annacanedo 17/05/2013
Hell , um livro que vale a pena ser lido.
Ácido e catártico. Assim podemos definir o romance de Lolita Pille, Hell.
Logo na primeira frase do livro, nós leitores somos impactados pela escolha vocabular utilizada pela autora, Lolita não mede palavras e nem ao menos utiliza-se de eufemismos para definir Hell, sua personagem principal.
“ Sou uma putinha. Daquelas mais insuportáveis , da pior espécie; uma sacana do 16ème, o melhor bairro de Paris , e me visto melhor que sua mulher , ou a sua mãe.”
No entanto somos instigados a cada nova palavra a querer entrar de cabeça no mundo luxurioso e hipócrita de Hell. Ela é simplesmente um típico estereótipo da juventude parisiense, que vive a base de bebidas caras, drogas ilícitas e milhões de francos gastos em compras inúteis e desnecessárias em lojas como por exemplo a Dior. Através dela somos apresentados, então, aos melhores hotéis, clubes, baladas, e lugares a se frequentar , quando se tem como objetivo fazer parte da elite parisiense.
Fria, calculista, arrogante e muitos outros adjetivos nada agradáveis Hell conquista nas pessoas que a cercam sentimentos completamente antagônicos , ódio e amor , rejeição e aceitação , repulsa e admiração. Porém Hell é apenas uma garota de 17 anos , que quer ser amada , que quer encontra seu príncipe encantado , que quer viver sua juventude , que quer experimentar a vida de todas as maneiras possíveis , que quer na verdade fugir do seu vazio e corruptível mundo.
Andrea um homem de 22 anos que também mora no 16ème , é tão rico , poderoso , sedutor e repulsivo quanto Hell . Pertencente a mesma elite parisiense , donos dos mesmo costumes e defeitos Andrea traz em si a mesma inquietação que Hell . Apesar de tentarem a todo o momento dentro do romance transmitir a ideia de que estão plenos e felizes com suas vidas, Andrea e Hell deixam passar sutilmente para o leitor o quão enjoado estão da vida e do mundo em que vivem.
É através de Andrea , no entanto , que presenciamos Hell sair de sua zona de conforto e se permitir viver o mundo que ela acredita ser ideal . Com um romance iniciado meio que as avessas , o casal se distancia do mundo glamuroso e doentio em que vive e passam a conviver em um mundo onde só existem os dois , logicamente que apesar de ser como uma bolha o novo mundo deles , essa bolha é o que podemos chamar de ‘bolha dourada’ , pois apesar de denunciarem e de colocarem o dinheiro como o maior vilão em suas vidas , em momento algum eles deixam de desfrutar dos confortos que esse ‘vilão’ os oferece.
Caímos no clichê , na previsibilade quando finalmente temos então o amor entre Hell e Andrea como redentor de toda a vida ‘errada’ que tinham antes de se conhecerem. Somos alimentados então com romance a qual esperamos desde o inicio da narrativa , somos colocados de frente ao final feliz , somos então frustrados. Porque nessa historia que é transformação de um um real em algo ficcional o amor não é redentor e muito menos salvador de nenhuma das personagens .
Hell leva o tempo de seis meses para se ver enjoada do mundo que escolheu viver com Andrea , se vê cansada dessa vida sem ‘diversão’ , e acima de tudo se vê assustada diante dos seus sentimentos para com Andrea. É a partir desse ponto que toda a historia previsível se de desconstrói e a verdadeira historia do livro vem a tona . É a partir desse ponto , que se assim como eu você não for o tipo de leitor modelo , ou seja , aquele que não se envolve com a narrativa, você se vê entrando num estado de letargia e ressaca literária , no qual você se recusa a ler a ultima frase do livro , apenas para não encarar o fim logo abaixo .