Zilda Peixoto 13/08/2013
Easy
Ser breve tem sido uma das tarefas mais difíceis quando o assunto é New Adult. Esse gênero que veio pra ficar e que vem deixando muitos leitores de cabelo em pé. Falar sobre o que nos agrada é ainda mais difícil do que falar do que nos desagrada. Pois ficamos numa situação bem complicada quando a vontade que temos é de esboçar em poucas linhas apenas interjeições e elogios inflados de amor a respeito do livro. Se existe uma frase que expressa muito bem essa sensação seria: _ Gente, que livro lindo! Maravilhoso! Perfeito! Sensacional! etc e blá-bla-blá. Mas de fato não seria justo e muito menos apropriado recomendá-lo com alguns adjetivos. Por isso quero expressar minha satisfação em falar de mais um grande sucesso publicado recentemente pela editora Verus. Escrito por Tammara Webber, Easy é a prova real que bons livros vêm surgindo para solidificar a ascensão deste gênero que vem conquistando mais leitores todos os dias.
Easy conta a história sobre a perspectiva de Jaqueline, uma jovem musicista, linda e inteligente que namora Kennedy, líder da fraternidade. Seu relacionamento com Kennedy durara três anos e durante todo esse tempo, Jack acabou se tornando uma sombra do namorado. Frequentar uma universidade estadual estivera longe dos seus planos, já que sua escolha era seguir a carreira como musicista em uma orquestra, mas seguir Kennedy era a única coisa na qual Jack tinha como meta. Por esse motivo, quando Kennedy decide dispensá-la sem a menor consideração, Jack se encontra num beco sem saída.
Após o término do namoro, Jacqueline descobre que sua vida social se resumia a companhia de Kennedy. E como se não bastasse Jack sofre uma tentativa de estupro de Buck, um colega de fraternidade do namorado.
A vida de Jack tomará um rumo muito diferente do que ela almejava. Graças a Lucas, um aluno que cursa a mesma matéria que Jacqueline na universidade, que o ato em si não fora consumado. Sentindo-se completamente desamparada Jaqueline se isola por duas semanas das aulas. Após curtir uma fossa daquelas, Jack retorna a universidade para tentar retomar a sua vida pós-Kennedy. Prestes a ficar reprovada em Economia, coisa que jamais seria possível visto que, Jaqueline possuía excelentes notas. Jacqueline tem a difícil tarefa de recuperar suas notas e conviver com a presença de Lucas fazendo-a relembrar dos momentos de terror que passou nas mãos de Buck. A partir daí, Lucas passa a ser notado por Jack por todos os lados por onde anda.
A história de Jacqueline e Lucas começa a ficar interessante a partir desta troca de olhares e daí por diante a narrativa ganha dimensão. Primeiramente vamos esclarecer alguns pontos que não podem ser deixados de lado. Em primeiro lugar: Deixem as comparações de lado, por favor! Belo Desastre e Easy são completamente diferentes.Quem não curtiu Belo Desastre, poderá AMAR Easy e vice-versa. Portanto, muita calma nessa hora!
Travis e Lucas não têm absolutamente nada que em comum, a não ser seus corpos sarados e gostosos, e tatuagens que afloram nossa libido. Fora isso, eles são bem diferentes. Travis é cachorro louco. Obcecado, agressivo, extremamente doentio e por esse motivo que sou apaixonada por ele. Nenhum outro personagem foi capaz de despertar sentimentos tão ambíguos e contraditórios quanto ele.
Lucas é o oposto. Apesar da sua aparente indiferença em determinados momentos, Lucas se demonstra um ser humano mais equilibrado, pé no chão, extremamente gentil e carinhoso. A relação que ambos mantém com seus respectivos alvos, digo: Abby e Jack são opostas. Por tais diferenças não sou a favor de comparações entre os dois livros em questão. Devemos nos deter apenas a classificação enquanto ao gênero a qual pertence. No mais, o leitor perceberá imediatamente diferenças gritantes sobre os dois.
