Bianca232 20/06/2010Hell, de Lolita Pille
A francesa Lolita Pille estreou na literatura com apenas 19 anos – e já produziu barulho. Hell, seu primeiro romance, satiriza de forma corrosiva a juventude parisiense de classe alta, meio ao qual a própria autora pertence. Hell, a protagonista do livro, é uma figura tão atraente quanto repulsiva, que se vangloria de seu jeito fútil de ser. Ela gasta seu tempo comprando roupas de grife, faz sexo promíscuo e usa drogas como quem bebe água. Ao descrever os excessos desse universo, Lolita desagradou às altas-rodas de Paris: por causa de suas indiscrições, acabou sendo barrada em certos círculos.
Leia um trecho do livro:
Capítulo 1
Eu sou o símbolo manifesto da persistência do esquema marxista, a encarnação dos privilégios, sou os eflúvios inebriantes do Capitalismo.
Como digna herdeira de gerações de mulheres da sociedade, eu passo mais tempo na boa vida cobrindo de esmalte as minhas unhas, folgada tomando banho de sol, ou com a bunda sentada numa poltrona com a cabeça entregue às mãos de Alexandre Zouari, ou olhando vitrines na rue du Faubourg-Saint-Honoré, enquanto vocês passam o tempo todo trabalhando para pagar as porcariazinhas de que precisam.
Eu sou o mais puro produto da geração Think Pink, meu credo: seja bela e consumista.
Mergulhada na loucura policefálica das tentações ostentatórias, eu sou a musa da deusa Aparência, no altar da qual eu imolo alegremente todo mês o equivalente ao que você recebe como salário.
Um dia, eu vou detonar o meu visual.
Eu sou francesa e parisiense e estou me lixando pro resto, eu pertenço a uma única comunidade, a mui cosmopolita e controversa tribo Gucci Prada - a grife é meu distintivo.
Sou um pouquinho caricatural. Confessa que você me acha uma completa babacona com meu visual Gucci, o sorriso branco de louça de banheiro e os cílios de borboleta.
Mas é engano seu me subestimar, estas são armas ameaçadoras, é graças a elas que eu vou descolar mais tarde um marido que seja pelo menos tão rico quanto papai, condição sine qua non da razão desta minha existência tão deliciosa e exclusivamente fútil.