Lista de Livros 18/08/2018
Lista de Livros: Introdução ao Cristianismo - Joseph Ratzinger
Parte I:
“Jesus é a presença do próprio eterno neste mundo. Em sua vida, na irrestrição do seu ser para os homens está presente o sentido do mundo; ele doa-se-nos como amor, que também me ama a mim, tornando amável a vida mediante dádiva, tão inconcebível, de um amor não ameaçado por nenhuma transitoriedade, por nenhuma perturbação egoística.”
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“Somente se tem Deus, quando não se dispõe de nenhum Deus próprio, confiando-se somente ao Deus que é o Deus dos outros, exatamente como o meu, porque ambos lhe pertencemos.”
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“Voltemos a uma pergunta que sintetiza tudo: que é a fé, afinal de contas? Nossa resposta poderia ser: a fé é a forma de firmar-se o homem no conjunto da realidade, forma irredutível ao conhecimento e incomensurável pelo conhecimento; fé é o dar-sentido sem o que a totalidade do homem ficaria localizada, sentido que constitui a base do cálculo e da atividade humana e sem a qual, finalmente, não poderia nem calcular, nem agir, porque somente é capaz disto à luz de um sentido que o norteie. Com efeito, o homem não vive apenas do pão da facticidade; como homem, ele vive do amor, do sentido das coisas. O sentido é o pão que lhe possibilita subsistir, em sentido próprio, como homem. Sem a palavra, sem uma finalidade, sem o amor, o homem chega à situação de não poder mais viver, mesmo cercado de todo o conforto humano. Quem ignoraria até que ponto uma tal situação de fracasso (entregar os pontos... não poder mais...) pode surgir em meio à fartura exterior? Ora, sentido não se deriva de saber. Querer torná-lo real através do conhecimento da facticidade seria como a absurda tentativa do barão de Münchhausen ao querer livrar-se a si mesmo do atoleiro, puxando-se pelos cabelos. O absurdo deste quadro expõe com exatidão a situação básica do homem. Ninguém está em condições de arrancar-se a si mesmo do pantanal da incerteza, da incapacidade de viver. Nem nos salvamos de semelhante situação, como quiçá ainda poderia pensar Descartes com o seu cogito, ergo sum (penso, logo existo), mediante uma série de conclusões racionais. Sentido autofabricado não é sentido; sentido, ou seja, um solo, um pedaço de chão sobre o qual a existência possa firmar-se e desenvolver-se como um todo, um tal sentido não pode ser feito, só pode ser recebido.”
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Parte II:
“Quem reconhecer o Cristo em Jesus, e só nele, e reconhecer a Jesus como o Cristo, quem conceber a total identidade de pessoa e obra como elemento decisivo, abandonará a exclusividade da fé e sua antítese em relação ao amor, e unirá a ambos em um todo que torna impensável a sua separação. O traço de união entre Jesus e Cristo, a ausência de separação de pessoa e obra, a identidade de um homem com o ato da entrega denotam também o traço de união entre amor e fé. Pois o “eu” de Jesus, sua pessoa que agora avança até o centro, encontra a sua peculiaridade no fato de este “eu” não se situar em nenhum isolamento autônomo, mas haurir a sua total existência do “tu” do Pai e em existir para o “vós” dos homens. Ele é identidade de Logos (verdade) e amor, e transforma o amor em Logos, em verdade da existência humana. Portanto, a fé postulada por uma cristologia assim compreendida, essencialmente tende a tomar-se a abertura universal do amor incondicional. Porque acreditar em um Cristo assim compreendido significa simplesmente tornar o amor conteúdo da fé de modo que se possa dizer: amor é fé.
Isto corresponde ao painel que Jesus traçou na grande parábola do juízo final (Mt 25,21-66): o encontro, a identificação de Cristo nos últimos dos homens, nos que necessitam do nosso auxílio, é equiparado à profissão de fé exigida pelo Senhor julgador. Portanto, crer em Cristo é o mesmo que reconhecer como sendo Cristo o homem que precisa do meu auxílio, tal como me vem ao encontro; é compreender o apelo do amor como apelo da fé. A aparente alteração do Credo cristológico na incondicionalidade do serviço e da disponibilidade humanas, que se processa em Mt 25, depois do que foi dito, nada mais é do que o irromper de uma dogmática de resto já presente; de fato, é, em verdade, a consequência do traço de união entre Jesus e Cristo ou seja, do âmago da cristologia. Porque tal traço de união – repitamo-lo – é simultaneamente o traço de união entre fé e amor. E por isto, fé que não seja amor não é, mas apenas parece, fé cristã. E por isto, fé que não seja amor não é, mas apenas parece, fé cristã.”
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