Não Verás País Nenhum

Não Verás País Nenhum Ignácio de Loyola Brandão




Resenhas - Não verás país nenhum


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Evy 07/11/2011

DESAFIO LITERÁRIO 2011 - Tema: Autores Regionais / Mês: Setembro (Livro 1)
Angustiante. Impactante. Assustador. São algumas das palavras com as quais eu descrevo essa leitura que me surpreendeu do início ao fim. Este é o primeiro livro de Ignácio de Loyola Brandão que leio e com certeza não será o último. Gostei muito da história e de sua narrativa desenvolta que nos envolve na leitura e torna impossível não querer ir até o final, mesmo que este final pareça horripilante.

O autor nos leva a um futuro terrível e apocalíptico onde bebe-se com naturalidade água reciclada de urina pois os rios secaram e a água do mar está tão poluída que é impossível até mesmo encostar nela; onde visita-se um museu com águas engarrafadas do passado destruído e é possível ouvir o som das cachoeiras já inexistentes e o canto dos pássaros já disimados; onde fez-se uma cerimônia para o corte da última árvore do Brasil, aplaudida e filmada como algo magnífico e onde se luta por um cartão de água e comida e por viver o mais dignamente possível debaixo de um sol escaldante que arranca a pele e deixa as pessoas loucas.

Este livro é um sério alerta do que nos espera no futuro. E um futuro que ao meu ver, não está mais tão longe como imaginamos. O governo durante todo o tempo tenta abrandar as consequências da destruição humana com campanhas publicitárias otimistas que mostram apenas o lado bom das coisas (e mesmo quando esse lado não existe, inventam). Trabalham através da opressão pelos Civiltares e pela massificação através da comida factícia que teria sido criada já com ingredientes que inibem o questionamento e a insatisfação.

Muitos trechos chocantes e cenas e situações de arrepiar! Quando o noticiário da TV passa novamente a cerimônia do corte da última árvore no Brasil, Sousa, o protagonista, se recorda de sua infância e lembra quando o avô o levava para assistí-lo derrubar árvores. Me emocionei bastante com o trecho, pois assim como ele, sempre tive a mesma impressão a respeito de uma árvore tombando:

"Quando vi a primeira árvore cair, meu pai estava ao meu lado. O barulho foi tão horrível que nem a presença dele impediu o meu susto. Chorei. Agora penso: teria sido pena? Não, seria racionalizar os sentimentos de uma criança. Me lembro até hoje o horror que foi a árvore tombando.
Um gigante desprotegido, os pés cortados, solto de repente, desabando num ruído imenso. Choro, lamento, ódio, socorro, desespero, desamparo. Ao tombar, tive a impressão de que ela procurava se amparar nas outras. Se apoiar em arbustos frágeis, que se ofereciam impotentes.
Fracos demais para segurá-la. Porém solidários. Morriam juntos, arrastados, esmagados. Ao mesmo tempo que tentava se apoiar, aquela coisa imensa parecia ter vergonha de se mostrar tão fraca. De ter sido derrubada sem nenhuma resistência. Urrava de ódio. Poderia resistir? Não via como. Na confusão que se estabelecia nela, caía. Arrastando tudo, arrebentando árvores menores, fazendo um barulho que me parecia cachoeira, ou represa estourando.
"

Me lembrou muito 1984 e Admirável Mundo Novo, e assim como estes, merece as cinco estrelas pelo alerta e pela mensagem. Precisamos realmente refletir e repensar. Este livro nos dá essa oportunidade e abre nossas mentes para questionamentos e a vontade de querer fugir desse futuro tão horrível. A narrativa de Loyola é tão clara que quase podia ver as cenas acontecendo na minha frente. Admiro muito autores que conseguem nos transportar para os cenários e nos fazem passar pelas vicissitudes das personagens.

Este é o tipo de leitura essencial, além de recomenda!
Li 27/09/2011minha estante
Uia, Ly, parece ser bem interessante... Gosto de livros que tentam desvendar a humanidade do futuro!


