Hannah Green 19/03/2024
Agora entendi porque é um clássico.
Eu tô embasbacada com diversas coisas que englobam essa obra.
Primeira delas: ele se passa em um único dia. A ideia de um livro cuja história está restrita às 24 horas de alguém, é tão surreal! Pensei que fosse ser uma bomba, tem muitas páginas, então como seria isso? Então, enquanto lia, e analisava as minhas próprias 24 horas, realmente, muita coisa acontece com a gente, e se pensamos, da forma como Woolf pensou, na vida de todas as pessoas que cruzam nosso caminho ao longo do dia, e o que acontece em suas casas, daria sagas e sagas de livros, pois cada segundo é um universo inteiro acontecendo ao mesmo tempo. Acho que entrou numa vive meio Efeito Borboleta enquanto lia.
Segunda: que fluidez impecável! No caso, não falo no sentido da história seguir um fluxo que faz você continuar, aquele sentindo de fluidez que é básico para que você não Abandone uma história, ou para considerar uma narrativa bem amarrada. Não. A fluidez que falo aqui, é a transição gradual e sutil de uma narrativa para outra. Num momento estamos lendo Mrs. Dalloway em seu dia, envolta em suas lembranças, e quando menos esperamos, esse retorno ao passado nos levou para os saudosismos de Septimus, e a confusão mental em que este se encontra, vai nos encaminhando para a angústia de Rezia, sua esposa, e todos os seus sentimentos e pensamentos nos retornam para o passado de Clarissa, de uma forma tão perfeitamente desenhada, que é como estar numa correnteza de um rio, seguindo o rumo das águas de forma tão natural, que é até surpreendente, e brinca com nossa mente, pois estamos lendo e de repente, aquilo já não é mais sobre Peter, é sobre Sally, mas ao mesmo tempo, existe uma interseccionalidade na história de ambos, por isso, na verdade, aquilo é sobre os dois, até que para de ser, e então enxergamos o limiar onde as histórias se desconectam e entram na particularidade de um ou de outro, nesse momento é justo quando percebemos estar lendo agora sobre outro personagem.
Terceira: não esperava o teor lésbico da história tão explícito. Conheço a história de Virginia, sei de sua sexualidade, e também sabia que Mrs. Dalloway trazia um pouco dessa sua verdade pessoal, mas não achei que fosse ser tão escancarado em pleno século 20, e vendo isso, entendi porque é um clássico, e porque a sigla é Lgbt, mulheres lésbicas sendo corajosas desde sempre, e carregando a luta nas costas desde o princípio de tudo.!!!