O Alienado

O Alienado Cirilo S. Lemos




Resenhas - O Alienado


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Antonio Luiz 05/07/2012

Audaciosamente indo aonde os gêneros literários se encontram
Uma discussão recorrente na ficção científica, assim como entre os leitores de obras de fantasia, terror, policiais e similares é se um texto pode ser ao mesmo tempo um paradigma do gênero e uma obra respeitável como literatura sem adjetivos. Ao interessarem leitores de todas as categorias, obras como as de Jorge Luis Borges e Aldous Huxley ainda podem ser consideradas fantasia ou ficção científica, ou transcenderam os gêneros?

"O Alienado", de Cirilo Lemos, dá uma oportunidade interessante de pensar sobre essa questão. Como romance novo de um autor iniciante (salvo por alguns contos dispersos por antologias temáticas), não tem a aura dos clássicos ou o selo de qualidade do tempo e da crítica para colocá-lo no patamar da “grande literatura”.

Mas é um livro no qual se pode ver em ação temas típicos da ficção científica, como distopia, manipulação de mentes e mundos virtuais, combinados com jogos surreais de fantasia e um estilo bem cuidado, exploração séria de dramas pessoais e sociais e uso hábil de recursos estéticos da literatura moderna. De quebra, integra capítulos narrados na forma de história em quadrinhos – e vale a pena avisar o leitor mais convencional que não são meras ilustrações ou enfeites da edição e sim passagens essenciais à trama.

E então? É uma ficção científica à maneira de Ray Bradbury, uma fantasia weird ao estilo de China Miéville ou deveria estar na mesma prateleira que, digamos, Italo Calvino? Um pouco de cada coisa, ou melhor, muito de cada coisa e tudo junto e misturado, é-se tentado a responder – e quem gosta de qualquer um desses três autores provavelmente também gostará de O Alienado. Como o gato de Schrödinger, aquele que estava vivo e morto no mesmo momento, simultaneamente flutua entre as categorias e encaixa-se confortavelmente dentro de cada uma delas.

Para resumir o argumento, Cosmo Kant, que a princípio parece ser apenas um operário com nome “de filósofo” (ou de super-herói de gibi) que sofre de ocasionais alucinações, se vê envolvido em acontecimentos cada vez mais extravagantes. Ao tentar obter respostas para suas perguntas, com a ocasional interferência de um estranho personagem chamado Forasteiro, descobre ser o pivô de uma guerra secreta travada por inspetores a serviço dos autoritários Metafilósofos, para os quais a realidade está sempre em risco de aniquilação total e a disciplina e a abolição da individualidade são a única defesa. Mas não basta desvendar as falsidades do regime, pois talvez não haja nada por trás delas e a própria tentativa de derrubá-lo seja sua forma de se renovar. A história é narrada na maior parte no presente pelo protagonista, mas em alguns capítulos e passagens a palavra é passada a outros personagens.

Pode-se reconhecer influências e citações quase explícitas de Franz Kafka, George Orwell e Dante Alighieri, bem como de "Laranja Mecânica", "Inception", "Matrix" e histórias em quadrinhos (principalmente "Os Invisíveis", de Grant Morrison), mas a trama é consistente em si mesma e não é preciso identificar essas alusões para entendê-la. É um livro que provavelmente não funcionará bem nas mãos quem está acostumado com narrativas lineares, motivos simples e arquétipos fáceis de reconhecer, mas tem muito a oferecer a um leitor escolado e atualizado em técnicas literárias e temas da ficção especulativa. Não que a linguagem seja obscura ou pedante. Uma amostra:

"Estou a ponto de desligar o telefone quando ela tenta a última jogada:

– Encontrei a caixa.

– Que caixa?

– Aquela com a papelada de sua mãe que você insistiu que eu queria esconder. Está aqui. Quero entregar a você, como prova de que só quero o seu bem.

A Razão se desespera: é uma armadilha, seu trouxa, logo agora ela ia encontrar a porcaria da caixa?

Marque um encontro com ela, querido. Vocccê verá que tudo não passsou de um lamentável equívoco. Ela lhe entregará a tal caixa e verá que não há nada de errado com sssua vida ou com ssseu passsado. A vida ssseguirá adiante como sssempre foi.

Mais uma vez, o conselho que vence a disputa para guiar minha decisão vem do Verme de Mel.

Ah, fodam-se, diz a Razão.

Deixe ela, querido. Sssó está um pouco irritada porque é uma má perdedora. Faça o que tem de fazzzer.

– Tudo bem – digo para Maria Cecília. – Encontro você pela manhã no Parque. Leve a caixa e vá sozinha.

– Está falando como personagem de filme. Com quem mais eu iria?

– Sozinha – repito, e bato o telefone com força.

Um pouco de delicadeza não faria mal, resmunga o aparelho".

É a habilidade e a criatividade ao narrar, mais que o tema ou a aprovação dos professores, que põe a obra em condições de interessar a quem se sente à vontade com a arte literária. Uma obra como "Fundação" de Isaac Asimov ou "O Senhor dos Anéis" de J. R. R. Tolkien pode ser um marco em seu gênero, pode ter trazido novos temas à ficção científica e fantasia, respectivamente, e ainda seduzir quem gosta da especulação pela especulação, mas são insossos para quem busca outro tipo de experiências na literatura, enquanto a maioria dos autores clássicos ou modernos que preferem fazer ficção abordando o quotidiano de maneira criativa, são, em geral, vistos como aborrecidos para quem busca o estímulo do insólito.

Mas há obras como as de José Saramago e Moacyr Scliar, para quem se aproxima pela vertente tradicional, ou Philip K. Dick e Kurt Vonnegut, para quem chega da literatura especulativa, onde as qualidades dos dois tipos de literatura se encontram e facilitam a dissolução dos preconceitos e o trânsito de leitores entre os gêneros. Independentemente de qualquer juízo de valor que o compara a esses exemplos mais conhecidos, "O Alienado" pertence dignamente a essa intersecção. Não é um romance dos mais indicados para principiantes, mas ainda que seja difícil decidir a qual das linhagens deve mais, quem aceitar o desafio e souber encontrar as chaves de seus labirintos deve estar em condições de se aventurar em todas as vertentes da literatura contemporânea. Difícil definir com mais precisão um romance tão interessante: mais vale citar outro trecho para que ele mesmo se explique:

"Contra a luz ligeiramente mais forte do fim do corredor, cinco sombras se erguem simetricamente. À frente de todas, o Líder. Ele abre os braços quando me aproximo:

– Estávamos aguardando sua chegada, AM013. Espero que aprecie sua estadia conosco.

