A Mão que Cria

A Mão que Cria Octavio Aragão




Resenhas - A Mão que Cria


5 encontrados | exibindo 1 a 5


André Hausmann 20/06/2022

O que aconteceria se...
Com uma quantidade de referências de literatura clássica, cinema e quadrinhos, temos aqui um livro de ficção cientifica, ou melhor dizendo, ficção alternativa. Algo que não é muito encontrado nas livrarias brasileiras, e que se trata de se utilizar de personagens de outros autores que são mais conhecidos e de preferência estejam em domínio público.

Nesse caso temos a ascensão do escritor Julio Verne para prefeito de Paris e utilizando de sua inteligência e criatividade para criar objetivos mais concretos baseados no que seriam a base das suas histórias que conhecemos. Acrescente a isso, a proposição de que diversos personagens criados na Europa no século XIX não pessoas reais, bem como suas incríveis aventuras, teremos então um grande palco cheio de possibilidades.


É com isso que o autor trabalha, acompanhando uma rivalidade entre dois antagonistas que atravessa a história da humanidade onde fatos históricos que conhecemos tiveram certos pontos alterados em virtude do que foi explicado anteriormente.
Numa narrativa não linear, temos os principais eventos desse conflito visto através dos olhos dos oponentes até chegar ao momento tão do grande embate, nesse mundo meio steampunk onde encontramos desde humanos aprimorados até explicações para a existência dos exércitos de zumbis.

É uma narrativa interessante que merece atenção daqueles que apreciam ficção científica.
comentários(0)comente



Fábio M. Barreto 25/04/2017

Um criador, várias criaturas
Quatro anos depois de seu lançamento (texto original é de 2010), A Mão que Cria, de Octavio Aragão, começa a ganhar traços de marco de gênero e aspira ao Olimpo dos clássicos nacionais! Em texto pessoal, revelo alguns segredos e pensamentos envolvidos na produção desse livro cheio de zumbis, homens-peixe e personagens da literatura mundial!

por Fábio M. Barreto, editor especial na Lemúria

Um braço misterioso desceu na Catedral de Notre Dame e alguns homens morreram antes de um duelo épico entre a Criatura de Frankenstein e o Aquaman, mas era só o preâmbulo para a invasão dos zumbis, da França mecanizada presidida por Júlio Verne e duas Guerras Mundiais marcadas por conflitos entre homens-golfinho, criados pelos conceitos do Dr. Moreau e os desmortos da Alemanha. Quanta coisa misturada, não? Bem, decidi publicar A Mão que Cria quando o braço desceu e não precisei passar do segundo parágrafo para ter certeza da impressão inicial. Era meio de 2006, minha esposa já estava grávida e eu acabava de iniciar um período curto, mas intenso, de trabalho na Editora Mercuryo, em São Paulo. Recebi um pedido idealista – que mais tarde se mostraria essencialmente desesperado – por novas idéias, novos temas, novos autores para uma editora dependente da obra de J.J.Benitez. A primeira escolha foi imediata e só informei a Gerson Lodi-Ribeiro que Outros Brasis seria, finalmente, publicado na pátria mãe. A segunda, da qual gosto de me considerar um pouco responsável, foi A Mão Que Cria, de Octavio Aragão. Um telefonema, algumas linhas de texto e, naquele momento, minha era a mão criadora. À época, preocupei-me com o presente e arrisquei classificar o livro como “a primeira ficção alternativa brasileira”, alcunha que lhe é de direito, mas não fiz nenhum exercício de futurologia e mesmo que tivesse feito, não imaginaria sua relevância para as bases do que hoje conhecemos como steampunk e toda essa zumbizada na literatura fantástica brasileira. Quatro anos e meio depois de meu primeiro contato com a proposta de Aragão, revisitei a obra e, de maneira assustadora, pude constatar que, na verdade, nossa maior realização foi a gênese de um admirável mundo novo, do qual todos podem, e devem usufruir, seguindo os preceitos mais que definidos pelo autor em sua outra criação, a Intempol. Pode ter sido fruto de um rompante de romantismo em prol da FC, mas resultou num livro fundamental!

