Adriana Pereira Silva 25/01/2020
Conhecimento é poder?
Conhecimento é poder?
O escritor italiano Umberto Eco nasceu e viveu de 1932 (Milão, Itália) a 2016. Foi também professor na Universidade de Bolonha, na Itália, de várias disciplinas, entre elas, Linguística, Filosofia, Histórica e Semiótica.
O nome da rosa foi seu primeiro romance, quando combinou essas disciplinas com histórias de detetive.
Esta obra tem uma ambientação medieval e eclesiástica, muitas passagens em latim, sua história aborda muitas disputas eclesiásticas, com diálogos sobre teologia, filosofia, história e linguística, além de ter um título misterioso.
A história se passa em novembro de 1327 e se inicia com a chegada do frei Guilherme de Baskerville, monge franciscano medieval britânico, e seu jovem assistente alemão, Adso de Melk a uma grande abadia, localizada num local afastado ao norte da Itália, famosa por abrigar uma das mais famosas bibliotecas da cristandade.
Nessa época, em plena Idade Média, conhecida como injustamente como a “Idade das Trevas”, havia muitos cientistas produzindo novos conhecimentos, como entre os árabes do Oriente Médio (matemática, biologia, medicina, astronomia, dentre outras).
Mas na Europa, esses conhecimentos não podiam circular livremente, pois eram monopólio da Igreja Católica, que deteve bibliotecas com livros de todo o mundo, onde ficavam escondidos dentro de abadias e monastérios, sendo inacessível inclusive aos monges que ai moravam, que não tinham autorização de entrar onde estavam esses livros.
No entanto, haviam os monges copistas, responsáveis por copiar à mão, traduzir e ilustrar os livros, mas somente aqueles em que o bibliotecário-chefe lhes dava autorização. E essas bibliotecas recebiam muitos monges copistas que vinham de vários locais do mundo, trocando livros por cópias de onde estavam visitando.
E assim, frei Guilherme chega a abadia com a missão de investigar a morte de um monge e intermediar uma grande reunião entre os grandes representantes da Igreja Católica, a fim de facilitar o encontro que haveria para o concilio da igreja que estava havendo nessa época. Nesse concílio, como também no encontro da abadia, discutiam-se questões da fé, da igreja, e em especial, nessa obra, sobre o riso, que faz com que a pessoa não tenha medo, o que é ligado à religião.
“O riso liberta o aldeão do medo do diabo [...]. Quando ri, enquanto o vinho borbulha em sua garganta, o aldeão sente-se senhor, porque inverteu as relações de poder [...]. por alguns instantes, o riso faz o aldeão esquecer o medo. Mas a lei se impõe por meio do medo, cujo nome verdadeiro é temor a Deus. [...] Para o aldeão que ri [...] a morte não lhe importa: mas depois, acabada a licenciosidade, a liturgia impôs de novo, de acordo com o desígnio divino o medo da morte. [...] o que seremos nós, criaturas pecadoras, sem o medo, talvez o mais benéfico e afetuoso dos dons divinos?”
Uma série de assassinatos começa a ocorrer quando lá chega e acaba por concluir que as mortes tem haver com os mistérios que se escondem na biblioteca. Fato que fica evidente para eles ao constatar que o abade e o bibliotecário tentam controlar e manter em segredo o conteúdo de muitos livros que estão escondidos num labirinto de câmaras. “Seria essa uma medida para proteger os monges de heresias proibidas ou esta seria apenas uma prova de que conhecimento significa poder”, propagação ou não do conhecimento.
Assim, baseando-se nessa premissa, começam suas investigações, com grandes acontecimentos, mistérios e descobertas.
Apesar da resistência de alguns religiosos do local, desvenda as causas dos crimes, ligadas à manutenção de uma biblioteca que mantém em segredo obras apócrifas, obras que não seriam aceitas em consenso pela igreja cristã da Idade Média, como é a obra risonha criada por Umberto Eco e atribuída romanescamente a Aristóteles. A aventura de Guilherme é quase quixotesca.
Uma obra maravilhosa, em que Umberto Eco homenageia, por meio de Adso, o detetive Watson, e por meio do frei Jorge, que tinha sido bibliotecário e era cego, a Jorge Luiz Borges, também bibliotecário na Argentina. Além disso, Umberto Eco faz um trabalho primoroso com a reconstrução da época, que nos leva a viver a Idade Média sem lá estar.
Interessante também é desvendar o porquê do título da obra, fato que pode ser analisado na última frase do livro, em latim. O título terá uma compreensão para cada um de acordo com a experiência que se teve durante a leitura.
SPOILER:
.
.
.
Na pág. 541, traduz-se: “a rosa original permanece apenas em seu nome, nos apegamos apenas a nomes vazios”.
A palavra “rosa” nos remete à imagem da rosa, mesmo que ela não exista mais. Jorge, que era cego e protegia a biblioteca, morreu. A biblioteca pegou fogo. Adso conta a história em sua velhice, rememorando o que viveu, e nada nem ninguém não existem mais. Assim, o que sobrou: o nome vazio carregado de símbolos, ou seja, o nome da rosa, que é uma expressão usada na Idade Média para denotar o infinito poder das palavras.
*Minha nota foi 4,5 pela edição, que tem glossário de palavras em latim, mas não de todas as frases, deixando muitas sem tradução. Já que foi feito o glossário, deveria incluir todas, completo.
(informações baseadas nas resenhas de
Isabella Lubrano e Tatiana Feltrin,
que muito enriqueceram minhas
considerações e reflexões acerca do livro)