danilo_barbosa 23/04/2012Será que estamos vivos?Quer ver mais resenhas?
Dá uma olhada no Literatura de Cabeça: http://literaturadecabeca.com.br
Suécia, 2002.
Tudo começou de repente. Primeiro uma nuvem eletromagnética começou a tomar conta de tudo. Os aparelhos não desligavam, o calor parecia sufocar os habitantes de Estocolmo. Como se todos pudessem sentir aquela vibração desconhecida que surgiu no ar, uma enxaqueca passou a tomar conta de todos.
Quando a noite foi chegando, as dores atingiram o limite do insuportável. Muitas pessoas caíram ao chão, sem saber o que fazer. Outros vomitavam, inconsoláveis. Mas todos se perguntavam se aquilo seria o fim do mundo que tanto havia se pregado...
Tão repentinamente quanto começou, acabou. As dores de cabeça acabaram, os aparelhos se desligaram, tudo parecia voltar a normalidade. Mas algo pior estava por vir...
Os mortos. Ah, os mortos!
Eles levantaram de suas tumbas, dos necrotérios e dos lagos onde estavam afogados. Com passos lentos, arrastavam-se por entre as ruas. Não para comer cérebros, como estamos acostumados a ver em tantas obras, mas para voltarem a se sentir vivos. Se aninhar no conforto dos seus lares, esperando que seus familiares abracem seus corpos decompostos e fale que tudo está bem.
Mas será que um dia tudo voltaria ao normal?
John Ajvide Lindqvist já havia me conquistado como fã. Apesar de não ter lido nada dele, pois não tínhamos nenhuma obra deste conceituado autor publicado no Brasil até a chegada de Mortos entre Vivos (Tordesilhas, 355 páginas), ele já havia sido destaque em todo o mundo pelo seu glorioso Deixe ela entrar, cuja adaptação para o cinema encheu nossos olhos de amor e pavor.
Ele é um escritor fenomenal, e não só por abordar o tema dos mortos vivos como eu nunca havia visto, mas por detalhar os relacionamentos deles com as famílias que eles deixaram. Mesclando na trama uma avó e sua neta que possuem percepções extrassensoriais, um avô que tenta salvar seu netinho que voltou dos mortos e um marido que vê a esposa voltar à vida nos seus braços, toda desfigurada, ele faz uma crítica a sociedade, de quanto nos alienamos para ser o que somos. Afinal, quem na verdade são os zumbis: eles ou nós?
Usando elementos sobrenaturais e muito suspense, ele cria o clima ideal para ficarmos cercados de dúvida sobre o que verdadeiramente está acontecendo. Ele não hesita em deixar coisas no ar para nós racharmos a cuca, tentando refletir o que aconteceu. Ele simplesmente expõe os fatos, como eles devem ser mostrados, crús e viscerais. A trama em nenhum momento se torna leve ou despretensiosa, mas cada vez mais reflexiva e filosófica. Ele faz alusões a alma e a morte como eu nunca havia visto em nenhuma obra, enchendo nossa mente de lirismo e pavor.
Cada vez que você pensa que não tem onde se surpreender, ele cria um elemento novo que vira seus conceitos de pernas para o ar. Leitura de mentes, visões santificadas e seres abissais povoam a mente do leitor, transportando-o para um universo totalmente novo. É como se você estivesse andando em águas turvas, onde cada pisada pode esconder um perigoso segredo...
Bom, se procura uma leitura diferente e é louco pela temética, é extremamente recomendado. Mas não esqueça de que ele não é um livro comum. Então fecha os olhos, amplie seus horizontes e prepare-se para levantar da tumba que aprisiona sua vida.