Sou suspeito para falar? Possivelmente, mas meu senso crítico costuma jogar contra e elevar os padrões aceitáveis em termos de leituras ou filmes. Basta ler qualquer análise publicada nos veículos com os quais me correspondo, não há o que esconder. E confesso que temia pelo efeito dos anos e da maior experiência quando reiniciasse a leitura de A Mão que Cria, mas o primeiro parágrafo fez as vezes da máquina de H.G. Wells para resgatar não a lembrança da história – essa nunca desapareceu -, mas a empolgação desperta pelo primeiro contato. Precisava ler. Queria ler. Não conseguia parar de ler. A cada novo personagem a curiosidade quase adolescente despertava para situá-lo no mundo real ou no literário, suas referências, suas motivações e o modo como Octavio (chamá-lo pelo sobrenome, Aragão, soa estranho num texto tão pessoal) costurou tudo isso de forma alucinante. Você está certo, meu caro leitor, se considera tudo isso um discurso de fanboy, mas o que é o editor se não um fanboy com meios e crença suficiente para acreditar que uma obra merece ser compartilhada e tem fôlego suficiente para dar lucro nas livrarias? Aliás, é preciso acreditar mais do que o normal para assumir esse tipo de responsabilidade.

Misturar elementos fictícios com realidade é obrigatoriedade no gênero da Ficção Alternativa, mas Octavio merece os louros por sua criação mais brutal: os desmortos. Todo mundo tem alguma idéia do que sejam zumbis – seja algo ligado ao vodu ou a imagem mais moderninha, do zumbi popular de The Walking Dead – e vincular esse não-ser tão vinculado à imagem de George Romero foi algo estarrecedor, ainda mais quando o “paciente zero” se tratava da Criatura de Frankenstein. Muitos autores que se arriscam com o tema queimam muitos neurônios para encontrar, normalmente na biologia, explicações plausíveis para a infestação zumbi. A Mão que Cria já apresentava uma nova proposta para o gênero lá atrás, numa mescla de influência alienígena com conceitos deturpados de uma criatura amargurada e abandonada. Se zumbi é sinônimo de vida sem ordem e desestruturação, os desmortos de Octavio já nasceram mais avançados, como o princípio de uma sociedade sedenta e sem dor. O caos dos filmes, gibis e séries de TV é básico. O Ariano – também conhecido com a Criatura – é a pós-graduação nas possibilidades desse tema.

Sempre mantive uma referência velada de William Forrester à relação que Octávio Aragão tem com os autores de quem empresta idéias e personagens. Tão fictício quanto o cenário de A Mão que Cria, Forrester permite que um pupilo use algumas de suas palavras e as transforme em algo seu. Próprio. Diferente. Nunca se abre a mesma porta, ou se vira a mesma página. Octávio fez o que todo autor de ficção científica tem obrigação informal – afinal, inserir obrigações estruturais é paradoxal por natureza – pelo caráter inovador e exploratório do gênero: deixou uma idéia se construir e a explorou. O zumbi como condição social e não como pestilência inexplicável permite muito mais criatividade, especialmente quando seu patriarca é um gigante deformado extremamente intelectualizado e com o coração partido. Penso em The Walking Dead e nos livros sobre o assunto sem encontrar repentes de criatividade no senso estrito da palavra. Há releituras, novas roupagens ou linguagens servindo para reapresentar um mesmo personagem. Todo mundo pensa em como, e se, os sobreviventes vão se safar; Octavio lhes deu uma nova origem. Uma opção de existência, uma continuidade alternativa.

