Júlia 26/05/2020
Entrevistas por quem sofre de timidez ousada
Confesso que pensei algumas vezes em abandonar a leitura, especialmente por não conhecer várias das pessoas entrevistadas por Clarice, a maioria nos anos 70, e por algumas entrevistas tratarem de temas distantes do meu interesse. Mas o primeiro obstáculo torna-se um trunfo quando aproveitamos para através do livro conhecer artistas brasileiros e suas obras. Sim, a maioria dos entrevistados são artistas, e as perguntas de Clarice pairam muito sobre esse universo, que inclui o processo criativo de cada um.
Assim, através do livro, pude conhecer um pouco mais de figuras conhecidas como Chico Buarque, Elis Regina, Jorge Amado, Lygia Fagundes Telles. Além, é claro, de vislumbrar um pouco mais da personalidade da própria Clarice, que se deixa antever sob a justificativa de deixar o entrevistado mais a vontade. Mas também conheci Djanira, Pedro Bloch, Hélio Pellegrino, que foram para mim gratas surpresas.
Termino essa resenha com trechos sobre Clarice que estão entre os motivos desse livro valer a pena de ser lido:
"Mas sou uma tímida ousada e é assim que tenho vivido, o que, se me traz dissabores, tem-me trazido também alguma recompensa. Quem sofre de timidez ousada entenderá o que quero dizer" (p. 71).
"- Umas das coisas que me deixam infeliz é essa história de monstro sagrado: os outros me temem à toa, e a gente termina se temendo a si própria. A verdade é que algumas pessoas criaram um mito em torno de mim, o que me atrapalha muito: afasta as pessoas e eu fico sozinha. Mas você sabe que sou de trato muito simples, mesmo que a alma seja complexa. (...)".