Mari 27/09/2011minha estante
Ly, adorei! muita vontade de ler, 1984 é um dos meus livros favoritos... gosto muito dessa temática! tbm admiro muito autores que conseguem nos transportar para dentro do livro! Excelente a sua resenha!!!


Erika 27/09/2011minha estante
Ly, este livro é maravilhoso e me marcou muito. Você o descreveu muito bem, inclusive o impacto que nos causa. Realmente, não é tão ficção assim. Ele apenas fez uma projeção do que já está acontecendo. Merece mesmo nota máxima!


Gil 08/06/2012minha estante
Concordo totalmente com vc, esse livro me chocou, apesar de ter sido escrito em 1981 ele é bem atual, acredito que deveria ser lido por todos, assim, quem sabe, poderia haver uma mudança..


Vicente 07/06/2015minha estante
Evelyn,
excelente resenha de um livro que desejava ler há algum tempo, mas que não estava entre as prioridades.
Obrigado


Helder.Alves 10/02/2016minha estante
Parece uma visão do futuro que estamos desenhando, o livro é lindo e pertubador.


Sapo d=] 01/02/2017minha estante
lembro-me de ter lido este livro devido a um trabalho no ensino médio, gostei tanto que indiquei para várias pessoas. Sempre gostei de ler sobre mundos apocalípticos, mas nunca tinha encontrado algo tão brasileiro. Incrivelmente atual, me passa a imagem de que caminhamos a passos largos para o cenário descrito no livro. Pretendo ler novamente. Muito boa sua resenha Evelyn, me deu vontade de reler o mais rápido possível! d=]




Soterradaporlivros 16/11/2022

Não verás país nenhum
O mais interessante é q o livro foi escrito em 96, mas fala dos 80 e francamente, fosse escrito em 2030 sobre hoje, não mudava muita coisa.

Levei uma vida pra terminar, mas não foi culpa do livro, peguei uma gripe daquelas e a concentração tava inexistente.

Enfim, o início foi muito bom e eu TB gostei do fim (com ressalvas) mas eu achei q teve muita lenga lenga desnecessária e o livro podia ter umas 100 páginas a menos.
lari 16/11/2022minha estante
oii meu bem, você pode curtir minha última resenha?? ??




Thammy 16/04/2021

Incrível!
Livro excepcional. É espantosa a proximidade dessa leitura com a nossa realidade pandêmica e todo o cenário socioeconômico e político do Brasil desde 2018. A impressão que dá é que Ignácio de Loyola Brandão escreveu essa ficção mês passado já prevendo quais rumos o país pode tomar se seguir nas mesmas rotas (à extrema direita) atuais. Gostei demais de ter contato com uma distopia "à brasileira". Poder imaginar os cenários bem descritos, a angústia de viver em constante alerta, sujeito à fome, frio, violências e controles de toda ordem em lugares pútridos, insalubres, onde o componente humano já não existe tornou a leitura muito especial. Demorei a concluir porque precisava digerir cada página lida, cada detalhe mostrado. Trata-se de uma leitura assustadora em realismo, mas muito necessária para o nosso entendimento enquanto cidadãos que somos, responsáveis por nossas escolhas e interdependentes, socialmente falando. Nunca tinha lido nada do autor e, olha, que experiência excelente. Leiam pra ontem! Dou nota 10 com louvor!
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Vellasco 19/06/2020

Um Brasil distópico assustador.

Assustador sua proximidade com nossa realidade.

A história acompanha Souza em uma são Paulo distópica. Onde existe o caos social, caos ambiental e uma clara divisão de classes e privilégios.

O livro ainda tem uma passagem bem próxima a nós quando cita o governo(chamado de Esquema) onde se foi proibido as Más Notícias, pois a imprensa só noticiava a corrupção e incompetência do governo(coincidência?).