Curioso falar de origem num livro cuja própria origem está espalhada por séculos de literatura. Cada nova esquina desbravada pelo estilo empolgante e ininterrupto de A Mão que Cria abastece a imaginação que acelera a todo vapor. Por falar nisso, finalmente, o Brasil vive o levante do SteamPunk, com diversos autores explorando o mundo retrô alimentado pela tecnologia robusta das máquinas à base de motores a gás, e mesmo nisso Octavio foi pioneiro. Seguindo os passos do mestre Verne, cuja influência como cientista teria possivelmente despertado um gigantesco renascimento a vapor na Europa pré-Primeira Guerra, o romance estabelece uma boa base para o visual rebuscado condizente com os cenários do gênero assim como suas máquinas e armamentos. Pensar no Celacanto – o opressivo submarino em forma de castelo – com quem o Nautilus trava combate ou a parafernália usada para tentar conter os desmortos na embaixada da Lemúria remete aos primórdios de uma identidade visual inevitavelmente herdada da literatura estrangeira que há anos explora o suas possibilidades, mas se apropriando dos conceitos com descrições espartanas e efetivas.

Cada autor tem imaginado o seu mundo repleto de máquinas a vapor, engenhocas miraculosas e visual antigo, batalhas entre aeronaves e zeppelins, grandes realizações de uma cultura que nunca existiu. Isso sempre me maravilhou na FC, poder imaginar tanto em tão pouco espaço de tempo. E daí que 2001 errou em sua previsão? Nada muda o impacto da sugestão de Arthur C. Clarke. O steampunk preserva o sentimento da “saudade de algo que não vivemos”, com sua classe embutida e cafonice visual obrigatória. É no exagero que está o segredo e tem coisa mais exagerada que um colosso submarino com torres móveis, armamento pesado, mísseis tripulados e um bando de zumbis, ou futuros desmortos, como tripulação? Em tempo, em momento algum quero forjar uma imagem falsa de que A Mão que Cria seja uma bíblia do steampunk ou dos zumbis, mas, como co-responsável, devo ressaltar sua importância e, especialmente, seu arrojo num momento em que os autores nacionais ainda não haviam se embebedado nos vapores fumegantes ou no diesel corrompido.

Se dele é a mão que cria, nossa é a mão que vira a página. E, deuses, como não parei de virá-las durante essa releitura que, de fato, foram duas em seqüência. Arrisco um palpite: tudo por causa de tantos desdobramentos espontâneos de idéias ali reunidas num balaio de gato literário, criativo e aterrorizante para bichos grilo amantes de golfinhos. E como ninguém mais o fará, decreto aqui: A Mão que Cria é um clássico – no mínimo, uma obra seminal de uma variável do gênero –, um caixa de pandora pronta a ser aberta por quem se atrever. Considerar apenas unanimidade como fator determinante nesse caso não se aplica, pois vivemos uma transição tanto de leitores quanto de autores. Há muita gente desgostosa em relação à obra e bons argumentos e criticam, entretanto, foram gerados a partir de um livro capaz de provocar e ousar quando nenhum outro teve a coragem. E isso não é surto de editor não, faço uso das palavras de Gilberto Schoereder, pesquisador do gênero, que considera esse “um livro que não pode deixar de ser lido, porque de fato traz um novo tipo de proposta para a FC nacional, e com muita qualidade”. Não sei bem se é o devaneio do vapor ou a revisita à Lemúria e às mazelas da família McKenzie, mas a chegada de 2011 tem cheiro de peixe com feijoada, de guerra retrô nos céus, tem cheiro de dor e punição, afinal, dele também é a Mão que Pune.

site: http://www.fabiombarreto.com
comentários(0)comente



lfvasques 18/04/2017

Julio Verne Overdrive!
Conheço o autor desde os 1998s da vida, da convivência virtual em listas dedicadas a ficção-científica e afins, especialmente da finada e saudosíssima lista da Intempol, seu projeto de shared universe literário. Ou seja, não sou isento aqui. Uma vez alertados...

Uma miríade de referências literárias, cinematográficas e de quadrinhos montam uma história de vingança, de disputas e dramas pessoais, firmemente entrelaçados nos destinos políticos de um mundo divergido do nosso cronológica e tecnologicamente, com personagens históricos e fictícios convivendo uns com os outros, à maneira do gênero conhecido por ficção alternativa, da qual Anno Dracula (ed. Aleph) é grande exemplar saído aqui no Brasil - e do qual o próprio Octavio Aragão assina o posfácio da edição brasileira.

