Paideia

Paideia Werner Jaeger




Resenhas - Paidéia


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Larissa2501 12/12/2023

Págs 538-601

Existe a teoria de que Platão não estava preocupado com a filosofia em suas obras, mas sim, estava desenvolvendo algo poético, nos seus diálogos, Sócrates é colocado como um "cérebro superior", ele nos dá a impressão do diálogo estar sendo guiado por mãos seguras de alguém com instinto para captar o essencial das coisas, isso, por conta da segurança metódica de Sócrates. Os seus diálogos contam com a casualidade, com questões pautadas na realidade, e é usada a indução, ademais, eles acabam em Aporia, ou seja, com uma grande interrogação no final de alguma questão que não foi resolvida.
Além disso, Sócrates tem um carácter artístico em seus feitos, ele antagoniza com os sofistas e foca na disciplina do espírito e no bem do conjunto social, usando o diálogo refutativo e de análise (ílenkhos), para poder elevar a força arquitetônica do espírito e encontrar, junto de todos, uma inteligência que agregue valor para todo o grupo.
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Lista de Livros 24/11/2022

Lista de Livros: Paideia: A formação do homem grego, de Werner Jaege
Parte I:

“Todo povo que atinge certo grau de desenvolvimento sente-se naturalmente inclinado à prática da educação. Ela é o princípio por meio do qual a comunidade humana conserva e transmite a sua peculiaridade física e espiritual. Com a mudança das coisas, mudam os indivíduos; o tipo permanece o mesmo. Homens e animais, na sua qualidade de seres físicos, consolidam a sua espécie pela procriação natural. Só o Homem, porém, consegue conservar e propagar a sua forma de existência social e espiritual por meio das forças pelas quais a criou, quer dizer, por meio da vontade consciente e da razão. O seu desenvolvimento ganha por elas um certo jogo livre de que carece o resto dos seres vivos, se pusermos de parte a hipótese de transformações pré-históricas das espécies e nos ativermos ao mundo da experiência dada.

Uma educação consciente pode até mudar a natureza física do Homem e suas qualidades, elevando-lhe a capacidade a um nível superior. Mas o espírito humano conduz progressivamente à descoberta de si próprio e cria, pelo conhecimento do mundo exterior e interior, formas melhores de existência humana. A natureza do Homem, na sua dupla estrutura corpórea e espiritual, cria condições especiais para a manutenção e transmissão da sua forma particular e exige organizações físicas e espirituais, ao conjunto das quais damos o nome de educação. Na educação, como o Homem a pratica, atua a mesma força vital, criadora e plástica, que espontaneamente impele todas as espécies vivas à conservação e propagação do seu tipo. É nela, porém, que essa força atinge o mais alto grau de intensidade, através do esforço consciente do conhecimento e da vontade, dirigida para a consecução de um fim.”
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Parte II:

“Para Platão, ao contrário dos grandes filósofos da natureza da época pré-socrática, não é o desejo de resolver o enigma do universo como tal que justifica todos os seus esforços pelo conhecimento da verdade, mas sim a necessidade do conhecimento para a conservação e estruturação da vida. Platão aspira a realizar a verdadeira comunidade, como o espaço dentro do qual se deve consumar a suprema virtude do Homem. A sua obra de reformador está animada do espírito educador da socrática, que não se contenta em contemplar a essência das coisas, mas quer criar o bem. Toda a obra escrita de Platão culmina nos dois grandes sistemas educacionais que são a República e as Leis, e o seu pensamento gira constantemente em torno do problema das premissas filosóficas de toda educação, e tem consciência de si próprio como a suprema força educadora de homens.”
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“Sócrates sempre se detivera no não saber. Platão, ao contrário, sente-se impetuosamente impelido a ir avançando até alcançar o saber. Apesar disso, é na ausência de saber que ele vê o sinal da verdadeira grandeza de Sócrates, pois Platão interpreta-a como as dores do parto de um tipo completamente novo de saber, que Sócrates trazia nas suas entranhas.”
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Parte III:

“O paralelo entre a construção ideal socrática e a imagem do ser humano mais belo indica qual é a verdadeira finalidade visada por Platão na República. O tema desta não é, em primeiro lugar, o Estado, mas sim o Homem e a sua capacidade para criá-lo. E, mesmo que Platão nos fale ainda de um paradigma do Estado, é evidente que este não se pode comparar à imagem do mais belo ser humano. O que corresponde a essa imagem é antes o tipo ideal do homem verdadeiramente justo, que o próprio Platão afirma constituir o objetivo do seu quadro301. O Estado ideal é apenas o espaço adequado que ele necessita para a edificação da sua forma. Essa caracterização do punho do próprio filósofo coincide com os resultados da nossa análise. A República platônica é, antes de tudo, uma obra de formação humana. Não é uma obra política no sentido habitual do político, mas sim no seu sentido socrático302. Mas a grande verdade educacional que a República ilustra plasticamente é a estrita correlação entre a forma e o espaço. Não é só de um princípio artístico que se trata, mas sim de uma lei do mundo moral. O homem perfeito só num Estado perfeito se pode formar, e vice-versa: a formação desse tipo de Estado é um problema de formação de homens. É nisso que se baseia o fundamento da correlação absoluta que existe entre a estrutura interna do Homem e a do Estado, entre os tipos de Homem e os tipos de Estado. E isso explica igualmente a contínua tendência de Platão a sublinhar a atmosfera pública e a sua importância para a formação do Homem.”
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Parte IV:

“Hegel escreveu a frase famosa de que o caminho do espírito é o desvio. Aparentemente, o caminho natural é aquele que conduz diretamente à meta. Mas às vezes separa-o desta um profundo abismo, oculto talvez à vista de quem o contempla, ou colocam-se diante dela outros obstáculos que impedem de a atingir diretamente. A superação desses obstáculos por meio de um desvio consciente que torna a meta acessível, ainda que não raras vezes por grandes dificuldades, constitui a essência de toda a investigação metódica, e especialmente do pensamento filosófico.”
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“A vida é breve, a arte longa, a ocasião fugidia, a experimentação arriscada, e o juízo difícil.” (Frase inicial do Livro dos Aforismos, de Hipócrates)
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Parte V:

“É por isso que a repulsa de Isócrates pelo amplo “rodeio” teórico de Platão cresce à medida que ambos mais parecem coincidir no tocante ao fim prático da sua educação. Isócrates só reconhece o caminho direto. A sua educação nada sabe da tensão interior que existe no espírito de Platão entre a vontade propulsora que o incita a agir e o retraimento proveniente da longa preparação teórica. É certo que Isócrates está suficientemente afastado da política cotidiana e dos manejos dos estadistas do seu tempo para compreender as objeções que Platão formula contra eles. O que ele, homem do meio-termo, não compreende é a radical exigência ética da socrática, que se intromete entre os indivíduos e o Estado. Procura melhorar a vida política por um caminho diferente do da utopia. Sente indubitavelmente a arraigada repugnância do cidadão culto e abastado contra as selvagens degenerações tanto do domínio das massas como da tirania dos indivíduos, e tem um forte senso íntimo da respeitabilidade. Não partilha, porém, o radical espírito reformador de Platão e nada está mais longe do seu espírito que o consagrar a vida inteira a tal missão. É por isso que não pode compreender a imensa força educativa que a atitude de Platão encerra, e lhe mede o valor pela possibilidade da sua direta aplicação aos problemas políticos concretos que a ele mesmo preocupam. Esses problemas são a situação interna da Grécia e as futuras relações dos Estados helênicos entre si, depois da grande guerra (do Peloponeso). A guerra pusera em evidência que o anterior estado de coisas era insustentável e urgia abordar uma reconstrução dos Estados gregos. Quando escrevia a Helena, Isócrates já encetara o seu grande manifesto, o Panegírico, que demonstraria aos contemporâneos a capacidade da sua escola para assinalar novos objetivos numa linguagem nova, não só para a vida moral do indivíduo, mas também para a Nação dos gregos em conjunto.”
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Ozeas 29/12/2021

Leitura hercúlea! ?
Werner Jaeger trata de um tema muito relevante, a ??????? (Paideia). Esta palavra é intraduzível para o nosso vernáculo.

É praticamente impossível resenhar essa obra tão magnífica. Mas, vamos lá...

Paideia (???????) é uma palavra que designa um sistema de educação integral, para a formação de um cidadão perfeito. Trata-se de um termo do grego antigo, empregado para sintetizar a noção de educação na sociedade grega clássica. Inicialmente, a palavra (derivada de paidos ? ????? [pedós] - criança) significava simplesmente "criação dos meninos", ou seja, referia-se à educação familiar, os bons modos e princípios morais. Será na mesma Grécia que se inicia um modelo de educação com um sentido relativamente semelhante ao que se utiliza hoje.

