Vanne 16/07/2011
Leitura comovente e obrigatória..
As duas novelas se complementam como histórias de um começo e um fim de vida.
Particularmente, a primeira (Campo Geral) me comoveu mais, o protagonista, Miguilim, parágrafo por parágrafo cativa o leitor de uma maneira inexplicável!
As partes que mais me marcaram foi quando o irmão do protagonista morre.. Cada coisa linda que ele diz, cada ensinamento que ele deixa para o irmão e o final de Contos Gerais é de uma genialidade fabulosa.. Mostra como um ser se encanta ao entender o mundo, a ver as coisas como elas de fato, são.
Impossível não bater aquela vontadezinha, por menor que seja, de chorar.
Guimarães Rosa consegue mostrar, de maneira delicada e encantadora, a simplicidade e a pureza do povo nordestino.
TRECHOS QUE DESTAQUEI:
"Quando voltou para casa, seu maior pensamento era que tinha a boa notícia para dar à mãe: o que o homem tinha falado: - que o Mutum era lugar bonito... A mãe, quando ouvisse essa certeza, havia de se alegrar (..) pág.: 14
"- Miguilim, você tem medo de morrer ?
- Demais... Dito, eu tenho um medo, mas só se fosse sozinho. Queria que a gente todos morresse juntos..." pág.: 30
"Miguilim não tinha vontade de crescer, de ser pessoa grande, a conversa das pessoas grandes era sempre as mesmas coisas secas, com aquela necessidade de se brutas, coisas assustadas." pág.:39
"- Dito, eu às vezes tenho uma saudade de uma coisa que eu não sei o que é, nem de donde, me afrontando..." pág.: 61
"O pai estava lá, capinando, um sol na enxada, relumiava. Pai estava suado, gostava de ver miguilim chegando com a comida do almoço. Tudo estava direitim direito, Pai não ralhava. Se sentava no toco, para principiar a comer. Miguilim sentava perto, no capim. Gostava do Pai, gostava até pelo barulhinho d'ele comendo o de-comer. Pai comia e não conversava. Miguilim olhava." pág.: 69
"Miguilim não sabia muitas coisas. - Mãe, a gente nunca vai poder ver o mar, nunca ? Ela glosava que quem-sabe não, iam não, sempre, por pobreza de longe. - A gente não vai, Miguilim. - o Dito afirmou. - Acho que nunca! A gente é do sertão. Então por que é que você indaga ?
- Nada não, Dito. Mas às vezes eu queria avistar o mar, só para não ter uma tristeza..."
pág.: 94-95
"Enquanto estava chorando, parecia que a alma toda se sacudia, misturando ao vivo todas as lembranças, as mais novas e as muito antigas. Mas, no mais das horas, ele estava cansado. Cansado e como que assustado. Sufocado. Ele não era ele mesmo. Diante dele, as pessoas, as coisas, perdiam o peso de ser." pág.: 111
"O Dito dizia que o certo era a gente estar sempre brabo de alegre, alegre por dentro, mesmo com tudo de ruim que acontecesse, alegre nas profundas. Podia ? Alegre era a gente viver devagarinho, miudinho, não se importando demais com coisa nenhuma." pág.: 138