Steph.Mostav 05/02/2020Poe como ensaístaPoe é um bom ensaísta, assim como é um bom contista. Mesmo que muitos dos conceitos de que ele trate não sejam universais como ele deixa a entender, ainda é um bom estudo de caso e análise de sua própria obra. "O corvo" é um poema muito bom e a leitura se torna ainda mais rica quando acompanhamos seu processo criativo, assim como sua estrutura dissecada. Toda a teoria levantada por ele com relação ao EFEITO nas produções mais curtas como contos e poemas breves é relevante até hoje e a maneira com que um resultado tão dramático e cheio de emoção foi concebido através da razão e intenção fria e objetiva também é curiosa, para dizer o mínimo. O rigor matemático com que ele organizou versos cheios de frenesi sobre amor e morte é de uma ironia deliciosa. Acho que o mais importante, porém, é um trecho logo no início, em que ele explica que sua intenção com aquele texto era detalhar o processo de escrita para os leitores, pois principalmente os poetas passavam a imagem de que bastava talento e inspiração. Com razão, ele discordava dessa postura e achava justo que todos tivessem acesso ao que ele chama de bastidores, ideias descartadas, variações do planejamento, amadurecimento adquirido com a prática constante, o que é escolhido e o que é rejeitado - ou seja, como qualquer um que escreve sabe como funciona o processo criativo. Essa tentativa de esclarecer como funciona o ofício do escritor é genuinamente benéfica tanto para quem quer entender melhor o que lê quanto para quem pretende seguir pelo mesmo caminho.