Aione 29/05/2020Viva Para Contar é o quarto volume da série policial D.D. Warren de Lisa Gardner, na qual, em cada livro, é narrado um diferente caso investigado pela sargento que dá nome à coleção. Dessa maneira, os livros podem ser lidos de maneira independente, ainda que haja uma evolução na história pessoal da protagonista. No Brasil, a editora Novo Conceito publicou, além desse, Esconda-se e Sangue na Neve, segundo e quinto volumes, respectivamente.
Danielle foi a única sobrevivente de uma tragédia familiar: seu pai matou a esposa e os dois filhos mais velhos antes de se suicidar. Agora, adulta e enfermeira psiquiátrica em uma ala infantil especializada, convive com o passado obscuro e com a pergunta constante do porquê de ter sido a única poupada. Então, quando duas famílias são assassinadas em condições semelhantes, a sargento D.D. Warren chega ao hospital onde Danielle trabalha, deixando-a com sensação de que a história está se repetindo. Paralelamente, Victoria é uma mãe dedicada cuja vida foi consumida pelos cuidados ao seu filho Evan.
Viva Para Contar é aquele tipo de livro capaz de fisgar na primeira página. A narrativa de Lisa Gardner, além de fluida e recheada de impacto, constrói muito bem a tensão, além de conseguir envolver pela dose certa de detalhes que colocam o leitor dentro da história. Aqui, temos as narrativas em primeira pessoa pela perspectiva de Danielle e Victoria — capazes de contribuir com as cenas mais eletrizantes e chocantes — e em terceira pessoa pela visão de D.D. Warren, o que confere um distanciamento, condizente com sua função, necessário e mais objetivo ao leitor, uma vez que as demais passagens são carregadas de emoção.
Em termos gerais, o caso policial é bem desenvolvido, amarrando as pistas deixadas ao longo do enredo e conseguindo manter o suspense até o fim. Há reviravoltas que tornam a leitura ainda mais ágil ao final e a conclusão é bastante satisfatória, oferecendo, também, uma merecida finalização às protagonistas. Comecei a leitura sedenta por um bom thriller policial e Viva Para Contar atendeu com louvor minhas expectativas.
Contudo, o que mais me fez gostar da obra de Lisa Gardner foi sua forte carga de humanidade. Mais do que a história de crimes, esse é um livro a respeito de transtornos mentais infantis, abordando todas as dificuldades envolvidas nesses casos — para as crianças e para os pais —, além das parcas possibilidades de tratamentos. Há cenas viscerais, que pedem ao leitor que respire fundo para prosseguir, e a autora foi muito feliz pela maneira sensível com que construiu as passagens, personagens e situações. Certamente, finalizei a leitura com uma visão diferente da que eu tinha antes de iniciá-la.
Sem dúvida alguma, Viva Para Contar foi meu livro favorito de Lisa Gardner, seja pela leitura voraz que me proporcionou, seja pelas temáticas abordadas. Um livro que recomendo aos fãs do gênero e aos que desejam conhecê-lo, mas com o lembrete de que há cenas um tanto quanto pesadas — e não me refiro às cenas dos crimes, algo esperado em thrillers policiais — e com potenciais gatilhos para situações de violência e abuso físicos.
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