GilbertoOrtegaJr 10/06/2014As Mulheres do Meu Pai José Eduardo AgualusaEscrever um livro onde tudo irá girar em torno de um personagem fascinante pode ser, muitas das vezes, um tiro no pé, já que se o personagem não for tão fascinante para o leitor quando o foi para o escritor o livro pode se tornar uma trama bem maçante. É óbvio que fiquei muito feliz ao acabar o livro e notar que Agualusa não cai neste erro no seu romance as mulheres do meu pai.
O romance conta a história de Laurentina, filha de pais africanos mas que mora em Portugal, quando a mãe dela morre deixa uma carta a ela dizendo que Laurentina é filha de Faustino Manso. A personagem então descobre que Faustino acabou de falecer deixando sete mulheres e dezoito filhos. Ela decide viajar a África e filmar um documentário sobre a vida de Faustino, e assim consequentemente tentar descobrir quem foi seu pai, e mais sobre sua própria história, por meio de uma viagem pelo sua do continente africano partindo de Angola com destino a Moçambique, gravando depoimentos sobre as história do seu pai e de suas várias mulheres. Junto com Laurentina está Pouca Sorte, motorista de uma espécie de táxi, Mauro; um primo recém descoberto de Laurentina, Mandume o namorado de Laurentina.
Como eu disse um dos grandes méritos do autor foi que dentro do livro não está somente em jogo a vida de Faustino Manso, pelo contrário entre a gravação de um depoimento ou outro o autor vai dando detalhes de como é os outros personagens, junto a isso foi sendo criado algumas sub tramas com personagens, ou histórias que aparecem e somem rapidamente deixando assim a história muito bem equilibrada.
Dentro da história temos vários narrados, estilos textuais (cartas, diários, depoimentos,) com capítulos bem curtos e gírias angolanas, mas isso não torna a história complexa, pelo contrário durante todo o livro o ritmo se mantém rápido e fácil de acompanhar, que por sinal me viciou a ponto de eu ler uma média de 50 páginas, ou mais por dia.
O livro vai além, muito além de uma história sobre a Vida do músico e compositor Faustino, enquanto os personagens viajam e ouvem histórias sobre ele vão sendo interligados reflexões sobre suas próprias vidas e identidade. É nesta forma que as mulheres do meu pai ao mesmo tempo em que o leitor vai conhecendo a vida dos personagens, também vai se deparando com um imenso painel do continente africano, não somente em personagens, mas em descrições das cidades, forma como se vive.
Cheguei ao final e me toquei que o livro não é somente sobre os personagens que nele aparecem, é uma grande construção que Agualusa faz, para dar ao leitor dimensões e noções de como é o continente africano, por meio de histórias insólitas e encantadoras. O que entra em jogo é a capacidade do autor de dar ao leitor um panorama da vida no continente africano, e isso ele faz com maestria.
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