– Está frio aqui – murmuro.

– É o banho químico – ele responde. – E nosso aquecimento já viu dias melhores. Está na nossa lista de prioridades para o próximo semestre. Não é mesmo, senhores?

Os homens, todos absolutamente Iguais em aparência e trejeitos, balançam a cabeça, concordando.

– Venha. Vou mostrar suas acomodações.

Seguimos com o cortejo de Iguais atrás de nós. Todos se vestem da mesma maneira, rostos inexpressivos e artificiais como máscaras de látex. Até mesmo o Líder se parece com eles, mas há algo que os distingue dos demais, algo indefinível, talvez um toque de individualidade que o separa um tantinho dos outros, só o suficiente para comandar.

A mão direita dele toca minha cicatriz. Sente-a em toda sua extensão até a nuca. Uma desagradável sensação de submissão.

Ele sorri de forma insondável

– Belo trabalho. Realmente muito bom".
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Rubem Cabral 14/08/2012

Ótimo quebra-cabeça multifacetado
O que se dizer sobre "O Alienado"? Bem, não estou acostumado a escrever resenhas, então desculpem-me de antemão as besteiras e permitam-me destacar qualidades (muitas) e defeitos (poucos) da obra.

Começo pelo projeto gráfico do livro: primoroso. A capa é muito bonita, com desenhos misteriosos e abusando dum tom de laranja queimado que resultou num todo muito harmonioso. Há "remalina" nas bordas das páginas do livro, "durex", caracteres como que impressos em velhas impressoras de martelos ou matriciais e (ótimos)quadrinhos. Estes últimos não ilustram somente o livro, mas contam trechos importantes da história.

E de que se trata o livro? Vou tentar não expor spoilers. O livro conta a história de Cosmo Kant, um operário, às voltas com misteriosos metafilósofos e agentes.

Logo, logo o leitor esbarra com capítulos curiosos, apresentando personagens aparentemente não conectados à história principal. Pois é, mais adiante começamos a juntar as pontas soltas e nos descobrimos num emaranhado de múltiplas camadas e também não-linear.

Não fosse o estilo limpo, sem muitas firulas do Cirilo, o livro poderia resultar em algo muito, muito hermético, como uma mistura de Inception com Memento, capaz de causar falência neuronal nos incautos.

Mas talvez aí, nestas descrições simples e na prosa fácil, eu não tenha me encontrado muito. Não li muito do Cirilo, mas gosto de estilos mais descritivos, sinestésicos. Gosto de vez ou outra ler alguma metáfora bonita ou frase de estrutura incomum. Tenho apreço por estilos caudalosos, por frases enormes...

Não sei se o autor poderia ter usado somente o recurso das camadas, sem abrir mão da linearidade, possibilitando assim por outro lado "complicar" um pouco mais a prosa sem tornar o livro indigesto, não sei. Para o meu gosto pessoal, esta prosa sem arroubos estilísticos é funcional, mas não me fala ao coração (risos).

Não iria comentar, mas meu eu-psicólogo-de-cabeceira notou que talvez o personagem Virgílio seja um alter-ego do próprio autor. Notei também que o livro faz uso de uma visão muito masculina da realidade e que talvez o autor teve/tenha/gostaria de ter tido uma relação muito próxima com o pai, tamanha a delicadeza e beleza da construção do arquétipo do pai-herói em certas partes do livro.

Leiam e fascinem-se com o livro. Cirilo talvez ainda não seja um autor muito conhecido, mas O Alienado está anos-luz a frente da grande maioria dos livros de fantasia/ficção nacionais.
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Van Siqueira 24/09/2018

Resenha: O Alienado – Cirilo S. Lemos
De início, temos a história de um garotinho que tinha um melhor amigo, chamado Virgílio. Eles são inseparáveis e passam muito tempo juntos. Porém, a mãe do garotinho não quer que ele veja mais o Virgílio, pois não acha boa influência para o filho, devido sua origem pobre e seus problemas familiares (mãe promiscua e pai ladrão). Virgílio por sua vez, é um menino muito inteligente, um grande leitor e questionador nato. Ele apresenta muitas ideias e opiniões sobre diversos assuntos, envolvendo o garotinho e fazendo-o pensar.

No livro temos também a história de Cosmo Kant, um operário habitante da Cidade-Centro que, após vários acontecimentos desencadeados por tonturas e vertigens, vê um homem sair do espelho do banheiro de sua casa, fazendo com que ele duvide da realidade e de sua sanidade mental.

E entre uma narração e outra, temos fragmentos do romance (não é uma história de amor) escrito por Cosmo. Sem contar alguns quadrinhos, ilustrando partes da história, trazendo uma certa dinâmica para a leitura.

No início do livro, eu fiquei um pouco confusa com as histórias diferentes que eram contadas e tentava entender onde tudo se encaixava. A leitura exige atenção e tranquilidade para absorver a história e compreender as referências citadas. Porém quando as coisas começam a fazer sentido (se posso dizer que em algum momento fizeram), é impossível largar a leitura.

Diversos temas são abordados e um deles é sobre a sociedade em que estamos inseridos, onde somos diariamente obrigados a seguir um padrão, seja físico, psicológico e moral. Sociedade que tenta a todo custo subtrair nossa individualidade, nossa singularidade, tentando apagar quem somos de verdade e nos moldar de acordo com seus ideais, quer concordemos ou não.

