PorEssasPáginas 24/08/2015
Resenha dupla: Os Filhos de Anansi - Por Essas Páginas
Olá pequenas aranhas! Aqui é o Felipe e hoje vamos falar de Os Filhos de Anansi do queridinho Neil Gaiman. Esta é a primeira vez que leio algo do autor, apesar de já ter ouvido falar do mesmo (e quem não ouviu?), mas confesso que não me surpreendi nem vi tudo o que o povo fala do mesmo. Anansi entretém, é bom, mas se você espera algo épico ou vem com esse pré-conceito de que o autor é a última bolacha do pacote… este livro vai te decepcionar. Agora se você deixar esses pré-conceitos de lado, vai descobrir que Anansi é muito divertido.
Eu (Karen! Oi, eu também li esse livro!) já tinha lido outras obras do Gaiman. Obras MUITO boas, como Coraline e alguns contos, inclusive de Doctor Who (isso sem contar alguns episódios épicos que ele escreveu). Ou seja, gosto muito do autor e estava esperando um livro incrível, e vocês sabem aquela história de, quanto maiores as expectativas…
…maior é o tombo. E sim, eu me decepcionei.
Lembra aquele parente bizarro que você tem na sua família? Aquele tio tagarela, cantor de karaokê de quinta que se veste muito mal? Esse é o pai de Charlie Nancy o protagonista de Filhos de Anansi, carinhosamente apelidado pelo pai de “Fat Charlie”. Após a morte desse figuraço, Fat Charlie descobre que seu pai era um deus e que tem um irmão também deus. Em um momento de embriaguez Fat Charlie conversa com uma aranha e pede para que seu irmão – Spider – o visite, o que desencandeia uma série de péssimas decisões para nosso protagonista.
Conforme avançamos na história descobrimos que nada é como parece em Filhos de Anansi, o irmão de Charlie não é tão poderoso e esperto quanto aparenta, as vizinhas (e possíveis amantes) de seu pai podem ou não serem bruxas, o chefe de Charlie além de ser um porre, é um ladrão. E todos esses personagens te prendem no livro muito bem, cada um com sua própria história e também se entrelaçando com Charlie formando uma teia – há! – muito bacana. Bem, foi o que eu achei, e você, Karen?
Foi mal, Felipe, mas não achei que os personagens foram tudo isso. Já vi personagens muito, mas muito mais envolventes criados por Gaiman. Em Filhos de Anansi, os personagens são rasos, exagerados, monótonos. Resumindo, é um bando de gente muito chata, e não consegui me apegar a absolutamente nenhum. Secretamente torcia para que todos se dessem muito mal só para acabar com o meu tédio. Na verdade, me senti como o Spider durante quase todo o livro: extremamente entediada.
As peripécias aprontadas pelo Sr. Nancy são sensacionais e memoráveis, dá pra sentir tanta vergonha quanto Charlie ao lê-las. Impossível não ser cativado por Spider, clássico garanhão e pilantra de última categoria enquanto ele devassa a vida de Charlie de ponta a ponta deixando o irmão maluco de raiva – a ponto de cometer uma grande bobagem.
Por que, em santa (ou deusa) consciência, o Spider quis roubar a vida de alguém tão sem graça como o Fat Charlie? A vida de deus deve ser muito chata para o Spider resolver tomar a vida do irmão mais sem sal do universo: o cara odeia o trabalho, a noiva dele dá sono e a sogra é uma peste. Tudo isso não me convenceu em Spider, que tinha tudo para ser bem divertido, mas acabou se mostrando uma enorme fraude.
Quando Charlie pede ajuda às vizinhas de seu pai para mandar o irmão embora da onde veio, e o subsequente acordo com um deus pássaro, chegamos no plot central do livro. Charlie precisa descobrir como reverter a burrada que fez, e entender a linhagem e os poderes de Anansi – seu pai. É muito bacana ver como o personagem cresce e ao jeito dele se torna um deus muito mais completo e poderoso que seu irmão. Isso foi bacana; Fat Charlie realmente cresce no livro, mas a questão é que ele demora muito, muito tempo, para isso, e por mais da metade da história é apenas arrastado pelos acontecimentos e jogado para lá e para cá feito uma bolinha de pingue-pongue. Até finalmente amadurecer, eu já tinha desistido de gostar dele. Só queria que tudo acabasse.
O folclore e o panteão criado por Gaiman são muitíssimo criativos, bem como os poderes dos descendentes de Anansi. Único ponto negativo do livro são algumas histórias de personagens que poderiam ter sido completamente descartadas ou resumidas, especificamente das personagens Rosie – a noiva de Charlie – e a Sra, Maeve uma cliente da empresa de Charlie. Entendo a importância e recorrência da noiva de Charlie, mas assim como o plot da Maeve, ela é bem chatinha.
Filhos de Anansi é um romance que poderia ser fácil, fácil um mero conto. Talvez assim fosse engraçadinho. Desse jeito, foi apenas um romance exagerado, com piadas forçadas e personagens pouco carismáticos. A prosa de Neil Gaiman, é claro, está lá, fluida e competente, tanto que, apesar de tanto pontos fracos no livro, a narrativa me conduziu até o final, e isso é um mérito; talvez, se fosse outro autor, eu simplesmente tivesse abandonado o livro. Mas isso não muda o fato de que a obra me decepcionou por completo. Pareceu, por todo o livro, que Gaiman estava apenas se divertindo às custas do leitor, jogando na história acontecimentos absurdos, com explicações pouco convincentes e aceitações rápidas demais pelos personagens; todas esses fatores combinados levaram a uma trama em que é difícil acreditar e levar a sério (e mesmo as coisas engraçadas precisam ser levadas a sério, no sentido de que o leitor precisa acreditar que aquilo é possível). Tudo tem um ar etéreo de fantasia bizarra e só. Fiquei sinceramente deprimida ao ler esse livro, porque sei que o autor é capaz de criar histórias muito mais fantásticas e envolventes.
Esta edição possui uma capa bonita, está bem revisada e diagramada porém carece de alguns detalhes entre capítulos, uma divisão interessante, quem sabe uma imagem ou uma fonte diferenciada.
Resumindo: Filhos de Anansi é criativíssimo, entretém, é uma leitura gostosa (li em um dia!). Vai te capturar com certeza. Ou não.
site: http://poressaspaginas.com/resenha-dupla-os-filhos-de-anansi