O autor descreve que Platão define Paideia da seguinte forma ?[?] a essência de toda a verdadeira educação ou paideia é a que dá ao homem o desejo e a ânsia de se tornar um cidadão perfeito e o ensina a mandar e a obedecer, tendo a justiça como fundamento?

Além de abordar a interação dos povos gregos, o autor faz uma contextualização de várias obras gregas, cito, como exemplo, ?A República? de Platão. Jaeger nos fornece todo o pano de fundo para o surgimento de cada obra grega, com quem e porque cada autor dialogava com outras obras.

Enaltece Homero, Hesíodo, Sólon, Ésquilo, Sófocles, Eurípedes, Aristófanes, Sócrates, Platão e tantos outros, de forma condigna.

É uma obra altamente relevante! Além de compreendermos a interação do povo grego, entendemos, também, as obras literárias produzidas por aquele povo.

O autor é ousado nessa obra. A Gênese proposta pelo autor faz jus ao nome, retrata fatos ocorridos em aproximadamente 1.184 a. C, ou se preferir, AEC. A partir dessa data, Werner galga cada lapso temporal de forma sublime.

Escrita agradabilíssima! O tradutor merece muitas Folhas de Louro, fez uma tradução exímia!

Só ressalto um ponto que o(a) leitor(a) precisa estar atento(a): é uma obra viciante!! Cada linha saboreada parece que encostamos em uma urtiga, pois o nosso corpo fica numa coceira só, ansiando por saber o que virá depois. ? Kkkkk!

Essa é uma das poucas Obras escritas que não deve ser lida nem estudada, deve ser DEGUSTADA. Cada página, cada parágrafo, cada linha, cada palavra, cada caractere é etéreo!
Bruno.BonfA 19/10/2022minha estante
Convidativa a exposição que traz com simplicidade o eixo da obra, valeu!!




