Rayssa 15/10/2023Jóia da literaturaDurante a Idade Média, Frei Guilherme e seu discípulo, Adso, são convidados a investigar uma série de assassinatos insólitos em uma abadia na Itália . À medida que a dupla vai se adentrando na investigação, o mosteiro vai se revelando um local sagrado, porém repleto de segredos obscuros.
Umberto Eco é conhecido por ser um grande autor erudito, portanto sua obra não poderia deixar de carregar um grande domínio histórico. A prosa do autor não é das mais simples, requer bastante atenção na hora da leitura, além de pesquisa de termos e do contexto. Embora possa se tornar uma leitura um tanto arrastada e pesada por conta disso, todo o esforço vale a pena para conhecer essa jóia da literatura.
Por meio de uma história cativante, o autor dá uma grande aula sobre filosofia, teologia, arte, e claro, História. A narrativa expõe um grande paradoxo entre os valores antigos e fechados da Igreja e o surgimento de novas ideias, mais racionais, oriundas, sobretudo, da ascensão da Filosofia e da Ciência. Em um momento em que a dominação religiosa estava em voga com a atuação da Inquisição, a abadia representa uma fortaleza cujo objetivo é manter a qualquer custo o dogmatismo religioso protegido de um suposto conhecimento científico, capaz de ferir sua subsistência. Aos olhos da Igreja, portanto, a liberdade do conhecimento poderia representar o fim da dominação religiosa, por ser capaz de colocar em xeque a própria existência de Deus.
Além do confronto com a ciência, o autor faz uma crítica ferrenha à moral cristã. A sucessão de heresias perpetradas pelos monges coloca ainda mais em evidência uma certa decadência do cristianismo e o esvaziamento de valores. A moralidade não consegue se sustentar nem em um ambiente teoricamente livre de tentações, as quais se concretizam, em determinados momentos, com a existência da mulher. Nesse sentido, sob uma visão um tanto cômica, a figura feminina, na época, representava um ser maligno, quase místico, desprovido de qualquer benfeitoria, sendo apenas objeto de desvio de moral para o homem.
Com efeito, o livro aborda todos esses aspectos de forma intrigante, sem nunca perder a graciosidade. Temos uma história muito imersiva, com personagens palpáveis e intrigantes. É, a meu ver, um livro sobre livros, sobre o conhecimento em si. A propósito, as passagens dentro da biblioteca são maravilhosas, a paixão que Umberto Eco tinha pela literatura perpassa para o texto de forma evidente, deixando a leitura ainda mais gostosa.