Eu não conhecia o autor, conheci através da Editora Draco que me forneceu o livro e pude conhecer um pouco da escrita do Cirilo Lemos. Indico o livro para quem gosta de ficção científica, mas além de tudo, para quem gosta de histórias que nos fazem entrar em estado de reflexão.

site: https://leituraseriada.wordpress.com/2018/09/24/resenha-o-alienado-cirilo-s-lemos/
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Bruno 23/10/2012

Quem tem acompanhado o trabalho de editoras nacionais dedicadas à ficção de gênero, como a Draco ou a Estronho, possivelmente já tenha se deparado com o trabalho do escritor fluminense Cirilo S. Lemos, em coletâneas como Imáginários vol. 3 e Dieselpunk – arquivos confidenciais de uma bela época. É fácil identificá-los: são contos provocantes, com linguagem cuidadosa, e geralmente algum tema ou elemento surpreendente e inesperado; o tipo de história que te deixa com vontade de conhecer o autor melhor, e ler algum trabalho mais longo seu. O Alienado, enfim, é essa oportunidade, o seu romance de estréia publicado no começo deste ano.

O livro conta a história de Cosmo Kant, operário habitante da Cidade-Centro, que, após uma série de acontecimentos que começam com vertigens e tonturas e culminam com um homem atravessando o espelho do seu banheiro, começa a questionar a vida pacata que leva e a realidade das torres de aço e vidro que o cercam. O nome de filósofo, assim, não é exatamente à toa: ele entra a partir daí em um jogo de gato e rato contra o governo da cidade, enquanto tenta lidar com os eventos estranhos que passam a rodeá-lo; a trama lembra bastante certos filmes de ficção científica em que a-realidade-não-é-o-que-parece, como Matrix ou (acho que com mais força) Cidade das Sombras, se desenvolvendo como um thriller filosófico repleto de questionamentos e alegorias sobre as idéias de pensadores clássicos.

Isso se reforça ainda com a estrutura fragmentada da narrativa, que constantemente vai e volta no tempo, e utiliza diversos recursos linguísticos, inclusive algumas passagens ilustradas, como uma história em quadrinhos. Em um momento temos uma espécie de crônica da infância do protagonista, com reflexões ingênuas e citações a super-heróis; e logo em seguida já estamos em um romance-dentro-do-romance, onde um certo inspetor investiga um suposto terrorista enquanto sonha com o amor de uma mulher proibida. Enquanto não chega realmente a dar um nó no pensamento, essa estrutura ajuda a colocar o leitor no jogo proposto, deixando-o em dúvidas quanto ao que é verdadeiro e o que é alucinação e questionando o tempo todo as motivações de cada personagem. O resultado é uma leitura extremamente envolvente, um verdadeiro labirindo narrativo em que você constantemente se acha próximo da saída, só para se deparar com uma nova parede no capítulo seguinte.

Para não dizer que tudo é perfeito, há alguns errinhos de revisão que incomodam: um sobre no lugar de sob em uma determinada passagem; um fechos olhos em outra; alguns artigos e preposições que parecem ter desaparecido. Não é nada que realmente prejudique a leitura, é claro, mas chamam a atenção. As passagens ilustradas também não são exatamente um primor artístico, mas são eficientes dentro da narrativa. E consigo imaginar ainda uma ou outra pessoa se frustrando com o desfecho, com direito a uma cena final que parece cena extra pós-créditos; mas também não é nada que invalide a jornada envolvente que se tem até lá, e não deixa de ser um final contundente e épico por isso, daqueles que te deixam refletindo por horas a fio após a leitura.

E mesmo assim, O Alienado ainda é um romance bastante único e envolvente, que eu realmente não posso recomendar o suficiente. O Cirilo é um desses autores novos a se prestar bastante atenção no próximos anos.
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Ana Carolina 23/10/2012

Não sei como começar a falar sobre esse livro. Aliás, creio ser essa a principal prerrogativa dos bons romances (não necessariamente histórias de amor): aquela sensação de desorientação, de não saber por onde começar uma análise.

Talvez desorientação seja uma palavra muito exata para ser utilizada aqui: o enredo segue uma linha de lógica e coerência internas, mas é qualquer coisa, menos seguro para o leitor. Cada página pode ser um passo em falso, cada linha um barranco onde se pode despencar de uma história da outra.

É um texto que transcende o gênero. Ficção científica? Fantasia? Mainstream com um viés simbolista? A moldura da classificação é pequena para enquadrar o conteúdo da trama e em nenhum momento o autor tenta encaixar-se aqui ou acolá. As coisas fluem, os elementos necessários aparecem, mas por que a necessidade de rótulo? Basta embarcar na experiência estranha (no melhor dos sentidos da palavra).

Esta é a história de Cosmo Kant (o nome de filósofo/super-herói parece ser muito menos arbitrário do que pode aparentar), um sujeito comum dono de uma vida comum que está escrevendo um romance (que não é uma história de amor) e frequenta um analista, até o dia em que um sujeito sai do espelho de seu banheiro e as coisas começam a ficar realmente estranhas. Para piorar, Cosmo parece ser alvo de criaturas chamadas Metafilósofos, que não deveriam existir fora de seus escritos. Dizer mais do que isso é estragar a trajetória de leitura.



A narrativa está longe de ser linear e se divide em fragmentos espalhados pelo espaço-tempo que inicialmente não se conectam entre si, mas que depois passam a fazer todo sentido. Ponto para o autor que consegue fazer essa jornada coerente e coesa, por mais que o elemento tempo tenha tanto sentido aqui como em um sonho.

Os capítulos seguem a lógica dos pesadelos, nos quais o protagonista se encontra numa situação opressiva em que não ficou muito claro como ele chegou lá e sem saber muito bem o que está procurando, ainda que haja coerência na situação. Em determinadas cenas, quase esperei que, como nos sonhos, Cosmo se angustiasse para encontrar um objeto que não soubesse o que era ou que todo cenário mudasse de repente quando ele menos esperasse e tudo continuasse fazendo sentido (bom, não dá para não dizer que de vez em quando isso acontece).

Pode se encontrar na temática um quê da angústia opressiva de Kafka, da luta sufocante contra um inimigo desconhecido e que parece muito mais poderoso do que seu adversário, ou mesmo do terror distópico de Orwell; quadrinhos de super-herói, filosofia, cyberpunk cinematográfico como Matrix e a pura vida suburbana, mas sem parecer que algum desses elementos esteja deslocado dos demais ou que a refinação temática esbarra no pedantismo.