Maurino 01/05/2012

A emergência do Homem como Idéia.
Não é, de maneira alguma, um empreendimento simples resenhar uma obra como a Paidéia: a formação do homem grego; do filólogo alemão Werner Jaeger (1888 – 1961) - que foi, durante vinte anos, um influente professor em Harvard. Ora, tal dificuldade não se deve apenas à sua descomunal extensão - 1413 páginas em sua edição brasileira – mas principalmente à responsabilidade, naturalmente requerida, por se tratar de um notório clássico, que obteve uma imensa repercussão, não só em meio ao público em geral, para o qual ele foi originalmente escrito, como também no mundo acadêmico, onde foi ainda mais influente e marcou várias gerações.
Elaborado na década de 1920, em meio à primeira grande guerra mundial, quando toda a população planetária se impactava frente à avassaladora experiência histórica, ele tinha claramente a intenção de influenciar a cultura ocidental a reexaminar os seus próprios valores. Sim, o gentil e sereno helenista Jaeger tinha um ideal; e este só poderia se enraizar na experiência histórica da Grécia Antiga – quando filósofos, historiadores, oradores e poetas pujantemente o expressavam, como princípio formativo. Trata-se, como ele mesmo diz, do ideal grego de formação humana.
E abre-se um mundo na Grécia Antiga. Talvez pudéssemos, citando Höderlin, enunciar, em relação ao projeto de Jaeger, que dificilmente o que habita perto da origem abandona o lugar. Mas, o que então se revela na aurora grega? E qual seria o destino da nossa civilização? Parece-me que, pelo contrário, é no destinar-se que o homem se hominiza; que se constitui enquanto homem. Esse termo, destino, que lhe é tão caro e profusamente usado em toda a extensão da obra é menos um fim pré-determinado do que um processo dinâmico de formação, ou cultura, como a totalidade da obra criadora de um elevado tipo de Homem. Paidéia é a palavra utilizada para significar educação, a qual, para o autor, só começa com os Gregos. Portanto, enquanto momentos do tempo, passado, presente e futuro se fundem, sem se confundirem, numa vigorosa destinação epocal do Ser.
A Paidéia é mesmo um livro sobre a educação, mas sobre como Jaeger a entendia: um processo supremamente humano de formação, ativo e coletivo; um sentimento universal, ou expressão do espírito, em direção ao que os antigos conheciam como areté, ou virtude, excelência; fundamental ao que se entende nos dias de hoje como civilização. A história grega é, portanto, a história da educação como princípio de uma nova valoração do homem; que, jazendo na obscuridade, ainda viceja como consciência de si, na Europa Contemporânea. Entretanto, o uso freqüente de palavras como alma e espírito denuncia não só o escolasticismo como também a celebração de um ideal aristocrático, pouco disfarçado, que permeia toda a obra – talvez seja por isso que William Calder, no Dictionary American Biography, desconfie de um certo tom de evangelicismo humanista latente no livro.
Ademais, vários outros manifestaram críticas a seu respeito. Hugh Lloyd-Jones, por exemplo, se referiu à Paidéia como uma aborrecida história da civilização grega vista de uma perspectiva escolástica; já Arnaldo Momigliano, embora tenha admirado sua originalidade e sutileza, critica veementemente a insuficiência de referências, no que concerne à história social, econômica, jurídica e política da Grécia; enquanto Moses Finley, ratificando algumas acusações quanto ao caráter antidemocrático da obra, observa a falta de alusão à escravidão. Não obstante, afirme-se o que se quiser, essa expressão histórica do espírito na literatura e poesia tão representativa da areté humana – de acordo com as palavras de Jaeger – tem ainda muito a nos ensinar. De fato, a Paidéia é muito mais do que a celebração de um ideal, ou meramente um eloqüente e informativo guia de literatura grega, produzido por um acadêmico de notória confiabilidade, conhecimento enciclopédico e extraordinária imaginação. A Paidéia é também o resultado de uma atitude; de certa pré-concepção de filosofia – como talvez nos dissesse Martial Guéroult. Assim, deslindando a sua história da educação, ou da formação do homem grego, Werner Jaeger nos instrui quanto à sua própria filosofia. Em uma era marcada pelo individualismo moderno, ele sabe muito bem onde encontrar o seu ideal: na antiga cultura grega – talvez, mais explicitamente em Platão, o modelador de almas. Assim como vê na República, o mais formoso estudo jamais escrito sobre educação, nas Leis Jaeger afirma que Platão esboça uma definição da Paidéia oposta ao saber especializado dos homens, ou seja, como a essência de toda a verdadeira educação: educação na areté que enche o homem do desejo e da ânsia de se tornar um cidadão perfeito, e o ensina a mandar e obedecer, sobre o fundamento de justiça. De acordo com a sua própria definição, enquanto um ideal vigoroso a Paidéia é
O fenômeno imperecível da educação antiga e o impulso que a orientou, a partir da sua própria essência espiritual e do movimento histórico a que deu lugar.
Dividida em quatro extensos livros, a Paidéia ressalta que a educação e o desenvolvimento social e cultural que dela advêm, resultam - em seu início glorioso, na Grécia – da consciência das normas e valores que regem a vida humana em sociedade - numa espécie de união espiritual viva e ativa e na comunidade de um destino. E essa nova concepção de educação, que se confunde com a própria cultura grega, na medida em que ia avançando no devir histórico ia sendo gravado na consciência dos homens como o sentido e a justificação última de sua humanidade; isto é, ela ia se essencializando em vicissitudes de destinações e de retenções do Ser como totalidade.
Seja em Homero, Hesíodo, Sólon, Ésquilo, Sófocles, entre os sofistas, Eurípedes, Aristófanes, Sócrates ou Platão; um ideal próprio de formação humana – donde brota o impulso criador do espírito do povo – se eterniza como destino e ainda se mantém; enquanto virtualidade. Em todas as criações desse espírito grego repousa a continuidade e descontinuidade das épocas históricas. Irrompendo da Idéia, como seu autêntico Ser, o homem grego de Jaeger, que se revela nas grandes obras do espírito como homem político é a locanda, em cujo espaço se desdobra a verdade dos entes. Esse homem é histórico, na medida em que faz e é feito pela História. Eis a minha sucinta compreensão da Paidéia, esse livro fantástico e imprescindível que Werner Jaeger nos dispõe.
Bruno.BonfA 19/10/2022minha estante
Poxa, este detalhado relato é um estudo que dimensiona de maneira ampla a tradição à qual a obra se insere e aos desafios à qual a obra se propõe. Valeu demais!!




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