Como um dos homens-golfinhos descritos, o autor desliza bem entre as referências que lança, costurando eventos isolados no tempo e na geografia, com saltos não só entre lugares mas também em períodos e eventos históricos. Ataques de zumbis, supersoldados, as duas guerras mundiais, reis submarinos manetas... a lista vai longa. Gentil, o autor ainda dispôs um pequeno guia de referências ao fim do livro.

A prosa do autor, em escritos passados, não costumava poupar muito o leitor, que tem que estar atento, às vezes 'ir de um neurônio', na gíria dos skatistas. Neste livro, a coisa é mais branda, há mais explicações do que estou acostumado a ver, mas faz parte de se escrever um page-turner.

O livro vem pela Editora Mercuryo, que na época ainda lançara Outros Brasis, de Gerson Lodi-Ribeiro, sob o selo Unicórnio Azul, dedicado à literatura fantástica. Até onde soube, o selo foi extinto e, constatando no site da editora, ambos os livros não estão mais em estoque.

Apenas um alerta aos incautos: a editora comeu mosca, ao publicar datas erradas no início de certos trechos do livro (fazendo com que, por exemplo, o rei submarino maneta, descrito como havendo perdido a mão em 1970 assim já esteja nos capítulos finais, ditos em 1946). Em uma narrativa que naturalmente vai e volta ao longo do Século XX e arredores, isso pode realmente confundir. Um pequeno cartão anexo explica isto, mas caso seu exemplar não tenha, ou você não encontre... é torcer para que em uma futura edição isto seja revisto, além de outros deslizes menores. Certamente merecia mais cuidado.

De qualquer forma, em andamento já está a sequência: A Mão Que Pune. Resta aguardar...

A Mão Que Cria
159 p.
Editora Mercuryo
comentários(0)comente



ClintonDavisson 15/01/2011

O Fantástico Mundo do Doutor Octávio
A Mão que cria
Octávio Aragão leva a ficção alternativa às últimas conseqüências