Recomendo a todos, a narrativa é bem fluída e impactante.
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Deyse 16/10/2020

Não verás país nenhum - Ignácio de Loyola Brandão
É extremamente difícil avaliar com apenas 2,5 estrelas um livro nacional com tantos méritos e, sem dúvida, de enorme importância. A verdade, porém, é que penei pra terminá-lo. Li para um trabalho da faculdade e, para as análises que eu precisava fazer, foi extremamente pertinente. Do ponto de vista teórico, esse livro é um poço de grandes e instigantes questionamentos. Sem dúvidas, a fórmula de distopia desenhada na história é absolutamente adequável aos dias de hoje, em qualquer país do mundo. O autor tem todos os méritos no que diz respeito à relevância do enredo, sua pertinência e pelas ideias propostas nesse universo alternativo. Infelizmente, nada disso anula o fato de que o livro é simplesmente... chato. Algumas partes, principalmente no início, me deixaram empolgada; porém, 300 páginas se passaram sem que nada acontecesse, a não ser a repetição de eventos maçantes. Muitas questões ficaram sem resposta e isso não seria demérito algum se esses vácuos fizessem algum sentido. A impressão que eu tive, porém, é de que o livro prometeu muita coisa e não entregou nada. Acho que a premissa era sensacional, mas se o autor tivesse seguido por outro caminho, creio que eu poderia ter aproveitado melhor a sua escrita ou seus personagens, com os quais não consegui manter nenhuma relação ao menos de simpatia. Foi uma leitura ideal para o meu momento acadêmico, mas não sei se indicaria a alguém que busca algum prazer na leitura desse gênero.
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Káh 12/12/2021

Um livro que incomoda
Não sendo uma leitora de distopia (nada contra, é um universo que quero ainda adentrar) o livro levou pelo menos um ano para ser lido.

Mas, como valeu a pena não ter desistido! Talvez seja exatamente isso, o tempo, sem pressa, sem meta para ser alcançada.

Depois de lido a história, o personagem, toda a situação fica romoendo na memória, aquele final.

Há mais dois livros do autor que completa essa trilogia, que não precisa ser lida em uma ordem necessariamente.

Histórias densas precisam de um tempo de degustação e só então, ser encarado novamente.
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Aline T.K.M. | @aline_tkm 23/06/2022

Obrigatório e assustadoramente atual
Os ?Abertos Oitenta? ficaram para trás, e o Brasil agora vive sob o controle rígido do Esquema, um governo autoritário e manipulador, com seus militecnos e o Novo Exército. Já não se veem carros pelas ruas, árvores e rios foram extintos, e a Amazônia devastada deu lugar a um deserto.

Já a população tenta sobreviver com o racionamento de água (a maior parte proveniente de urina reciclada) e alimentos (todos artificiais, criados em laboratório), com a restrição de circulação pela cidade e com a violência. Isso sem falar nas temperaturas e no perigo dos bolsões de calor. Claro, ainda há a população mais pobre, que vive em condições desumanas, e também uma elite isolada e relativamente protegida.

Eis aqui o cenário de Não Verás País Nenhum, uma distopia do Ignácio de Loyola Brandão originalmente publicada em 1981 e que se passa no que seria uma São Paulo apocalíptica dos nossos dias ? assustadoramente, vários elementos dessas páginas são reconhecíveis na nossa realidade.

O protagonista Souza é quem narra tudo de dentro de sua bolha. Passivo diante do caos, o ex-professor experimenta uma espécie de ?despertar? a partir de um misterioso furo que surge em sua mão. Seus dias não serão mais os mesmos, mas, mais do que a ausência da esposa, das sucessivas perdas e dos absurdos que passa a ver/viver, o que incomoda são as perguntas que não calam. Como as coisas chegaram a esse ponto? Por que ninguém fez nada? Por que ele, Souza, não fez nada?

