O Último Artesão: Walter Avancini

O Último Artesão: Walter Avancini Ângela Britto




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Luis 29/01/2014

O Diretor em close
Se compararmos o processo de criação da teledramaturgia, em especial de seu produto mais típico, as novelas, com o cinema, a figura do diretor tende a ter uma porção consideravelmente menor de reconhecimento em relação a autores e atores. Experimente lembrar de primeira, sem recorrer a qualquer fonte de consulta, os atores principais de uma novela icônica, como Vale Tudo, por exemplo ? É provável que você se lembre de alguns (Antônio Fagundes, Beatriz Segall) e , além deles, do autor, Gilberto Braga. Pouquíssimos devem ter memória de que aquele grande sucesso foi dirigido por Dennis Carvalho.
A lógica muda radicalmente quando falamos de cinema. Em geral, e por mais que disponha de atuações destacadas e a despeito do roteiro, um filme é em última instância uma obra de diretor. Nesse aspecto, pode-se dizer que Walter Avancini foi talvez o mais influente ( e cinematográfico) realizador da teledramaturgia brasileira. Em todos os trabalhos em que esteve envolvido, deixou de forma indelével a sua marca.
Em “O Último Artesão” ( Gryphus, 2005), a atriz e jornalista Ângela Brito coleta 52 depoimentos de atores e técnicos que trabalharam com Avancini em sua longa trajetória televisiva, composta por passagens pela Excelsior, Tupi, Bandeirantes, SBT, Manchete e Globo.
Há alguns anos, ao rememorar o começo de sua carreira, Regina Duarte afirmava que a sua formação de atriz, basicamente desenvolvida na televisão, foi inteiramente moldada pelo diretor com quem trabalhou em nove oportunidades, incluindo aí a mais emblemática telenovela estrelada pela “namoradinha do Brasil”, Selva de Pedra. O depoimento de Regina, uma das entrevistadas no livro, dá uma tônica do que seria uma impressão quase unânime em relação à Avancini : alguém de inegável valor, capaz de formar atores, mas ao mesmo tempo, um diretor de métodos extremamente duros. Capaz de melindrar os mais sensíveis e exasperar a equipe , levando todos ao limite. Tudo pela verdade de uma cena.
Não era incomum que ele interrompesse uma gravação, que a seu critério não corria a contento, e provocasse deliberadamente os atores envolvidos, há relatos inclusive de discussões pesadas que quase chegavam à agressão, só para deixá-los raivosos. Quando o trabalho era retomado, o desempenho, impulsionando pelo estado emocional alterado, geralmente era de qualidade superior. Tática de guerra a serviço da arte.
Chega a ser curioso como os depoimentos são coincidentes sobre determinadas características obsessivas de Avancini : atores não podiam ensaiar com o texto à mão, que devia ter sido estudado com antecedência; jamais sentar ou descansar na mobília ou demais componentes de cena; não eram admitidas conversas ou brincadeiras entre a equipe técnica e os atores, estes últimos deveriam estar em atmosfera plena de concentração. No caso de violação dessas ou outras regras, o lado carrasco aparecia : broncas homéricas distribuídas democraticamente, desde o funcionário da limpeza até a estrela consagrada.
Mesmo com essa aura de tensão e cobranças permanentes, o saldo da leitura de “O último Artesão” é o de que a oportunidade de trabalhar com Avancini foi um divisor de águas na carreira dos profissionais entrevistados para a obra.
Certa vez, Janete Clair afirmou que a vida de qualquer pessoa daria uma novela. Walter Avancini foi além : fez da novela a sua vida.
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