Camilla 18/05/2013
Resenha postada no blog Segredos e Sussurros entre Livros
Amor Deliria Nervosa é uma doença grave e fatal. Seus principais sintomas são loucura aparente, nuvens sob os pés e dificuldade em obedecer às regras. Uma vez contraída, não há cura, a não ser a morte. Para evitar que os males da temida doença assolem a população, o governo disponibiliza A Cura. Todo cidadão tem direito ao procedimento que erradicará, de vez, o risco de se contrair a doença, a partir de um pequeno preço: eliminação total de qualquer sentimento.
Pandemônio é o segundo livro da série Delirium, escrita pela brilhante Lauren Oliver e publicada no Brasil pela Intrínseca. Delírio, o primeiro volume, foi a primeira distopia que me encantou, ainda que seu final tenha me arrasado. Pandemônio começa do ponto em que Delírio parou, ou seja, com Lena sozinha e acabada nas Terras Selvagens. (Breve resenha de Delírio aqui.)
Dividida entre o passado — Alex, a luta pela sobrevivência na Selva — e o presente, no qual crescem as sementes de uma violenta revolução, Lena Haloway terá que lutar contra um sistema cada vez mais repressor sem, porém, se transformar em um zumbi: modo como os Inválidos se referem aos curados. Não importa o quanto o governo tema as emoções, as faíscas da revolta pouco a pouco incendeiam a sociedade, vindas de todos os lugares… inclusive de dentro.
Como posso expressar o que li em Pandemônio, sem que soe clichê ou vazio? Gosto muito de distopias. Muito mesmo. Sempre digo isso, eu sei. Distopias contém dor, romance e um mundo terrível, todos ingredientes para uma trama de tirar o fôlego. Lauren Oliver tem uma forma bizarra e um tanto amargurada de escrever suas histórias. Delírio não é só uma série distópica, mas a demonstração de dois lados de uma moeda. Alguém duvida de que o tal Amor é mesmo fonte da discórdia, loucura e confusão? Eu não. Mas também não dá para imaginar um mundo onde não haja amor, mas apenas pessoas com sentimentos robóticos. O fato é: Pandemônio superou minhas expectativas. Sim, eu li muitas resenhas afirmando que o final seria chocante e tal, a ponto de ter, realmente, sofrido por antecipação.
Bom, minhas impressões são óbvias, a esta altura, certo? Mas vamos aos detalhes. O livro mescla dois tempos distintos na vida de Lena: o antes e o agora. Ela narra, em capítulos alternados, tudo o que viveu no antes (a partir da fuga de Portland), e o que está vivendo agora (em missão em New York).
O antes é doloroso, desde sua recuperação e apresentação a um grupo de inválidos, até a memória constante e arrasadora de Alex. Lena se vê embrenhada em uma luta que nunca esperou, em um mundo que nunca imaginou, com pessoas que lutam pela sobrevivência. Personagens marcantes e, obviamente, de grande importância para o futuro da série, são apresentados de forma realista e humana, mas logo, a própria Lena se vê presa nos limites da insanidade provocada pela deliria e a vontade de cumprir um papel.
O agora é limpo, calculista e objetivo. Lena está em missão na cidade de New York, sob nova identidade e lidando com novos desafios. Ela precisa manter os olhos em Julian, um importante membro da sociedade curada, mas acaba surpreendida por uma situação ruim, sem instruções ou armas. Daí em diante, momentos tensos correm em ritmo frenético e quase sem pausa. Mesmo quando alterna os capítulos, o Antes está tão frenético quanto o Agora, de formas diferentes. Lauren não nos dá descanso, mas poucas informações e muita luta e lesões corporais.
Os novos personagens são ótimos e conquistam um espaço especial na trama. Raven, a rebelde, não assume o papel de Hana, mas ajuda Lena de forma dura e cheia de significados. Julian é um encanto, mesmo que Lena (eu, você...) não consiga esquecer Alex e ainda espere que ele esteja vivo.
Se posso arriscar uma opinião básica e passível de objeção, acho que Pandemônio tem uma dose absurda de emoção. Não senti tanto em Delírio, que mostrou uma Lena em descoberta, mas pouco sentimental, mesmo com a presença de Alex. O segundo volume traz uma Lena em luto e disposta a lutar por algo que não tem ideia do que realmente seja, o que a torna, no mínimo, corajosa e altruísta.
De tudo o que foi dito, acredite, nada te prepara para o final. Não é um final inpensável. Eu pensei nele, inclusive. Só não achei que Lauren o escreveria. Imaginei duas possibilidades, ambas cruéis. A menos provável foi, justamente, a escolhida pela tia Lauren. Para o melhor, ou para o pior...
Se você gostou de Delírio, o que está esperando para ler Pandemônio? Coragem? Vá na fé. Se não gostou, achou fraco e tal, você pode mudar de ideia com Pandemônio.
Leia mais em ssentrelivros.blogspot.com.br