Um livro para olhar para o nosso país com outros olhos, para pensar até onde a passividade e as escolhas impensadas podem nos levar, para perceber que o apocalipse não acontece de repente, mas aos poucos, todos os dias.

Leitura mais que recomendada ? obrigatória! Especialmente pela trama e por esse fim de mundo que Loyola Brandão anteviu, cujos sinais já dão as caras nas notícias do cotidiano.

site: https://www.instagram.com/aline_tkm
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V_______ 11/01/2022

Não Verás País Nenhum
Não Verás País Nenhum é a distopia brasileiras. Como será o futuro em um país pobre ? Diferente das distopias apresentadas por escritores de países abastados que mostram um futuro de alto desenvolvimento tecnológico que torna o homem obsoleto em seu existencialismo, praticamente um ser pré programado, o futuro de Ignácio de Loyola Brandão mostra o futuro de nosso país devastado pelo desmatamento desenfreado e esgotamento dos recursos naturais, não há fauna e flora, os alimentos são sintéticos, a água é escassa e reciclada, um privilégio, a temperatura é mortal.
Souza, nosso protagonista nesse mundo abstratamente real, é um professor aposentado compulsoriamente, atualmente trabalha em uma repartição que atua revisando textos sem importância. Após um furo aparecer em sua mão, sem mais nem menos, Souza vê sua vida ruir ainda mais. Adelaide, sua esposa passa a se preocupar com as atitudes do marido e o deixa, é o estopim para que Souza se entregue a uma espécie de niilismo, mesmo questionando a tudo e todos.
O livro é bem interessante, o autor conseguiu retratar com êxito esse futuro sujo, ambientalmente e moralmente. É um pouco assustador, que mesmo com os exageros tudo descrito aqui possa sim vir a ser tornar uma realidade.
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Pedróviz 07/10/2023

Não verás país nenhum
Num primeiro momento achei um livro perfeito pois tem um enredo interessante e momentos inesquecíveis. O livro é uma distopia que fala sobre a falta de esperança para quem é um simples mortal num país que não olha pelos simples.
Agora acho o livro apenas bom, válido mais como entretenimento e que, por motivos que não cabe pormenorizar aqui, não deve ser objeto de considerações mais profundas.
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Christiane 22/09/2023

"Não verás país nenhum" é o 1984 brasileiro?
Muito mais que isso! Sim, uma distopia que choca pela proximidade com a realidade e mais ainda pela nossa realidade brasileira.

Acompanhamos Souza, um cidadão comum, trabalhador, no seu dia-a-dia. Mas o mundo mudou, "desastres" ambientais moldaram o novo estilo de vida. Escassez extrema de água, um governo que não governa para o povo, restrições de circulação. A verdade é moldada, para que as pessoas aceitem os absurdos do Esquema (um verdadeiro esquema ditatorial).

Além da narração dos acontecimentos, também acompanhamos os pensamentos (e emoçoes) de Souza. E isso causa um sentimento de estar vivendo o que ele vive: o calor, a agonia... a apatia.

Não há alimentos naturais, não há água para cultivá-los, não chove. E isso é só uma parte do futuro devastador imaginado por Loyola. Um grande alerta do que precisamos evitar a qualquer custo.
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Leila 15/11/2023

