Ju 13/04/2012
Antes de tudo, devo dizer que engoli o livro em três dias (ou três noites, para ser mais exata). À primeira vista, o enredo pode parecer comum, vulgar. Mas, com passagens sim, vulgares (mas nem por isso menos interessantes), Nabokov consegue enfeitiçar, com brindes feitos por ocasião de uma figura de linguagem esplêndida (o que, felizmente, não são poucas) ou uma imagem encantadoramente construída (igualmente abundante). Sinceramente, mais, bem mais do que a história, o que me cativou ferrenhamente foi a maneira com a qual ela foi escrita.
Com o desenrolar, o que antes parecia apenas uma história frívola e com toques de comicidade, inicialmente um pouco rodriguiano, um chefe de família que larga tudo pra viver uma paixão com uma adolescente (ou seria nabokoviano? rs), vai se tornando sombria, complexa. E, aí sim, completamente rodriguiano (não pude deixar de pensar o tempo todo em como Nelson Rodrigues teria se rejubilado, se não se rejubilou, lendo o romance), com requintes de tragédia que nos faz mergulhar e sentir, sentir, o que quer que seja (no meu caso, dentre outros sentimentos, permaneceu o dó, nas mais diversas nuances), pelos personagens. E, quando finda, de forma magistral, só nos resta imaginar os mais inúmeros "depois" para os personagens. Um Nabokov inversamente atraente em comparação com Lolita (não obstante eu não tenha detestado Lolita de todo). Um Nabokov brilhantemente inspirado. O quão surpreendente pode ser quando damos uma segunda chance a um escritor? Nesse caso, totalmente, para mim. O que me faz pensar em dar também uma segunda chance a Lolita, já que eu o li tem quase dez anos. Meu eu atual lerá de outra forma, lerá outro Lolita. Quem sabe agora eu o ache digno de figurar entre os clássicos da literatura mundial...
Enfim, o que fica é que agora sugerirei Gargalhada na escuridão, à mais débil menção do nome Vladimir Nabokov.