Levei muito tempo para me recuperar de Belo Desastre. Aquela sensação de ressaca e vazio se instalou e perdurou por longos dias e quando eu não imaginava passar tão cedo pela mesma situação eis que Tammara Webber me encurrala sem possibilidade de defesa. Fui pega de surpresa. Estive na retaguarda por muito tempo. Outros me tentaram persuadir. Noah ( No Limite da Atração) passou por mim e deixou sua marca, nada tão significativo como Travis, mas Lucas definitivamente irá deixar sua marca muito mais forte. Digo isto ressaltando a sua gentileza e doçura além dos músculos e sua incontestável virilidade.
Você deve estar se perguntando o porquê de tantas comparações a outros protagonistas do gênero? Ora, para entendermos o que difere Easy dos demais livros é preciso partir de suas características mais importantes, se não cairíamos na armadilha de dizer que é tudo farinha do mesmo saco. E certamente não é.
O gênero New Adult se caracteriza por narrar conflitos que atingem a fase de transição da adolescência para a maturidade, visto que a idade desta transição difere entre jovens daqui para os jovens dos Estados Unidos, por exemplo. O primeiro emprego, o ingresso na faculdade, os conflitos familiares, o sexo, todos esses assuntos são abordados com mais naturalidade e principalmente, eles são abordados sem a superficialidade recorrente dos livros YA.
Eu poderia passar dias falando a respeito e escrevendo inúmeras listas para destacar a sua importância dentro da literatura, mas o que realmente importa é frisar a importância de Easy dentro do cenário atual. Tammara Webber reuniu vários desses elementos para compor Easy, mas o que leva a autora a categoria dos autores dignos de atenção foi a acertada escolha em inserir um assunto tão delicado a sua narrativa. Falar de estupro nunca foi fácil e, acredito que muitos ainda se sentem desconfortáveis com o assunto. E por esse motivo devemos prestar bastante atenção ao livro.
Como é comum a qualquer livro que se destaque muitas pessoas tendem a nivelá-lo ou até mesmo compará-lo dizendo que Easy trata-se de mais um New Adult. Como fã do gênero em questão, afirmo dizer que não é este o caso. Após conhecer alguns livros que fazem parte do gênero posso destrinchar as diferenças entre cada um deles, e por esse motivo afirmo que Easy é um livro completo. Eu estaria sendo leviana se não expusesse o que muitos se questionam. Easy é um livro que explora quase todos os elementos presentes no gênero. Porém, Tammara escolheu centralizar seu romance no comportamento de seus personagens.
O sexo, na maioria das vezes tão focado neste tipo de narrativa fora inserido de forma bem idealizada, quase subjetiva. Não que as cenas de sexo não tivessem tanta importância, pois sabemos que assim como na adolescência, na maturidade ele é tão valorizado quanto. Mas o fato é que a autora decidiu não explorar o assunto como se fosse a mola propulsora que despertasse o interesse do leitor.
Partindo do ato criminoso de Buck, o sexo com responsabilidade ou sexo tido como arbitrário, ambos são abordados com profundidade e, não apenas como um ato explosivo e puramente instintivo. Vale acrescentar que falar sobre o assunto estupro numa narrativa onde o romance deve ser destacado é tarefa muito difícil.
Não posso negar que durante a leitura me comportei como uma típica adolescente emitindo sons incompreensíveis e soltando suspiros a cada palavra proferida por Lucas. Isso sem contar as cenas extremamente sensuais e envolventes que só a autora poderia escrever com tamanha simplicidade. Coisas do tipo: “Ai, meu Deus”, “Nossa Senhora”, “Ai, Jesus” , ou seja, a blasfêmia nunca foi tão praticada nos últimos tempos. Levantar o nome do senhor em vão é pecado, mas pecado mesmo é o que a autora faz com o leitor. De um jeito simples, Tammara nos conquista com sua escrita fluída, gostosa e quase despretensiosa. Levei mais tempo do que gostaria com o livro, mas o que realmente eu não desejava era que o livro terminasse. Por mais que eu interrompesse a leitura propositalmente era difícil se desligar da narrativa sem maiores traumas.
