Marina 15/05/2012Viver em um país sob uma ditadura não deve ser nada fácil. Agora, imagine, nascer neste país, mas dentro de um campo de prisioneiros políticos, vivendo toda a sua vida lá. Sofrendo maus tratos, trabalhando forçadamente, sendo ignorante em relação a tudo o que acontece além das cercas do campo. Esta foi a vida de Shin até aos 23 anos, quando conseguiu fugir. Toda a sua trajetória é relatada pelo jornalista Blaine Harden no livro Fuga do Campo 14.
Os relatos de Shin sobre a vida no campo é de deixar os cabelos em pé. Crianças são torturadas sem piedade, a alimentação precária (mingau e sopa diariamente) deixa os prisioneiros mau nutridos e suscetíveis à doenças, o trabalho árduo é imposto com duras punições de quem não cumpre as metas. Os terríveis castigos e o clima de repressão criam um ambiente hostil entre os prisioneiros e até mesmo entre os próprios familiares. Afinal, as consequências de quem não delata outro prisioneiro que infringe as regras podem levar ao fuzilamento por cumplicidade. Um lugar onde uma criança assolada pela fome é espancada até a morte por roubar alguns grãos de milho pode parecer irreal a nossa cultura, um cenário de filme de terror. Mas a existência de campos de prisioneiros na Coreia do Norte é comprovada e eles estão lá há muitos anos. No entando o mundo parece que continua a ignorar o sofrimento da população norte-coreana.
O pior disso tudo é que Shin nada fez para estar preso. A política do governo, que pune até três gerações da família pelo crime de traição, colocou Shin, seus pais e seu irmão no campo por causa de um tio desertor. E esse campo era tudo que ele conhecia. A violência que sofria e a submissão aos guardas era uma coisa natural. Seu desejo de fuga só começou a se desenvolver quando ele conheceu um prisioneiro que veio de fora e tinha um vasto conhecimento do mundo.
A extraordinária fuga (que contou muito com a sorte em diversos aspectos) e muito da sua adptação na sociedade é descrita no livro. A edição também traz desenhos de Shin na vida do Campo 14 além dos mandamentos básicos do lugar (assustador). É, de fato, uma leitura incômoda, e por isso mesmo necessária.