Victor Dantas 28/07/2020
A família March sob a luz dos Alcott.
Mais um clássico lido em 2020, e, dessa vez o famoso romance “Mulherzinhas”.
Antes de mais nada, você precisa saber que este livro é um romance que possui referências autobiográficas da vida da autora, assim como, esse livro foi criado por encomenda no século XIX, pois, os editores norte-americanos na época, queriam lançar um livro falando sobre o mundo feminino, voltado principalmente para as adolescentes.
Num primeiro momento, foi lançado apenas um volume, só que, devido ao enorme sucesso que o livro teve no mercado naquela época, os editores solicitaram a autora uma continuação, lançada um ano depois, com o título “Boas Esposas”, logo, o livro é dividido em duas partes.
A história tem como foco, a família March que vivem em uma cidade do interior de Massachusetts, formada pelo sr. e a sra. March e suas filhas: Meg, Jo, Beth e Amy.
Iniciamos a leitura, aproximadamente no ano de 1862, quando a Guerra de Secessão (1861-1865) está ocorrendo nos EUA, e, o sr. March então, fora recrutado para compor o exército norte-americano.
Dessa forma, as meninas ficam sob cuidado da mãe, e, terão que ajudar no sustento da casa, diante as despesas e tarefas domésticas.
Sendo as filhas mais velhas, Meg e Jo, assumem a casa junto com sua mãe, onde Meg dá aula em uma escola infantil, e Jo cuida da sua tia em troca de algumas mesadas. Betty e Amy, seguem então ajudando a mãe em pequenas tarefas domésticas.
E é este o enredo da 1ª parte do livro, onde leva o título de “Mulherzinhas”, justamente por apresentar as personagens ainda adolescentes, onde terão que lidar com as tarefas domésticas, suas necessidades, e aos poucos vão construindo sua personalidade.
Nessa 1ª parte temos inúmeras referências da obra “O Peregrino”, um livro com uma linguagem cristã, que discute muito a moral do ser humano.
Por ter um pai teólogo e uma mãe cristã em vida real, a autora também adiciona isso a atmosfera da trama, onde as quatro irmãs recebem uma educação muito permeada por princípios religiosos.
Na segunda parte, acompanhamos as irmãs na fase adulta, onde agora, cada uma apresenta uma personalidade já formada, e, nesse sentido o leitor acompanha as irmãs vivenciando novas experiências individuais, indo em busca de seus sonhos, a incerteza com o futuro (casamento, família, dinheiro), e, tendo de lidar com seus desejos, medos e seus princípios.
Como disse acima, a obra é um retrato autobiográfico da vida da autora, onde, ela também viveu com suas outras três irmãs.
E aos poucos, o leitor vai percebendo qual das irmãs representa a autora.
Os personagens secundários que aparecem na trama, também foram inspirados em pessoas reais do convívio da Louisa Alcott. Temos o jovem Laurie, que vive junto das meninas desde infância, e tornam-se melhores amigos, temos o Sr. Lawrence, a Hannah, o John, a professor Bhaer, entre outros.
Além das referências de “O Peregrino”, e outras famosas obras literárias, o livro traz também muitas referências históricas da Guerra de Secessão, do mercado da arte e literatura da época, e, referências culturais de costumes, roupas entre outros. A autora também fez um trabalho muito bom nas descrições paisagísticas do EUA do século XIX, Paris, Londres, Suíça, Roma e outros lugares que aprecem na trama.
Por fim, destaco que é aquele tipo de livro onde não possui grandes reviravoltas, e, o desfecho não é nada que surpreenda o leitor, pelo contrário, é algo muito simples e talvez esperado nesse tipo de romance. Minha recomendação é que você leia esse livro aos poucos, pois, além de ter 600 págs, é uma narrativa um pouco arrastada as vezes, dessa forma, é melhor você ir degustando aos poucos.
Recomendo também que você leia na edição da Zahar, pois, ela traz notas e informações complementares bem importantes sobre a obra, além de belíssimas ilustrações.
Minha experiência de leitura:
Particularmente, a primeira parte do livro foi a melhor, no quesito enredo, acontecimentos e desenvolvimento de personagens. Acho que por trazer as irmãs adolescentes, isso deixou a trama mais interessante.
A segunda parte não foi ruim, no entanto, teve alguns pontos que a autora insistiu tanto na moral, que parecia mais uma fábula feminina, um manual de atributos e deveres que toda mulher deve ter perante sua família. Claro que, entendo que para época isso não foi um problema, pois, o livro foi encomendado com esse objetivo, de ser um livro para mulheres, com diálogos e experiências femininas. Mas, mesmo assim, a forma como cada irmã teve seu desfecho, fez perder um pouco a identidade delas construídas na primeira parte.
Em relação as protagonistas, a única que eu consegui me identificar foi a Jo, onde a todo instante eu torcia por ela, não que as outras irmãs tenham sido mal desenvolvidas, pelo contrário, as personalidades são bem distintas. Já os personagens secundários, o Laurie e o professor Bhaer foram os que mais me cativaram.
Por fim, outro ponto negativo foram as descrições excessivas, a narrativa arrastada, onde teve capítulos que pra mim não fez nenhuma diferença, não acrescentou em nada, mas, como eu li em uma leitura conjunta, e, fui apreciando aos poucos a obra, isso não incomodou tanto.
No mais, é um bom livro, no entanto, a história é muito linear, a ponto de que não há uma crescente em nenhum momento.