Ignácio de Loyola Brandão oferece aos leitores uma experiência única com sua obra distópica Não Verás País Nenhum. Este mergulho no universo brasileiro pós-apocalíptico revela um olhar sensível do autor para as possíveis consequências de um futuro sombrio. Embora tenha apreciado a leitura, devo confessar que, em alguns momentos, me vi cansada, sem conseguir precisar se isso se deu pela riqueza excessiva de detalhes descritivos ou pela extensão da trama.
A narrativa, habilmente construída por Brandão, apresenta uma visão perturbadora do Brasil em um futuro distante (será mesmo distante???), onde a sociedade desmoronou, deixando para trás uma nação em ruínas. As muitas descrições contribuíram para a imersão no cenário caótico, permitindo visualizar vividamente as paisagens desoladoras e sentir a atmosfera sufocante do enredo.
No entanto, é precisamente nesse ponto que encontro um dilema pessoal. A profusão de detalhes, embora enriqueça a ambientação, por vezes me levou a sentir uma certa exaustão. A complexidade da trama e a extensão de alguns trechos talvez pudessem ser alvo de uma edição mais concisa, tornando a leitura mais dinâmica e fluida.
Ainda assim, não posso negar a importância desta obra na literatura distópica brasileira. Ignácio de Loyola Brandão apresenta uma visão única e autenticamente nacional sobre o tema, proporcionando aos leitores uma oportunidade valiosa de reflexão sobre o futuro da sociedade. A pertinência da obra se destaca, e a experiência de explorar uma distopia que se desenrola em terras brasileiras é inegavelmente enriquecedora.
Apesar da minha chatice, reconheço a relevância de Não Verás País Nenhum e acredito que a leitura vale a pena para aqueles que buscam uma incursão distópica diferente, ancorada em elementos e nuances da cultura brasileira. Este livro nos desafia a considerar o que poderia acontecer em um futuro sombrio e, ao mesmo tempo, nos proporciona uma rica tapeçaria literária que ressoa com a realidade contemporânea.
Carlos Nunes 16/11/2023minha estante
AMO esse livro, mesmo tendo alguns problemas, como você apontou. Mas é perturbadoramente atual (alguém aí falou ondas de calor????).


Leila 16/11/2023minha estante
sim, meu amigo, é realmente perturbador, eu ainda tenho a edição que vc me presenteou lá atrás, lembra? essa veio num box que comprei do autor tempos atrás (numa promoção)




Matheus 02/06/2022

fui sem expectativa nenhuma e acabei lendo uma das melhores distopias da minha vida. esse livro me deixou muito noiado e assustado, e olha que eu não ficava assim desde 1984 (quando até sonhar com o grande irmão eu sonhei). super recomendo esse retrato do Brasil 2022 publicado em 1981.
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Diego Rodrigues 20/10/2022

Povo marcado, povo feliz
Nascido em 1936, na cidade de Araraquara, São Paulo, Ignácio de Loyola Brandão é um dos mais célebres e prolíficos escritores da nossa literatura. Vencedor dos prêmios Jabuti (2008) e Machado de Assis (2016), é membro da Academia Brasileira de Letras, onde ocupa atualmente a cadeira de número onze. Em 1965, publicou seu primeiro livro, "Depois do Sol". Desde então, manteve sua pena sempre ativa e compôs vasta obra literária. Um de seus principais trabalhos, "Zero", foi publicado primeiramente na Itália, por conta da censura imposta pela Ditadura Militar, e só posteriormente veio a ganhar uma edição nacional, o que acabou colaborando para que autor fosse traduzido para diversas outras línguas e tivesse sua obra propagada no estrangeiro.

"Não Verás País Nenhum" é um romance distópico, publicado orginalmente em 1981, que vai retratar um Brasil onde os recursos naturais se esgotaram e o povo vive sob o controle do Esquema. As florestas foram devastadas, falta água e o calor é capaz de matar. O alimento não vem mais da terra, tudo é factício. Aromas de flores e de terra molhada? Disponíveis somente nas prateleiras do supermercado! Os animais foram extintos e também não se vê mais crianças. Deformados se aglomeram nos limites da cidade e dentro dela ninguém pode andar livremente, para isso há fichas de circulação. Milícias fazem a "segurança", mas não se preocupe, a intensa propaganda do governo diz que tudo está indo bem, o país está voando! Quando preciso, alteram algo nos livros de história aqui e ali e está tudo certo. Segue o jogo...