Por Clinton Davisson

Todo escritor que se preze, começou imaginando histórias criadas por outros autores. Sejam elas vistas em filmes, livros, HQs, ou até músicas. O problema é que, durante muito tempo, isso era visto como plágio. Mas depois que George Lucas e Josephy Campbell provaram que todas as histórias já tinham sido contadas pela cultura helênica, e ninguém queria pagar royalties aos gregos, admitiu-se, finalmente, que misturar coisas de outras pessoas de maneira criativa, não só era legal, como também servia de homenagem.
O carioca Octávio Aragão, já tinha entrado para a história da literatura nacional ao inventar o universo Intempol, uma criação coletiva de histórias que se passam em um mundo "controlado" por uma polícia secreta do tempo. Em 1998 publicou também o conto intitulado “Eu matei Paolo Rossi”, na coletânea “Outras Copas, Outros Mundos” que virou um dos mais comentados da história da chamada FC do B, ou seja, ficção científica do Brasil, ao colocar os agentes da Intempol para matar o chamado Carrasco da Tragédia do Sarriá, o atacante italiano Paolo Rossi, principal responsável pela vitória fantástica da seleção italiana sobre a brasileira na Copa do Mundo de futebol de 1982, realizada na Espanha. A partida, considerada por muitos, o pior episódio do futebol brasileiro desde a derrota em casa para o Uruguai na final da Copa de 1950.
Só isso já bastaria para colocar Octávio Aragão no rol da fama dos desbravadores da FC do B no final do séc XX. Mas em 2006 ele lançou A Mão que Cria, uma história que se passa em um universo instigante, onde o autor se aventurou em um gênero até então pouco conhecido no Brasil, a ficção alternativa. Na história, o renomado escritor Julio Verne, seria eleito presidente da França e, graças a sofisticados veículos e armas baseados em máquinas criadas em seus livros, a França se tornou uma super potência no início do século XX.
Nesta nova realidade, também há novos problemas sociais como a ascensão de uma raça de mutantes originários de experiências genéticas presentes em A Ilha do Doutor Moreau, um romance de H. G. Wells, que ganha espaço na realidade de Aragão. Esses novos seres seriam híbridos entre animais selvagens e seres humanos se tornariam fundamentais para o poder militar da França (que exército recusaria um homem golfinho?), mas, posteriormente, vão se tornar um problema na hora de disputar empregos com os humanos normais.
Formado pela escola de belas artes da UFRJ e com doutorado em artes visuais pela mesma universidade, Octávio Aragão constrói uma obra arrebatadora e de criatividade inquestionável ao misturar elementos reais, como a queda de um meteorito na Sibéria em 1908, heróis de histórias em quadrinhos como o Príncipe Namor e Aquaman, cujos parentes dão as caras na história. Um bom exemplo desta ousada salada literária é a melhor cena do livro onde os heróis são perseguidos por, nada menos do que, uma legião de zumbis nazistas canibais reunindo elementos comuns de romances históricos, de aventura e terror.
Para desespero dos que gostam de um romance mais convencional, A Mão que cria abusa de uma narrativa tão esquizofrênica quanto permite a pós-modernidade. São indas e vindas e trocas constantes de narrador, de tempo e de espaço, somadas as intermináveis citações de personagens saídos dos mais diferentes formatos midiáticos - do escritor H.P. Lovecraft a série de tevê nipônica National Kid - que muitos consideram impossível compreender completamente o livro. Algo que pode até ser considerado um charme a mais e, claro, gerou ainda mais discussão na mídia.
Nem tudo são flores no livro. Muitas das situações e personagens, mereciam um desenvolvimento melhor. O carismático Rambo finlandês, Kronn, e o próprio Julio Verme (transformado em personagem), por exemplo, poderiam e deveriam ser mais explorados. Temos a impressão de que o autor se conforma em ter boas idéias, sem ver necessidade alguma de desenvolve-las na narrativa. Fica um gosto de quero mais, problema que está sendo resolvido com uma continuação, A Mão que Pune, que está sendo escrita pelo autor e que provavelmente é um dos livros mais esperados no meio para a próxima década.
Se está longe de ser uma unanimidade do ponto de vista literário, A Mão que cria concentra seu poder de fogo nas suas inúmeras boas idéias e na sua estonteante salada de referências. Quem entra na brincadeira, se diverte com 160 páginas de muita criatividade.


Entrevista:

1. Clinton - Muitas das citações de A Mão que cria remetem a elementos antigos, como a série de TV O Homem do Fundo do Mar ou National Kid, que são desconhecidas da nova geração. Como é a reação dos jovens em relação ao livro?

R. Até agora, os guris têm gostado bastante, mesmo não reconhecendo todas as referências. Elas não são indispensáveis para a fruição da história. E além do mais, hoje temos o Youtube, que está cheio de clipes referentes a essas séries antigas. Meu filho de quatro anos, por exemplo, já assistiu aos velhos desenhos da Hanna-Barbera no computador, logo, se houver a curiosidade, é só apontar os cursores e pronto, lá estão todos esses personagens à espera de um leitor, telespectador, usuário etc.

2. Clinton - A mistura de mitologia, com referências cinematográficas, literárias, televisivas e até de histórias em quadrinhos já se tornou popular e reconhecida em todo o mundo desde George Lucas em 1977. Você ainda enfrenta preconceito no Brasil para com este tema?

