Karine 15/04/2024ExcrucianteÉ difícil encontrar palavras que alcancem o nível a que a maldade humana pode chegar. Shin não foi preso por ser um dissidente político ou por qualquer pretexto do tipo. Ele nasceu dentro do campo de trabalhos forçados, filho de prisioneiros que tiveram que obter autorização especial para casar e ter filhos, caso contrário ele teria sido morto junto com a mãe antes do nascimento. Ele jamais conheceu, portanto, outra realidade. Violência, desconfiança, controle total pelo Estado, esse era o mundo como Shin o conhecia. Nunca soube o que era o amor, nem mesmo de seus pais. Não estranhou quando viu sua coleguinha de escola apanhar até a morte por uma bobagem, aos 6 anos de idade. Não tinha ideia de como era fora do campo, muito menos fora do seu país.
O livro, escrito por um jornalista, traz ainda alguns fatos e análises sobre a Coreia do Norte, um país sui generis que mais parece um delírio coletivo e consegue se manter totalmente isolado ainda hoje. A história de Shin segue ocorrendo, pois pelo pouco que se sabe não houve grandes mudanças na forma como o regime trata seus cidadãos. Acredito e espero que esse regime insano não irá durar para sempre, mas me pego imaginando como será para os milhões de pessoas que vivem lá, totalmente alienadas, adoecidas, "lobotomizadas" pela lavagem cerebral que sofrem diariamente, de repente verem-se no mundo real. Como irão se adaptar? Aqueles que conseguiram escapar, como Shin, nos dão uma pista: talvez nunca encontrem seu lugar no mundo.