É nesse cenário desolador que Souza e a esposa vivem, se é que dá pra chamar isso de viver. Do trabalho insignificante para a casa e o casamento insípido, Souza passa os seus dias envolto em tédio e melancolia, até que começa a se questionar: como foi que chegamos a esse ponto? Seria ele o último homem a questionar o que acontece ao redor? Drama, scifi, suspense, romance policial, o livro de Loyola é tudo isso e mais um pouco. Com uma narrativa incisiva, sufocante e recheada de ironia, o autor imagina uma realidade assustadoramente próxima ao Brasil atual. Sua distopia não perde em nada para outros clássicos do gênero, como "1984" (George Orwell), "Admirável Mundo Novo" (Aldous Huxley) e "Fahrenheit 451" (Ray Bradbury). Muito pelo contrário, ela tem um poder muito maior de chocar e ganha em verossimilhança, uma vez que se trata do nosso contexto, nosso país.

Se tivesse que escolher uma palavra para definir essa leitura, seria "incômoda". Se você ainda não sente certo asco pelo jeitinho brasileiro de fazer as coisas, vai sentir aqui. Os mecanismos do governo para manter o povo cativo, a corrupção que permeia todas as classes, a burocracia para dificultar o que realmente precisa ser resolvido, a banalização do sexo e da violência, da vida em geral, e um povo conivente do absurdo que adora se alienar. "Povo marcado, povo feliz", como já dizia Zé Ramalho. Uma distopia que conversa diretamente com os dias atuais e com a história do nosso povo, leitura mais do que recomendada, diria até urgente e necessária.

A primorosa edição especial de quarenta anos da editora Global conta com prefácio de Heloisa M. Starling e textos de Washington Novaes e José de Souza Martins, trazendo também um rico material extra composto de rascunhos, fac-símiles e fotos que retratam e contextualizam toda a concepção da obra. Mais que um livro, "Não Verás País Nenhum" é um documento que ajuda a contar um triste capítulo de nossa história, capítulo esse que parece não ter fim, e deve ser preservado como tal. Uma obra que deve ser lida, relida e compartilhada.

site: https://discolivro.blogspot.com/
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Danielle Gonzales 22/03/2022

A temática é ótima
Por ser uma distopia sobre mudanças climáticas, é super atual, e me levou a várias reflexões. Me fez pensar que cada vez mais estamos próximos desse futuro climático triste (na verdade em muitos pontos já estamos nele), e que as cortinas de fumaça da política são muito reais.

Mas ainda que tenha sido um livro que li "rápido", em certos momentos eu me sentia cansada de ler, parecia que a história não saía do lugar, sem novidades importantes, e um pouco tedioso.

Sobre a escrita gostei particularmente dos momentos em que o narrador "conversa" com o leitor, achei genial esses trechos de provocações.

No geral eu gostei do livro, e me lembrou em diversos trechos "1984", ou "O conto da aia", minha nota não foi das mais altas por conta desse tédio que bateu em alguns momentos.
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Lucas 29/08/2022

Previsões de um agora
Essa distopia brasileira escrita em meados de 1981 por Ignácio de Loyola Brandão. Apresenta Souza um homem que não está contente com a vida que leva, trabalha em um emprego que não gosta e vive um casamento já turbulento com Adelaide. Tudo isso sendo mostrado no Brasil, onde a natureza está morta, água é escassa e o governo faz maracutaias a todo momento.

Muitos se falam de autores que previram o futuro como Huxley e Orwell mas Brandão traz um gama de acontecimentos que quem lê fica pasmo com certas práticas que esse Brasil distópico apresenta e que conflita muito com o país de hoje.
É uma ficção bem complexa que requer atenção do leitor. É um livro que a cada virada de página é uma indireta para nós brasileiros e também para o mundo, porquê não?
Embora o final tenha perdido o fôlego, ele cumpri a missão de apresentar o território brasileiro na sua pior situação. Adoraria que esse livro tivesse mais reconhecimento e que as críticas e pensamentos do autor alcançasse mais pessoas para que a mente desse imaginador não passasse despercebido.
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