Memórias e Confissões Íntimas de um Pecador Justificado

Memórias e Confissões Íntimas de um Pecador Justificado James Hogg




Resenhas - Memórias e Confissões Íntimas de um Pecador Justificado


1 encontrados | exibindo 1 a 1


anaartnic 18/07/2023

É do diabo que temos que ter medo?
Em cada página deste livro eu pensava "Nossos problemas são muito mais antigos do que imaginamos", porque ainda que seja um livro de 1824, ele diz tantas coisas que tanta gente da presente sociedade deveria ouvir.

O título chama a atenção por dois fatos/pensamentos: (1) A ideia de confissão de um justificado, qual seria a necessidade de confessar algo, uma vez que tudo que foi feito já teria uma justificativa aceita? (2) Ser um pecador justificado torna-o justificado por quem? Por si mesmo? Por uma ideia de 'Deus'? As suas lembranças, portanto, estão centradas na ieia de pecado ou de uma justificação?

Além de todo o alarde que o título me causou, ainda há a questão desta obra trazer um dos melhores descritivos dele mesmo: o demônio.

Antes de tudo, é importante entender que este não é um livro inglês ou francês clássico, mas sim escocês. Esse fato pode causar estranhamento na construção do texto, justamente pelo hábito que temos de tender a literatura europeia para esses dois grandes centros.

Ademais, é preciso contextualizar o termo antinomiano, muito bem descrito na introdução do livro, sendo uma espécie de seita de cunho protestante que rejeita a lei, já que tudo está esceiro no evangelho. Desta forma, atenção nesta parte, não importa se você faz o bem, assim como não é de todo o mal fazer coisas más. Não importa o que você faça, isso não impedirá a salvação dos eleitos. Santidade não é prova de justificação.

O livro, portanto, trata do extremismo religioso, o fundamentalismo e a distorção de dogmas. São dois irmãos criados de maneiras muito distintas, um deles que possui como mentor um reverendo adepto ao antinomianismo e o outro criado pelo pai, um rico devasso pecador. Este é o choque pertencente a parte I do livro, onde a criação dos irmãos e seus encontros e desecontros são descritos, em terceira pessoa.

Após alguns acontecimentos da primeira parte, chegamos a segunda, a qual é narrada pelo irmão Robert Wringhim, que foi criado pelo reverendo, e adepto aos ideias fundamentalistas de seu preceptor. E aí que vem o ponto mais bacana, ele encontra um amigo, amigo este muito semelhante a ele, sobretudo em seus ideais religiosos firmes e ainda mais radicais. É o demônio.

O mais incrível da obra, além de todo o contexto histórico de uma calvinismo se fragmentando em seitas na Escócia, é a maneira que a ideia do bem e o mal são apresentadas, bem como a figura do diabo, que eu concordo em ser uma bela e diria perfeita representação: ele está nos lugares que menos se espera e nunca aparecerá como um antagonista, ele pode ser até mesmo o seu próprio reflexo e estar presente nas doutrinas mais santas (e fundamentalistas) que você segue.

Muitos dejàvus ao longo da leitura, deixo para encerrar um trecho que, creio eu, seja muito representativo:

"Pois todo sistema de discuso popular de Wringhim parecia consistir nisso: condenar todos os homens e mulheres à destruição, e incentivar nos seus adeptos a esperança de que eram os poucos escolhidos, incluídos nas promessas, e que nunca poderiam pecar. Parece que esta farisaica doutrina é excelents e a mais agradável para as pessoas de pior caráter"

Leitura essencial para entender nosso tempos.
comentários(0)comente



1 encontrados | exibindo 1 a 1


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR