Felipe Novaes 12/02/2016O Macaco Nu mostra uma série de comparações entre o Homo sapiens e diversas outras espécies, tanto no sentido anatômico quanto comportamental, apesar de o foco inegável ser nesse último.
Algumas informações são datadas, surpreendendo um pouco a ausência de dados sobre ecologia comportamental e life-history theory, que são teorias importantíssimas dentro da análise evolucionista das espécies, fundamentais para a desconstrução do mito do determinismo da biologia ou da psicologia evolucionista (que na época já existia mas sob forma um tanto diferente, a sociobiologia).
Mas apesar disso, o que é compreensível por ser uma obra de divulgação e por ser um tanto datada, o zoólogo Desmond Morris mostra com clareza diversos pontos compartilhados entre a maioria dos primatas. Também é interessante Morris contar as mudanças comportamentais exigidas pela mudança do ambiente em que os primatas, inicialmente herbívoros, viviam, até que surgissem espécies carnívoras e onívoras, como o próprio ser humano.
Ah, sobre o título, essa foi uma sacada bem interessante. Nossa espécie é a única entre os primatas a possuir o corpo quase completamente sem pelos. Ainda hoje, que eu saiba, não existe um modelo plenamente aceito que elucide o porquê dessa peculiaridade, no sentido evolutivo da coisa. Mas, examinando as evidências que Morris mostra, é mais provável que essa mudança morfológica radical tenha se dado mais por razões sociais do que por motivos diretamente ligados à sobrevivência. É como as caras extremamente coloridas de um mandril (sim, aquele primata que aparece em Rei Leão). Sua coloração facial provavelmente foi selecionada aos poucos por produzir um paralelismo com a genitália, que possui as mesmas cores e que fica encoberta frontalmente, por conta da postura do animal.
Enfim, O Macaco Nu é cheio dessas curiosas e importantes conexões entre as espécies. Vale muito a pena.