A narrativa também é um ponto fortíssimo. Como disse, o autor traz ao leitor a experiência de um pesadelo guiado e para replicar a estranheza do universo onde nos encontramos, utiliza-se de alguns subterfúgios, como capítulos que revelam a confusão mental do personagem e são construídos a partir desta, ou passagens da obra no formato de quadrinhos, quebrando a soberania das letras e enriquecendo o tortuoso caminho percorrido.

Enfim, este é um livro que está muitos passos além de qualquer produção nacional, ainda mais das editoras de gênero, que eu tenha acompanhado nos últimos anos e se for para indicar um autor e uma obra para demonstrar vanguardismo certamente essa seria minha escolha. Recomendo e muito a experiência da leitura (e gosto bastante de frisar a palavra “experiência” neste caso, pois as emoções avocadas levam a leitura para um patamar muito além da zona de conforto do leitor). É um romance, que não é história de amor, pronto para ser conferido.

(outras resenhas em http://www.leituraescrita.com.br )
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Leitor Cabuloso 11/12/2012

http://leitorcabuloso.com.br/2012/11/resenha-o-alienado-um-bisturi-cortando-a-realidade-e-mostrando-as-camadas-mais-surreais/
Saudações, caros leitores! Essa vai ser uma resenha difícil de escrever, pois tentarei ordenar algo que em uma primeira olhada pode parecer caótico por completo, mas que em um exame mais atencioso se descortina, revelando o nosso próprio mundo, mas de uma maneira surpreendentemente surreal, o que pode deixar leitores despreparados atordoados. A sensação ao concluir o livro foi como se a minha cabeça fosse rachada ao meio e todas as ideias mais impressionantes escapassem, fazendo-me ficar por um longo momento boquiaberto sem a capacidade de formular outra palavra além de “Uau!”. Vamos dialogar um pouco sobre esta obra que é uma subversão à própria realidade (ou seria contra a ilusão que chamamos realidade?), porém tomemos cuidado com os Metafilósofos. Se alguém lhe disser que individualidade não traz felicidade, corra!

Ao contrário do que normalmente faço, nesse caso irei primeiro comentar acerca da parte física do livro, visto que foi um atributo que me conquistou profundamente porque conseguiu manifestar fisicamente algumas ideias do enredo. Por exemplo, o título do livro na capa, como se estivesse saindo de foco, retrata algo instável, um elemento cujos detalhes evanescem, como a individualidade, qualidade vista como uma maldição pelos temíveis homens com ternos alinhados e máscaras de couro (Metafilósofos). As imagens, como se fossem um rolo de filme na frente da obra, transmitem a ideia das cenas como ocorrendo com espectadores, mas nesse contexto a ideia tem um sentido duplo: 1 – O leitor que “observa” aos personagens e 2 – Os Metafilóficos que a tudo observam dentro da trama. Já as imagens na contracapa, que parecem recortes, me passaram uma ideia de fragmentação, algo que se reflete na narração do escritor que ora vai para um passado, ora volta ao presente, ora vai para o futuro e às vezes essas transições são “interceptadas” por trechos do romance escrito por Cosmo Kant, protagonista da história. Vale comentar que em três pontos da leitura somos surpreendidos por algumas páginas de quadrinhos que complementam a riqueza de imagens que criei em minha mente ao entrar em contato com o surrealismo do autor, além de que a segunda “interceptação dos quadrinhos” deixa uma abertura para especulações sobre o seu sentido, mas isso é respondido no final. O Cirilo vai sobrepondo essas coisas muito bem, como um cirurgião que corta a derme de um paciente com uma fria paciência, e cria uma teia complexa e fascinante onde ficção e realidade se misturam. As folhas de guarda (primeira e última páginas) parecem rasgadas e remendadas com durex, o que nos remete a ideia do livro como um processo de construção-desconstrução-construção, ou seja, formulação de um cenário que depois é devastado e em sequência recriado, como acontece com a personalidade do protagonista em sua jornada. As páginas de tom amarelado são as melhores para leitura, meus olhos com certeza estão gratos.

Agora, vou tentar dizer mais algumas palavras sobre o texto. A narração é cheia de simbolismos, o que pede do leitor uma relação atenciosa, portanto, se você quer algo para somente matar um tempinho, passe longe, essa é uma daquelas experiências em que você necessita dedicar-se de corpo e alma, pois somente mediante essas condições é que poderá se deleitar com o banquete de reflexões tecidas pelas palavras. Acredito que uma boa música pode até contribuir para que a atmosfera fique a mais prazerosa possível (eu indico Pink Floyd ou algo semelhante). Sério, essa foi uma obra que chegou a me fazer passar uma madrugada inteira me revirando na cama devido à sua pungência mental sobre mim.

Há uma forte crítica à nossa atual sociedade que procura nos transformar em modelos padrões ou nos reduzir a algo tão pequeno que as nossas singularidades, aquilo que nos torna quem somos de verdade, passam despercebidas. Um exemplo dos esforços do sistema para nos regular é a tão conhecida frase “Manda quem pode, obedece quem tem juízo” que, apesar de já termos saído do período histórico da ditadura em nosso país tropical, ainda é usada por indivíduos que enxergam nela a sabedoria em forma de signos. O romance, que nesse caso não se trata de uma história romântica, como diria Cosmo Kant, é como uma bomba atômica para esta máxima que pretende nos tornar frios autômatos. O modo como Cosmo se inquieta com as suas indagações perante a realidade estabelecida, pois aqui percebemos que realidade é também uma questão de interpretação, onde muitas forças se enfrentam para dominarem, e não somente de organização da matéria, fez com que sentisse empatia por ele, pois sei quantas vezes já duvidei até de mim mesmo.

Virgílio, um amigo de infância de Cosmo, é a fagulha que acende a fantasia na história e serve de contraponto para o protagonista de pensamentos simples e submissos que se mostra nas primeiras páginas. Achei que a identidade do Cosmo foi bem construída, visto que acompanhamos todas as suas etapas, durante as quais o livro vai abrindo o caminho até o nosso cerne, aquilo em que acreditamos, e a realidade, dentro da obra, se mescla com uma ficção, portanto temos uma ficção dentro da ficção. Como lhes disse, tudo aqui é muito surreal, mas no final das contas fala sobre o que é real depois que fechamos o livro, pois fala sobre ideias, sentimentos, liberdade, questionamento, controle de massas etc.

