Nan ® 15/03/2019
Favoritei no coração e oficializo no Skoob!
Após um infeliz incidente no dia da Purificação, Sonea descobre ter aptidões mágicas e o clã mais poderoso e influente de magos dedica-se a caçá-la. A vida como conhecia deixou de existir, tudo mudará completamente, em todas as estradas há escolhas difíceis pela frente e as sombras dum segredo perigoso demais enterrado na mente. Fato: às vezes estamos no lugar errado e na hora errada, e pagamos o preço da inocência.
Li somente o primeiro volume da trilogia, estreio o próximo logo em seguida. Coloquei, assim, todas as demais leituras de lado, e não foram muitos livros que me levam a isso. A obra é sublime, embora a princípio o intento da autora foi muito sutil e mais saliente nos entremeios. Melhor elucida-se a Trilogia do Mago Negro: um livro, que foi dividido em três e O Clã dos Magos é a introdução. Não se espera, portanto, aventurar nessas páginas com grande expectativa, ou a hemorragia é infinda e deixará o livro no canto a fim de contê-la. Já a autora não precisa nos conscientizar dessa questão, pois os títulos da obra são a conscientização, entende-se o crescimento de Sonea na própria vida e como vem sendo tratado.
Não sei se, agora que fui cativado por O Clã dos Magos, terei outras gratificações e menos desilusões com A Aprendiz ou O Lorde Supremo, mas pelo que notei no primeiro livro, aposto no potencial de quem lapida bem a sua obra.
A narrativa é, em vista disso, serena e parece estender-se; dado que o primeiro volume versa a medula espinhal da história, questões referentes ao mundo fantástico e à sociedade em que estamos situados. Explorados, é claro, sob a perspectiva dos personagens, levando-nos a ligar os pontos e vislumbrar o todo a que nos fomos limitados.
Há uma ênfase, mormente devido à caça de Sonea pelas favelas, das questões sociais, que exploraram o suficiente da questão; há dois lados duma moeda, embora o desprezo “da idade dos favelados” foi raso. O quesito em questão: é compreensível os dramas apresentados em ambos os lados, e mesmo o lado raso salienta profundamente as condições socioeconômicos dos favelados (ou quantos letrados espera encontrar? A formação de opinião das massas nem sempre será a mais articulada).
Toda palavra na obra é proveitosa, não enche linguiça, e eu gosto disso. Tem um sentido e objetivo tátil.
O Clã dos Magos me cativou especialmente nesse princípio, pois são questões que nos levam a entender que haverá, sim, mudanças. Essas mudanças fascinaram meus olhos à medida que imaginei o fim da obra, além de concederem todo um sentido ao que se aguarda desses encontros entre os personagens e as influências resultantes em suas vidas. Algo vai mudar, e a ideia de mudança instiga.
Aprendi, ao longo de minha existência literária, que não se cria expectativas com livros, mas também amo reviver e reaprender como é deleitoso criar essas expectativas. Conforme lemos bastante, tornamo-nos mais resistentes, e as exceções nos preenchem de prazer.
Diferente, portanto, de muitas obras que nos acostumamos, a autora explora com calma questões rapidamente trabalháveis. Essa escolha nunca trará um resultado perfeito, mas também não foi ruim. Graças à toda aquela perseguição nas favelas, quase meio do livro, conhecemos os personagens, mas ninguém ganhou de Cery nesse começo.
Vale dizer que Sonea teve um início de coadjuvante, espectadora da própria vida; tal como nós somos às vezes e outros, a vida inteira. Dado a proposta em si da obra, a construção de Sonea cativa, pois é, apesar de tudo, sensata e inteligente, que nasceu desprovida de recursos e, dado o contexto social, dum futuro. Seu crescimento é gradativo e, quanto à pessoa, advém logo depois dos entremeios da obra. Mas não espere uma deusa nascendo com um clique, ainda temos A Aprendiz! (A mentalidade que temos quando lemos um livro define e muito o que sentimos, acredito que se tivesse outra mentalidade, não teria um coração nesse livro e só uma troca disponível.)
A complemento, Sonea tem personalidade, comprovada em certas questões, mas muito o que crescer.
Dado que Sonea “estava de férias”, Cery foi o personagem principal até os entremeios da obra... não vou discursar muito quanto aos personagens exatamente por conta disso, foram apresentados, gosta-se de alguns, mas não se sabe tanto disso. Cery ganhou nossa simpatia, e tem o seu carisma.
Danny (nessa intimidade toda!) tem um pouco menos, mas vem logo atrás. Agora Rothen (este não “pega” bem diminutivos!) vai além de todos, a relação aprendiz e mestre enleva. Gostei muito de Rothen, da maneira que passou a, brevemente, questionar as questões sociais (o que pode nos agraciar com algum aprofundamento) e de como lapidara Danny (sim, são amigos e antiga relação de mestre e aprendiz; Rothen é de certa forma a causa de gostarmos tanto de Danny, o que aquece nossos corações quanto a Sonea e à A Aprendiz).
Em geral, os personagens trazem uma linha de sensatez humana e não vi os dedos invisíveis do autor na trama. Porque mesmo o "primeiro vilão”, pouco se espera dele; a obra mostra que, através dos seus feitos e personalidade, nada há para esperar dele.
Amei não apenas a obra quanto a autora, muitos livros subestimam a inteligência do leitor ou nota-se uma facilidade na trama, em nome e glória do autor; Trudi Canavan, contudo, é indireta. Um estilo que muito aprecio e identifico. Caso mantenha-se assim, deixarei de controlar o anseio de mostrar o quanto me senti fã dela com esse livro e acessar à sua página no Skoob... nem que seja por conta duma trilogia, estou disposto a clicar no coraçãozinho, porque a sensação que me trouxe vale mais do que isso.
Enfim, foi um livro introdutório. Abordarei mais os personagens depois. O fim da obra foi bom e me fez seguir para o próximo livro, não tive decepções, apenas uma eletricidade de alegria insaciável.
Tais foram as minhas primeiras impressões da obra.
Abraços!