R. Preconceito vem de todo lado, por qualquer motivo. É previsível, principalmente quando você não tem vergonha de assumir que está compondo uma obra despretensiosa, que nasceu para ser um seriado publicado na internet e acabou virando um romance. O Jorge Amado, por exemplo, dizia que jamais se deve fazer referência a nada, pois isso transformava automaticamente o texto em sub-literatura. Por outro lado, eu não tenho nenhum pudor em dizer que faço sub-literatura, infra-lieteratura, o que for. Para a Mão Que Cria segui dois princípios: (1) botar o máximo possível de idéias no menor número de páginas, adaptando idéias que percebo em autores diferentes como Grant Morrison e China Miéville - cada página, um conceito novo, um novo personagem. Isso criaria uma sensação de tontura, de convulsão no leitor; e (2) velocidade máxima. Ação o tempo todo, sem dar tempo para respirar. Você pode dizer que não gostou, mas não que parou no meio. Queria provar a mim mesmo que poderia misturar os tempos narrativos, os personagens, os temas e ainda assim fazer algo que te agarrasse pelo colarinho e fosse impossível de largar até a última página.

3. Clinton - A série Liga Extraordinária é o mais lembrado e celebrado dos crossover de personagens clássicos, mas isso não é uma idéia nova, é verdade?

R. Não, rapaz! Edmond Rostand já fazia crossovers em Cirano de Bergerac, onde o espadachim francês encontrava com D'Artagnan numa cena de briga de taverna. E o que seriam os Argonautas gregos que foram em busca do Velocino de Ouro, senão um tipo de Liga da Justiça? E o ciclo arturiano de Thomas Malory e Geoffrey de Monmouth não era uma miscelânea de heróis oriundos de lendas originalmente não relacionadas? O cinema, então, usou e abusou desse recurso, juntando Drácula, a criatura de Frankenstein e até o Homem Invisível, de Wells, em diversos filmes desde os anos 30 - uma estratégia que jamais saiu de moda, basta ver produções como A Festa do Monstro Maluco (1969), Assassinato por Morte (1976) ou o recente Van Helsing (2004).

4. Clinton - É verdade que o personagem do finlandês Kronn é o preferido dos leitores? Ele vai estar no próximo livro?

R. Sim, Kronn é o queridinho dos leitores, talvez porque seja o único personagem do romance que não tem dúvidas, que não mostra sinais de fraqueza. Ele faz o que acha certo do jeito que acha melhor. Teve gente que até cunhou o lema "Kronn Manda" e levou para comunidades da internet. Eu achei muito divertido e posso dizer que, sim, ele voltará, mas com um enfoque diferente.

5. Clinton - Para terminar, quando é que sai a continuação de A Mão que cria e como vai se chamar?

R. Chama-se A Mão Que Pune e estou em pleno processo de escrita. Ao contrário do primeiro livro, este será um volume de trezentas páginas e, para quem reclamou das idas e vindas, dos personagens mal definidos, afirmo que este será bem mais tranqüilo, sem tanta correria, mas com a mesma adrenalina e a chuva referencial. Serão três partes de cem páginas cada; a primeira focada no século XIX, a segunda na Primeira Guerra Mundial, desenvolvendo a participação da marinha francesa turbinada pelos submarinos Nautilus, e a terceira no século XXI, continuando onde o primeiro livro parou.
Está dando uma trabalheira, mas acredito que o resultado sub, infra, pós ou ultra-literário, será muito divertido.
comentários(0)comente



Antonio Luiz 16/03/2010

"A Mão que Cria" é uma aventura movimentada, na qual se cruzam convenções do cinema de ação e de terror com as do romance moderno. Uma destas é o afastamento da narrativa linear – cujo efeito foi um tanto prejudicado por um erro da edição, que confundiu indicações de lugar e data nos títulos de cada capítulo. Convém conferir a errata.

Toma temas e personagens de H. G. Wells, Mary Shelley, H.P. Lovecraft e Jules Verne – além do próprio escritor francês – e os joga na história real dos séculos XIX e XX, ao lado de D. Pedro II e Adolf Hitler, entre outros. O resultado é um mundo muito modificado, no qual duas linhagens sobre-humanas – uma herdeira de Victor Frankestein, outro do Dr. Moreau – se enfrentam entre si e com os meros humanos pelo futuro do mundo.

Um ótimo romance no que se refere a descrição de cenas de combate e aventura. Mas lhe falta profundidade e reflexão, na minha opinião.
comentários(0)comente



5 encontrados | exibindo 1 a 5


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR