentimento de que havia sido enganada todo esse tempo. Assim, o outrora virtuoso membro da comunidade se transforma em seu lixo, aquele que deve ser evitado e não merece nenhum sinal de compaixão. O que Jó faz em todo o texto é denunciar o quanto essa mudança é injusta. Mas, então, aparece a face mais, digamos, canalha desse mecanismo.

Quando Jó atinge o ápice de sua revolta, os amigos desistem e apelam para outro membro proeminente da comunidade. Ele explica que Jó não tinha realmente a bondade em seu coração e se isso acontece é porque deus (em minúscula, porque Girard vai mostrar uma diferença importante) sabia do que ia em seu íntimo e decidiu, finalmente, puni-lo. O “finalmente” é importante, porque para aqueles que invejam o “sujeito perverso”, a inversão nunca chega, ele demora demais a ser punido por seus atos, o sentimento é que ele, quanto mais se orgulha de sua superioridade, mais graças recebe da divindade. Mas essa injustiça está sendo corrigida e a fúria divina é implacável. As massas se constituem em exército divino e realizam a obra do deus vingativo e justo contra os perversos de coração. Essa divindade evocada pela comunidade é uma falsa divindade, evidentemente, porque serve como retórica para amparar o mecanismo persecutório que se voltou contra Jó. Qual sua culpa? Não se sabe, mas os amigos insistem que ele não era verdadeiramente inocente, caso contrário, não sofreria pena tão ultrajante agora. A queda é proporcional às grandes altitudes que ele havia alcançado anteriormente em seu orgulho...

Mas todos sabemos que ele é inocente, que as acusações, sejam elas quais forem, são falsas e ele não merece o destino que está vivendo. Jó sabe que Deus não é assim, que ele é justo e bondoso e não opera vinganças, ainda mais sobre aqueles que viveram o tempo todo segundo seus preceitos. O que esse livro inicia, a essência do cristianismo, é mostrar que a vítima perseguida para a pacificação da sociedade é inocente. Jesus foi a vítima inocente, sacrificada para pacificar a sociedade e que mostrou que essa saída violenta é injusta, incorreta e desumana. A Paixão de Cristo é o ápice desse movimento, onde foi dada à comunidade a opção de escolher, ainda por cima, qual pessoa libertar, e a decisão foi pela condenação do inocente. Eis o erro a que toda a humanidade está fadada a repetir: o bode expiatório sempre é inocente e, mesmo assim, sempre é perseguido e morto, ou destruído de alguma forma. Jesus, ainda por cima, pronuncia a célebre frase: “Eles não sabem o que fazem!”, que era não uma denúncia nos moldes de Jó, mas da tendência da humanidade de preferir a violência para solucionar seus problemas. A amplitude dessa frase é absurdamente grande, porque resume todo o mecanismo vitimário, toda a violência, toda a sua Paixão e lança sementes sobre o entendimento humano para que não volte a repetir seus erros. Deus, portanto, entregou Seu Filho para mostrar aos homens que eles devem renunciar à violência, que o único caminho é o amor, que é a única forma de resolução verdadeira dos problemas e conflitos. Com isso, Girard explica academicamente o que é o cristianismo e como essa religião, tão odiada em nossos dias, é a única que lida com a violência e renuncia a ela de forma consciente, aberta.
Podemos dizer, até, que aqueles que hoje perseguem o cristianismo estão reafirmando seu compromisso com a violência e com o caminho simbolizado por Satanás. Embora isso pareça pregação, o que segue bem explicado no pensamento de Girard é como o diabo procura incitar à revolta e à violência contra Deus na expectativa de resolver seu conflito com ele. Quer dizer, a violência, ainda mais contra um inocente, é uma forma de enganar e seduzir os homens para se afastar de Deus. Veja bem: se a violência é fundante de inúmeras religiões, como foi dito mais acima e que é uma tese amplamente aceita na comunidade acadêmica, fica claro que a frase de Jesus sobre ser “o caminho, a verdade e a vida”, tem uma enorme probabilidade de ser verdadeira, isso usando a própria lógica do pensamento científico. O cristianismo se coloca, portanto, como a única religião que extirpa a violência do homem, a religião que denuncia a falsa salvação, que denuncia a forma como a humanidade é capturada por Satanás imaginando estar louvando a Deus (o que já é demonstrado no livro de Jó, quando fazem referência ao desejo de vingança do deus, que se abate sobre os falsos e orgulhosos - mas que sabemos ser inocentes).