Essa obra é uma grande “sacudida” espiritual, uma experiência que amplia a percepção dos leitores. Exceto por alguns erros de revisão, a editora e o escritor merecem os meus aplausos, assim como toda a equipe envolvida no trajeto do livro até as minhas mãos. Como vocês perceberam, não falo sobre os acontecimentos do romance em si, mas sobre o que eles despertam, aquilo que é responsável por conquistar os leitores, e faço isso para preservar ao máximo as surpresas que vocês terão, além de lhes estimular a curiosidade. Dou cinco selos cabulosos! Vou deixar uma música que traduz muito bem o espírito de “O Alienado”.
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PorEssasPáginas 19/01/2015

A Cuca Recomenda: O Alienado - Por Essas Páginas
Adquiri o e-book de O Alienado há muito tempo, em uma promoção, e sempre adiava a leitura – apesar de ter muita curiosidade – por falta de tempo e por ter outros livros na frente, especialmente os de parceria. Participar de um blog é incrível, mas pela responsabilidade com editoras e autores parceiros, às vezes você acaba protelando as leituras que realmente quer fazer. Mas então eu estava de férias, com meu celular à beira da piscina, e pensei: estou de férias, ué! Vamos ler um livro de férias!

Deixando bem claro aqui que O Alienado não é exatamente um livro para ler nas férias, meus caros. É denso, inteligente, crítico, abstrato e muitas vezes, surreal. Só tinha lido alguns contos de Cirilo S. Lemos, mas a leitura do seu romance confirmou minhas suspeitas: sua mente é um lugar extremamente amplo e repleto de histórias surpreendentes – as mais malucas que se possa imaginar.

A primeira coisa que você, leitor, precisa saber, é que O Alienado não é um livro pé no chão, apesar de conter fortes críticas sociais. É um livro completamente louco, muitas vezes absurdo – e isso foi ótimo! – mas é bom avisar, porque se você for com outras ideias pode não gostar. O livro não faz sentido por muitas páginas, mas você sente, mais do que sabe, que em algum momento aquelas peças vão se encaixar.

“Quero é não precisar acreditar em nada que alguém venha me dizer para acreditar. Quero descobrir tudo por mim mesmo.”

Consegui distinguir três partes distintas e importantes no livro: a primeira, a narração de Cosmo sobre sua conturbada infância, quando nutria uma enorme admiração pelo amigo Virgílio, menino inteligente, que lia milhares de livros que o anterior não compreendia e sofria preconceito por causa da mãe de vida fácil. Ao mesmo tempo, Cosmo brigava com a mãe para manter essa amizade e sentia falta do pai, embarcado, que dificilmente estava em casa. Parece que não, mas depois de um tempo você percebe o quanto essa parte da história, uma das mais interessantes, interliga todo o resto feito os ovos em uma receita de bolo. Na realidade, todo o livro parece uma elaborada receita, onde cada ingrediente aparentemente não faz sentido, mas juntos, formam um belo resultado.

A segunda parte importante é a vida de Cosmo adulta, quando aparentemente ele está com problemas mentais. Tudo é bem confuso nessa parte, especialmente no início, mas quando você relaxa e deixa o absurdo penetrar, a leitura flui muito mais. A terceira parte é o livro que Cosmo está escrevendo, que também não parece fazer nenhum sentido, mas depois se enrosca e se reúne à história de uma maneira inacreditável. Todas essas partes são intercaladas e, se você não tomar cuidado, pira o cabeção, mesmo.

“É como se todos fossem fotos de coisas, não a coisa em si.”

É difícil falar desse livro porque é difícil explicá-lo, então vou me ater às minhas sensações durante a leitura. Confesso que, durante algumas páginas, fiquei com vontade de jogar tudo para o alto e pensei que era burra e concreta demais para toda aquela piração. Mas há algo na escrita de Cirilo, algo instigante e apaixonante, que impede o leitor de largar o livro e, quando você menos espera, está novamente grudado nas páginas. A história vai se construindo em pequenos detalhes que o leitor coleta em meio às três histórias, como se estivesse investigando a vida do personagem principal, Cosmo. Às vezes eu sentia que estava enlouquecendo junto com o personagem, mas não, é incrível como, no fim, tudo aquilo faz um sentido perturbador e, nem o personagem, nem você, leitor, estão perdendo a cabeça (há controvérsias, especialmente ao usar essa expressão… quem ler vai me entender bem no finalzinho). As três histórias se conectam de uma maneira surreal, mas coerente, e você fica lá, pasmo com aquela ideia maluca, mas fantástica, do autor. Vou precisar usar uma expressão estrangeira para definir um livro brasileiro, mas infelizmente, só ela traduz meu sentimento: esse livro é do tipo “blow your mind”.

Como li em e-book, não tenho tanta coisa assim a falar da edição da Draco, mas pelo que eu vi no livro digital, o físico parece ser bastante caprichado. Há, inclusive, alguns quadrinhos no meio do livro, que enriquecem a experiência. Infelizmente encontrei alguns pequenos erros de revisão que me incomodaram; nada que prejudique ou tire o brilhantismo do livro, no entanto. Aliás, preciso dizer que esse livro foi difícil de escolher trechos para a resenha: eu queria colocar milhares de frases aqui.

“Seu hálito tem o perfume de coisas guardadas.”

O Alienado facilmente pode ser uma daquelas obras brasileiras que perduram e são dissecadas por críticos literários, acadêmicos e professores de literatura. O livro tem o tom certo de crítica social, abstrato e um leve pedantismo literário que geralmente é encontrado nessas obras consagradas. (Mas até essa “pretensão” é ótima, pois também parece criticar os pedantes!) E, de fato, o livro e o autor merecem essa consagração. Espero de verdade que ele chegue um dia, e que bons livros nacionais como esse sejam reconhecidos. Os críticos e acadêmicos brasileiros precisam descer um pouco de seus pedestais e entender que na fantasia e ficção científica também existe sim alta literatura.

site: http://poressaspaginas.com/a-cuca-recomenda-o-alienado
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Beca Folgueira @capadurabooks 09/10/2018

Resenha: O Alienado | Cirilo S. Lemos | @editoradraco.
Esse foi meu primeiro contato com a escrita do autor e também minha primeira ficção cientifica nacional.

No começo do livro nos deleitamos com alguns quadrinhos e logo depois fui surpreendida por textos, não, isso não foi algo ruim.

Dividido no que me pareceu contos nós somos apresentados a um garotinho chamado Cosmo e a seu melhor amigo, Virgílio.

Virgílio é um personagem que possui uma estrutura família “deturpada”, mas isso não o torna menos inteligente e questionador do que é.

Sua amizade com Virgílio é abalada pela origem do garoto, segundo seus pais. Mal sabem eles o quão o garoto põe a cachola de Cosmo para funcionar.

Durante a trajetória de leitura somos apresentados mais e mais a novo Cosmo Kant (todas as referências neste livro fazem sentido, ao menos as que me limitei a entender), um operário que depois de vários acontecimentos apresenta sinais de vertigem, mas ele acaba vendo algo sair do espelho do seu banheiro e isso põe em cheque a real sanidade de sua mente.

Entre o que me pareceu conto, temos o Romance e não estória de amor escrita por ele, o que quebra o ritmo mais denso de leitura juntamente com os quadrinhos.

Esses “contos” são nada mais do que passagens da vida do protagonista, passado e presente, então não espere algo linear dessa leitura ela vai de deixar pisando em falso a cada pagina.

Essa estória é um prato cheio par quem é observador e gosta das núncias da mente, no começo senti dificuldade de entender o que estava acontecendo. O que facilitou minha leitura foram as anotações que fui fazendo para essa resenha.

site: https://www.instagram.com/p/Bot7sADAoNz/?taken-by=capadurabooks
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Ednelson 04/12/2012

Análise:

“Penetrar no nada é como mergulhar numa piscina feita de sonho [...] Lentamente, o mundo se torna um fantasma de si mesmo até que só reste uma brancura colossal que se parece com pessoas e carros e números e vulcões e animais e tudo e nada.”
—Pág. 216.

Saudações, caros leitores! Essa vai ser uma resenha difícil de escrever, pois tentarei ordenar algo que em uma primeira olhada pode parecer caótico por completo, mas que em um exame mais atencioso se descortina, revelando o nosso próprio mundo, mas de uma maneira surpreendentemente surreal, o que pode deixar leitores despreparados atordoados. A sensação ao concluir o livro foi como se a minha cabeça fosse rachada ao meio e todas as ideias mais impressionantes escapassem, fazendo-me ficar por um longo momento boquiaberto sem a capacidade de formular outra palavra além de “Uau!”. Vamos dialogar um pouco sobre esta obra que é uma subversão à própria realidade (ou seria contra a ilusão que chamamos realidade?), porém tomemos cuidado com os Metafilósofos. Se alguém lhe disser que individualidade não traz felicidade, corra!

Ao contrário do que normalmente faço, nesse caso irei primeiro comentar acerca da parte física do livro, visto que foi um atributo que me conquistou profundamente porque conseguiu manifestar fisicamente algumas ideias do enredo. Por exemplo, o título do livro na capa, como se estivesse saindo de foco, retrata algo instável, um elemento cujos detalhes evanescem, como a individualidade, qualidade vista como uma maldição pelos temíveis homens com ternos alinhados e máscaras de couro (Metafilósofos). As imagens, como se fossem um rolo de filme na frente da obra, transmitem a ideia das cenas como ocorrendo com espectadores, mas nesse contexto a ideia tem um sentido duplo: 1 – O leitor que “observa” aos personagens e 2 – Os Metafilóficos que a tudo observam dentro da trama. Já as imagens na contracapa, que parecem recortes, me passaram uma ideia de fragmentação, algo que se reflete na narração do escritor que ora vai para um passado, ora volta ao presente, ora vai para o futuro e às vezes essas transições são “interceptadas” por trechos do romance escrito por Cosmo Kant, protagonista da história. Vale comentar que em três pontos da leitura somos surpreendidos por algumas páginas de quadrinhos que complementam a riqueza de imagens que criei em minha mente ao entrar em contato com o surrealismo do autor, além de que a segunda “interceptação dos quadrinhos” deixa uma abertura para especulações sobre o seu sentido, mas isso é respondido no final. O Cirilo vai sobrepondo essas coisas muito bem, como um cirurgião que corta a derme de um paciente com uma fria paciência, e cria uma teia complexa e fascinante onde ficção e realidade se misturam. As folhas de guarda (primeira e última páginas) parecem rasgadas e remendadas com durex, o que nos remete a ideia do livro como um processo de construção-desconstrução-construção, ou seja, formulação de um cenário que depois é devastado e em sequência recriado, como acontece com a personalidade do protagonista em sua jornada. As páginas de tom amarelado são as melhores para leitura, meus olhos com certeza estão gratos.

Agora, vou tentar dizer mais algumas palavras sobre o texto. A narração é cheia de simbolismos, o que pede do leitor uma relação atenciosa, portanto, se você quer algo para somente matar um tempinho, passe longe, essa é uma daquelas experiências em que você necessita dedicar-se de corpo e alma, pois somente mediante essas condições é que poderá se deleitar com o banquete de reflexões tecidas pelas palavras. Acredito que uma boa música pode até contribuir para que a atmosfera fique a mais prazerosa possível (eu indico Pink Floyd ou algo semelhante). Sério, essa foi uma obra que chegou a me fazer passar uma madrugada inteira me revirando na cama devido à sua pungência mental sobre mim.

Há uma forte crítica à nossa atual sociedade que procura nos transformar em modelos padrões ou nos reduzir a algo tão pequeno que as nossas singularidades, aquilo que nos torna quem somos de verdade, passam despercebidas. Um exemplo dos esforços do sistema para nos regular é a tão conhecida frase “Manda quem pode, obedece quem tem juízo” que, apesar de já termos saído do período histórico da ditadura em nosso país tropical, ainda é usada por indivíduos que enxergam nela a sabedoria em forma de signos. O romance, que nesse caso não se trata de uma história romântica, como diria Cosmo Kant, é como uma bomba atômica para esta máxima que pretende nos tornar frios autômatos. O modo como Cosmo se inquieta com as suas indagações perante a realidade estabelecida, pois aqui percebemos que realidade é também uma questão de interpretação, onde muitas forças se enfrentam para dominarem, e não somente de organização da matéria, fez com que sentisse empatia por ele, pois sei quantas vezes já duvidei até de mim mesmo.

Virgílio, um amigo de infância de Cosmo, é a fagulha que acende a fantasia na história e serve de contraponto para o protagonista de pensamentos simples e submissos que se mostra nas primeiras páginas. Achei que a identidade do Cosmo foi bem construída, visto que acompanhamos todas as suas etapas, durante as quais o livro vai abrindo o caminho até o nosso cerne, aquilo em que acreditamos, e a realidade, dentro da obra, se mescla com uma ficção, portanto temos uma ficção dentro da ficção. Como lhes disse, tudo aqui é muito surreal, mas no final das contas fala sobre o que é real depois que fechamos o livro, pois fala sobre ideias, sentimentos, liberdade, questionamento, controle de massas etc.

Essa obra é uma grande “sacudida” espiritual, uma experiência que amplia a percepção dos leitores. Exceto por alguns erros de revisão, a editora e o escritor merecem os meus aplausos, assim como toda a equipe envolvida no trajeto do livro até as minhas mãos. Como vocês perceberam, não falo sobre os acontecimento do romance em si, mas sobre o que eles despertam, o que é responsável por conquistar os leitores, e faço isso para preservar ao máximo as surpresas que vocês terão, além de lhes estimular a curiosidade. Dou cinco selos cabulosos! Vou deixar uma música que traduz muito bem o espírito de “O Alienado”.

Escrevo no: http://leitorcabuloso.com.br/
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Parreira 24/02/2014

O Alienado, de Cirilo S. Lemos

Não sou um grande conhecedor do gênero distópico, mas a leitura de O Alienado, de Cirilo S. Lemos me chamou a atenção muito mais para o aspecto linguístico do que pela temática em si.
“Em um mundo de dúvidas, só existe uma certeza: os Metafilósofos vigiam você” — sim, o tempo inteiro, de maneira asfixiante, como é comum se ver em obras do gênero. O interessante, porém, é a maneira como o autor vai sobrepondo as camadas da narrativa, desestabilizando a razão do leitor, minando conceitos e preconceitos, estabelecendo um diálogo que nós, pobres leitores, acabamos por nos encontrar chafurdando no pântano de aço e vidro que a Cidade-Centro nos oferece como única alternativa.
A estrutura do livro é, sem dúvida, o ponto alto de O Alienado: Cirilo, hábil, conta várias histórias dentro de uma só, as une de maneira que às vezes parecem aleatórias, e decepciona o leitor que busca uma leitura tão somente em linha reta: a arquitetura linguística de O Alienado é muito sofisticada e aqueles que buscam uma renovação (se é que se pode falar assim) no gênero, certamente encontrarão no livro oxigênio novo e bem-vindo.
Outra grande sacada é se utilizar de HQ como parte da narrativa. Não vi uso desse recurso ainda (mais uma vez aqui reitero o meu pequeno conhecimento do gênero), e acho que funcionou muito bem dentro do projeto, que sabe ousar sem ser apelativo.
Resumindo: se você ainda não leu O Alienado, faça-o o mais rápido possível — afinal, os Metafilósofos vigiam você, agora cada vez mais de perto!
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carolina.trigo. 17/05/2016

O Alienado: Um Livro Que Todos Deveriam Ler!
"O Alienado", de Cirilo S. Lemos (Ed. Draco) é mais do que uma crítica à sociedade e à nós mesmos, meros mortais - é uma amostra, infelizmente, da nossa realidade...
Acompanhamos a trajetória de Cosmo Kant, um operário que testemunha um homem atravessar o espelho de sua casa como num passe de mágica, enquanto isso, o governo precisa lidar com uma guerra não oficial contra o Nada.
A partir desses acontecimentos, Cosmo vê sua história se entrelaçar com a de um inspetor encarregado de investigar possíveis ataques terroristas contra a realidade, mas que está mais interessado no amor de uma mulher proibida. Que segredos existem por trás das torres de aço e vidro da Cidade-Centro? Em um mundo de dúvidas, só existe uma certeza: os Metafilósofos vigiam você!
Quando estava para escolher um livro da editora para ler, esse foi o que mais me chamou a atenção por dois motivos: o título, pois é um tema que me agrada bastante e a capa, que é linda! A sinopse deixa a gente bem intrigado, pois não diz muito e traz um mundo bem diferente de nós.
Quando estava procurando um pouco mais de informações sobre o livro, li uma resenha no Skoob falando super bem e além de ressaltar o quão confuso o começo é. Mas que no final, as pontas se encontram com uma boa justificativa. Então já fui para a leitura preparada!
E realmente até a metade do livro, é difícil entender quais são as relações entre os acontecimentos. Mas já aviso para não desistir por causa disso, no final tudo vale a pena. Não esperava que fosse acabar assim.
A história é praticamente dividida em duas partes: a parte narrada pelo Cosmo, até relembrando sua infância e a parte narrada pelo Inspetor de Primeira Classe Carvalho, na minha opinião a parte mais confusa. Os personagens são bem interessantes, principalmente Cosmo e as pessoas que aparecem à sua volta.
Tenho que citar uma parte que me chamou muita atenção e que achei bem criativa. Em um certo momento, os Inspetores vão à uma clínica. Lá encontram o doutor com o seguinte nome: Sigmund F. - te lembram alguém? E algumas páginas mais tarde, ele vem a citar um tal de Br.euer. Muito bem sacado essa referência indireta. Adorei isso!!!
O livro é muito bem feito, está muito bonito, tem alguns quadrinhos no meio bem feitos também. Realmente um trabalho da editora muito bom. Estão de parabéns pelo trabalho!
Gostei muito do livro e acho que deveria ser mais conhecido. Precisamos ler e abrir um pouco a mente. Dá orgulho de saber que algo tão bom foi escrito por um brasileiro,

site: http://umolhardeestrangeiro.blogspot.com.br/2016/05/o-alienado-um-livro-que-todos-deveriam.html
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Bruno Oliveira 17/02/2017

