spoiler visualizarBrujo 03/04/2021
A cíclica história da humanidade
Em " Um Cântico Para Leibowitz" nós somos apresentados a um mundo devastado por uma hecatombe nuclear que literalmente regrediu a humanidade à idade das trevas, onde praticamente todo o conhecimento foi perdido em um período desta nova história da humanidade chamada de simplificação, quando todos os que eram detentores de conhecimento ( cientistas, professores, intelectuais, etc... ) foram perseguidos e martirizados pelos sobreviventes do desastre, que os consideravam culpados pelo evento ( como se a culpa não fosse dos governos que usaram tal conhecimento para a guerra ). O livro é dividido em três partes: Fiat Homo, correspondente da nossa idade das trevas, Fiat Lux, que seria algo como o nosso renascimento e Fiat Voluntas Tua, um período em que essa nova humanidade atinge um nível tecnológico superior ao nosso atual, possuindo já um programa espacial bastante desenvolvido e - adivinhem ! - onde a humanidade novamente trava uma guerra nuclear, com a diferença que neste ponto a Ordem de São Leibowitz envia uma nave para Alpha Centauro, iniciando assim um novo ciclo.
Toda essa premissa é interessantíssima, mas o motivo deste livro não ter funcionado muito bem para mim foi a abordagem: vários fatos narrados no livro perdem totalmente a profundidade que poderiam ter pois o autor preferiu dar uma ênfase aos costumes do mosteiro, descrever cânticos e encher o livro de termos em Latim, muitas e muitas e muitas vezes ( algo muito cansativo ). Essa insistência neste tipo de abordagem pode ter ocorrido pela forma como o livro teve origem na mente do autor: na segunda guerra mundial, o mesmo era artilheiro da força aérea dos EUA, onde participou de um ataque ao mosteiro de Monte Cassino, na Itália. Visto por este ângulo, é até compreensível a abordagem.
Seguem alguns exemplos que não me agradaram na obra:
Em "Fiat Homo" o irmão Francis localiza uma escotilha do que foi um abrigo anti-nuclear, mas isso é muito mal desenvolvido. Ao invés disso, acompanhamos toda uma narrativa do abade do mosteiro implicando com o noviço que encontrou a escotilha, que não leva a lugar algum;
Em "Fiat Lux", mestre Taddeo tem uma teoria interessante de que aquela nova humanidade na verdade descende de criações dos humanos pré- dilúvio de fogo ( ou seja, nós ), dando a enteder que eles decendem de clones, mas isso também não é trabalhado ou levado adiante;
O meu personagem predileto, o heremita/ velho judeu/ mendigo, que simplesmente possui os traços de São Leibowitz e que perambula pelos três momentos do livro ( somando aí algo em torno de 1800 anos ), não tem nenhum conclusão e sequer temos maiores informações sobre ele.
De qualquer forma, é um livro que deve ser lido pois, assim como toda boa obra de Sci-Fi, possui uma mensagem muito interessante, que neste caso é a seguinte: de nada adiantará que a humanidade tenha uma evolução tecnológica enorme se não houver uma evolução da consciência e da moral ( não estou falando de religião ) na mesma proporção. Se isso não acontecer, estamos fadados a cometer os mesmos erros, que podem de fato nos aniquilar em algum ponto de nossa história.