Mas, voltando um pouco, o texto de Girard permite uma porção de considerações interessantes. Por exemplo, ele compara Édipo e Jó e mostra como o primeiro resiste inicialmente, mas depois assume sua culpa e considera justa qualquer punição que receba. Jó, no entanto, jamais cede à pressão de confessar seus “crimes”, ele sabe que não cometeu nenhum e que é vítima de uma difamação injusta e inverídica. O que a comunidade espera é uma declaração de culpa do sujeito perseguido. Com isso ela consegue confirmar suas suspeitas e parece que todo o movimento de isolamento desse sujeito foi algo realizado por uma força maior, uma divindade, que conduziria a comunidade para o que é correto. E não há nada que a vítima de perseguição possa dizer que seja capaz de mudar o resultado do processo. Quanto mais ele nega, mais incita seus perseguidores, que ficam mais convencidos de sua natureza perversa, que não quer nem falar a “verdade” quando descoberto. Agora aparece a diferença fundamental entre uma cultura e outra. Édipo é culpado, isso fica claro ao longo do texto, mesmo que culpado inconscientemente de seus crimes, ainda assim, tem culpa. O clímax do texto é alcançado com essa restituição da justiça, com a pena que alcança o culpado, que já havia admitido. Isso, segundo Aristóteles, é a catarse da tragédia, o momento que o expectador aguarda ansioso para que toda a trama tenha a devida conclusão sangrenta. Em momento algum Sófocles tentou diluir a culpa de Édipo, ao contrário, todo o texto existe com a intenção de mostrar que qualquer que seja a punição que receba, ela é justa e vai fazer bem à comunidade. Édipo é responsabilizado pelas tragédias que acometem a cidade, como se houvesse atraído, com sua conduta, a fúria divina sobre os homens. É natural, portanto, que seja punido. Já o cristianismo, desde o texto mais antigo conhecido em sua tradição, mostra justamente o contrário. A vítima não tem culpa e não atraiu o ódio da divindade sobre os homens; são os homens, em sua inveja insuportável, que tramam a destruição daquele que era bondoso e ajudava os mais pobres.

Ou seja, na tradição cultural dos gregos há a justificativa do mecanismo da violência contra os inocentes. Isso fazia parte de sua cultura a ponto de Aristóteles, o maior filósofo de todos os tempos, considerar indispensável á tragédia, um estilo literário predominante entre os gregos, que exista a violência (considerada justa, afinal). Essa justificativa aparece em muitos documentos arqueológicos e em praticamente todas as sociedades humanas de alguma forma. Quando descreve as sociedades da Am. Do Sul, por exemplo, Pierre Clastres faz não apenas o elogio de sua distância do cristianismo, como ainda atenua a violência que praticam. Ele exalta a boa posição que os guerreiros capturados alcançam, conseguindo viver com relativa tranquilidade, desde que não provoquem a ira da comunidade com tentativas de fuga ou de se tornar mais poderosos. O que Girard consegue explicar, muito mais profundamente, é que esse efeito de relativização da violência é apenas aparente e Clastres se deixou levar pelo que via, não sendo capaz de perceber que, na verdade, quanto mais alto ascendem na sociedade primitiva, maior a queda dos guerreiros capturados. Um belo dia, mesmo depois de conseguir muitas mulheres, riquezas e poder, eles são violentamente esquartejados e devorados ritualmente (o que, por si só, já seria capaz de levantar a dúvida sobre o real significado daquele comportamento ao antropólogo, mas que passa incólume para Clastres).

“Embora indubitavelmente ritual, o sistema conserva uma dose muito forte de espontaneidade. Ele não é verdadeiramente suscetível de ser descrito em termos de monarquia, nem em termos de sacrifício. Não obstante, tem pontos em comum com uma e outra instituição. Esse canibalismo conduz ao momento em que a rota antiga acaba de se transformar em rito, ou então, por uma razão ou outra, estagnou-se em sua evolução.” (p. 113 – 114). Ou seja, o que a alguns aparece como uma justificativa (no caso o abuso de poder dos guerreiros) é apenas a cegueira diante do mecanismo vitimário, fenômeno disseminado por toda a humanidade. Os gregos pensavam assim e muitas outras sociedades admitem essas práticas porque a violência é inerente a elas, é o elemento fundante de sua cultura e que é praticamente impossível de ser superado.

“Embora indubitavelmente ritual, o sistema conserva uma dose muito forte de espontaneidade. Ele não é verdadeiramente suscetível de ser descrito em termos de monarquia, nem em termos de sacrifício. Não obstante, tem pontos em comum com uma e outra instituição. Esse canibalismo conduz ao momento em que a rota antiga acaba de se transformar em rito, ou então, por uma razão ou outra, estagnou-se em sua evolução.” (p. 113 – 114). Ou seja, o que a alguns aparece como uma justificativa (no caso o abuso de poder dos guerreiros) é apenas a cegueira diante do mecanismo vitimário, fenômeno disseminado por toda a humanidade. Os gregos pensavam assim e muitas outras sociedades admitem essas práticas porque a violência é inerente a elas, é o elemento fundante de sua cultura e que é praticamente impossível de ser superado.
Carolina 12/02/2024minha estante
Essa resenha é uma aula, vou imprimir e anexar ao meu livro


Marc 12/02/2024minha estante
Agradeço. Eu li seus comentários, também gostei. O pensamento do Girard é muito interessante. Ele é capaz de explicar até mesmo a dinâmica política do nosso país (e parece que vai ser útil mais vez).




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