Nada mais que umas palavrinhas...
(Resenha publicada na íntegra no Café com Tripas)

Foi uma resenha do excelente Antonio Luiz (da Carta Capital) que me fez prestar atenção em O alienado, ficção científica de Cirilo S. Lemos que toca temas como manipulação mental, conspirações, distopias e outros de uma forma bem própria. O livro (romance?) apresenta a trajetória de Cosmo Kant, um operário com pretensões literárias e alguns distúrbios mentais não tratados que o lançarão num mundo de estranhas conspirações nas quais, sem saber direito por que, ele constitui uma peça chave.

Aqueles que já leram Asimov notarão diversas proximidades entre O alienado e a trilogia
Fundação, sobretudo no tom sóbrio da escrita, mais direto e argumentativo, menos voltado para a imaginação, contudo, a narrativa de Cirilo possui a peculiaridade de ser fragmentária, apresentando vários tempos narrativos, personagens que inicialmente não se interligam, e de ser intercalada por cenas em quadrinhos, algo que, ao contrário do que possa parecer, ocorre de maneira surpreendentemente consistente. Seu universo é também mais poroso ao nosso mundo que aquele de Asimov, o que fica evidente a
partir de um número razoável de referências as quais, felizmente, entram nos momentos certos e não são usadas para paparicar o leitor.

O maior mérito de O alienado é provavelmente o fato de que sua narrativa desvia das alternativas fáceis — fiquei esperando o livro todo para ver quando o autor ia derrapar, quando me daria uma página cheia de clichês e desgostos que estão sempre rondando uma narrativa de um gênero tão superexplorado como a ficção científica, entretanto, isso simplesmente não aconteceu e tive que reconhecer: Cirilo é mesmo bom. Nem dissimular profundidade ele dissimula, o livro parece o com o que é: uma boa obra de entretenimento inteligente.

De certa forma, seu livro se desenrola através das brechas dos temas tradicionais desse gênero: ele “toca” temas da ficção científica, formula “algo como” uma distopia e outras coisas assim sem porém se aprofundar ou mesmo tentar criar um universo autônomo em relação ao livro. O que lhe importa é o desenrolar da trama e o que está contido nela só precisa ser explicado na medida em que serve para fazê-la avançar, inexistindo longas páginas sobre quem seriam os metafilósofos, a Cidade Centro e outros elementos próprios do cenário, o que torna o livro gostoso e ágil, aliás. Para o bem e para o mal, empresa alguma vai conseguir vender bonecos, jogos e camisetas desse universo, masquem puder apenas apreciar uma obra sem ceder a esse fetiche já terá um bom livro em mãos e um
bom artista para acompanhar daqui por diante.

site: http://cafecomtripas.blogspot.com.br/
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Davenir - Diário de Anarres 05/11/2017

Para quem não tem medo de pisar em falso.
A meta de voltar a ler/resenhar mais fica bem mais fácil lendo livros como O Alienado (2012), romance de Cirilo S. Lemos. É uma leitura para quem não tem medo da sensação de pisar em falso. Vejo nela tudo de positivo que a literatura de Ficção Científica brasileira pode oferecer de bom ao leitor. Temos uma obra com uma série de referências que foram tão bem digeridas e devolvidas ao leitor que confere uma aura de clássico. Essa ousadia felizmente foi aliada a qualidade resultando num grande livro que só não é mais falado, certamente por ser brasileiro.

A forma conta mais aqui do que a estória. O romance se apresenta com fragmentos de momentos diferentes da vida do protagonista com nome de filósofo, Cosmo Kant. Temos, no seu presente, um abalo após ver um sujeito sair do seu espelho enquanto é perseguido pelos Metafilósofos uma espécie de ceita que controla a distópica Cidade-centro com mãos de ferro e máscaras de couro. Em outros fragmentos, há momentos da infância de Cosmo e trechos de um romance que ele chegou a rabiscar, além de criativas passagens em quadrinhos. A cada trecho, cabe ao leitor montar o quebra-cabeças. Temos o efeito constante de relembrar das partes anteriores, que recebem novos sentidos a medida que a trama se (des)enrola. Temos um excelente uso das referências, a personagem Maria Cecília é um bom exemplo disso. Ela se parece com as mulheres das histórias de Philip K. Dick (manipuladoras, soando como a voz da consciência) e a forma como ela se encaixa na estória eleva o uso de um arquétipo manjado de personagem.

Vale apontar que, para uma estória complexa e não-linear (que pode assustar o leitor casual) não temos aqui o pedantismo do infodump (contextualizações excessivas). Temos o essencial para entendermos os elementos distópicos, a troca de identidades e o questionamento da realidade. Este último é um tema recorrente no meu autor favorito, Philip K. Dick e aqui vemos o mesmo tema numa forma própria. Foi uma experiência muito boa ler tudo isso em nossa língua (sendo mais específico, em uma obra não-traduzida) e com nosso modo de falar. Isso descomplica o que não precisa ser complicado e deixa o caminho livre para mergulhar nesse labirinto bem construído. Quando ao final, temos as questões resolvidas e deixa um bom impacto após a leitura, algo como: "Cirilo, seu fdp!".

site: http://wilburdcontos.blogspot.com/search?updated-max=2018-08-28T02:00:00-07:00&max-results=12
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Fabiana748 23/07/2021

O Alienado
É um livro muito bom, mas também muito confuso e instigante, por se tratar de um livro em que cada capítulo relata uma parte da história (meio que passado presente e futuro) que aos poucos vai fazendo sentido e se tornando uma história só.

O que mais me surpreendeu neste livro foi o final, pois eu não esperava de forma alguma que acabasse do jeito que acabou.

Mas enfim o livros faz várias críticas e traz muitos mistérios que te dá vontade de entender melhor àquilo.
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