Marcos.Fernando 09/03/2016
Minhas observações!
Querendo um livro simples e que tratasse da história do Brasil, encontrei este, que, em sua sinopse, demonstrou contar a história vivenciada pelo autor, Hans Staden, um alemão que esteve no território brasileiro, por duas vezes, no século XVI. Na segunda vez em que veio ao Brasil, foi preso pelo governador-geral Tomé de Sousa (de Portugal), pois viera a bordo de um navio espanhol. Pouco tempo após, por estar com os portugueses, foi capturado pelos Tupinambás (aliados dos franceses e inimigos dos tupiniquins e portugueses), que o confundiram como português e em diversos momentos ameaçaram devorá-lo.
Imaginei, portanto, que seria uma boa viagem no tempo, e que enriqueceria bastante o meu conhecimento. Este livro não fugiu às minhas expectativas.
Com a linguagem muito simples e até viciante, o leitor é levado a conhecer o que se passava no território onde hoje estamos, cerca de 500 anos depois.
Não farei resumo do livro, pois há diversos desses na internet, e aconselho-vos a lê-lo por completo, mas destacarei minhas impressões e opiniões acerca da história narrada.
Como descrito na sinopse, o livro é um relato de Hans Staden sobre suas experiências no território brasileiro recém-descoberto. Acredito que, assim como toda história narrada por uma única pessoa, quase desprovida de testemunhas “válidas” e em um período no qual eram raras as informações e o senso crítico das pessoas, é bem possível que esta história não seja 100% verídica, pois carrega as percepções e interpretações do autor e do contexto histórico.
Por exemplo: será que ele não foi obrigado a comer carne humana nos rituais antropofágicos? Supondo que isso tivesse acontecido, será que ele contaria em seu relato? Principalmente sabendo que estava dedicando ao “Ilustríssimo e Glorioso Príncipe e Senhor Felipe, Landgrave de Hassen...”? Imagine com base no contexto histórico. Ele já estava livre, ninguém saberia do que teve que fazer enquanto esteve com os seus captores, além de que ele nunca seria visto com bons olhos pela sociedade da época.
Esse não é o único exemplo, teríamos vários outros que, como falei, seriam suposições. Utilizo-o apenas para demonstrar que podem haver omissões, mentiras, ou até mesmo observações errôneas na história relatada.
Acredito ser oportuno citar um trecho retirado do blog Bibliomania, que mostra uma nova justificativa para a sobrevivência de Hans no período em que os tupinambás queriam devorá-lo: “Staden atribuiu a sua sobrevivência às rezas, o tempo inteiro, feitas com redobrado fervor. Os antropólogos, porém, conhecendo hoje melhor os rituais de antropofagia, lendo Staden, chegaram a outra conclusão. Não o abateram e o moquearam por que Staden pareceu-lhes um covarde, cuja carne era indigna de ser ingerida por um valente tupinambá. Não foi pois, o olhar de Deus que o salvou, mas o tremor que abalou o seu corpo e a sua voz.”
Ademais, o livro é excelente como forma de estudo da origem do Brasil. Hans o dividiu em 2 partes, na primeira ele conta a sua história: como veio parar no Brasil, como foi capturado, o seu dia-a-dia, etc.; na segunda parte ele fala sobre os costumes dos selvagens com os quais conviveu, dividindo de forma organizada por temas (aparência, governo, alimentação...), trazendo, ao final, um relatório sobre animais e árvores que encontrou.
É interessante observar que Monteiro Lobato também publicou o livro, em 1925, sob o título “Meu cativeiro entre os selvagens do Brasil”, e que em 1927 lançou uma versão na qual as aventuras de Hans são narradas por Dona Benta aos seus netos.
A leitura é fácil, instigante e rápida, fazendo valer a pena cada minuto aplicado a esta obra.