Gostaria de ter a oportunidade de dizer para a autora: Muito obrigada! Muito obrigada por me proporcionar tamanha alegria. Alguns de vocês devem estar se perguntando se Easy é o melhor livro do gênero? A resposta é não. Apesar de tantos elogios e recomendações, Easy deve ser intitulado como “um New Adult especial”. Faltou pouco para que ele de fato ocupasse essa posição. Em determinados momentos senti falta de mais ação, ou pelo menos mais tensão entre um diálogo e outro. Mas fora isso, ele corresponde todas as expectativas.
Outro ponto importantíssimo foi a construção dos personagens secundários. Erin, a melhor amiga de Jack tem sua importância dentro da narrativa assim como a personagem principal. Normalmente, alguns autores decidem explorar tais personagens com superficialidade. Não é o caso de Erin que tomou as rédeas da situação e se mostrou muito mais do que apenas um rostinho bonito com uma personalidade fútil. Tammara destaca o valor da amizade e reafirma o conceito de que as aparências enganam, e muito. E como não poderíamos esquecer Jaqueline.
Como de costume em romances do gênero a mocinha aqui não é ingênua e tampouco frágil. Jack demostra ser muito mais forte do que aparenta. O trauma vivido pela personagem e a maneira como ela optou conduzir sua vida após o incidente é o reflexo do que realmente acontecem todos os dias com vítimas de estupro. Por isso, Tammara foi cautelosa e ao mesmo tempo incisiva ao descrever os conflitos gerados para compor sua narrativa.
Mas nem só de tensão é feito o livro. Os trechos mais descontraídos ficam a cargo de Erin que, com suas teorias machistas e conservadoras tornam a vida de Jaqueline muito mais alegre:
"Olha, homens são como cachorros. As mulheres sabem disso desde o início dos tempos. Homens não querem ser perseguidos, eles perseguem. Assim se você quiser pegar um deles, você terá que saber como fazer com que ele persiga você."
Kennedy, o ex namorado de Jack não merece nem consideração, pois demonstra ser um jovem extramente frio e calculista. O oposto de Lucas – “o genro que toda mãe gostaria de ter”. Ou não. A quem julgue as pessoas por sua aparência e por esse motivo Lucas poderia facilmente ser julgado. As tatuagens exibidas em seu corpo traduzem muito bem essa dicotomia entre a sua aparente agressividade e doçura.
O perfil traçado por Tammara faz com que o leitor se apaixone pelo personagem. Apesar de Lucas ser um atrativo e tanto para que o leitor seja envolvido dou os maiores créditos a Jaqueline. A autora provou mais uma vez que para construir uma narrativa sólida e envolvente não é preciso recorrer ao caricato; que personagens femininas não necessariamente precisam ser frágeis e ingênuas, e na maioria das vezes incoerentes com suas atitudes para provar que podem superar seus traumas. E como não poderia deixar de citar que, ceder ou não aos encantos dos mocinhos é algo completamente plausível diante das circunstâncias. Transitar entre sentimentos tão intensos é tarefa para poucos.
No mais deixo minha admiração pela autora. Pelo seu cuidado, empenho e dedicação na composição de um livro tão incrível. Difícil é conseguir suprimir a saudade que Easy deixará. A autora disse que pretende escrever uma continuação sobre a perspectiva de Lucas. *para nossa alegria
Em tempos onde tantos autores recorrem a infindáveis séries para surrupiar nossos bolsos isso é de extrema importância.
Em suma, indico a leitura a todos os leitores sem contraindicações. Aos que ainda não se aventuraram a conhecer o gênero, Easy é uma excelente escolha. Aos fãs do gênero certamente o livro agradará apesar de, Easy ocupar um lugar modesto entre os livros do gênero. Pelo menos por aqui ele vai galgando o segundo lugar entre os melhores livros do gênero lançados até o momento.
Leitura fácil e extremamente viciante Easy pode facilmente se tornar um dos seus queridinhos.
site: http://www.cacholaliteraria.com.br/2013/08/resenha-easy-tammara-webber.html