LETRAS e VEREDAS 11/08/2021Durante aquele estranho chá“Durante aquele estranho chá” é uma reunião de breves textos memorialísticos que retratam os encontros, experiências e diálogos de Lygia Fagundes Telles com personalidades do universo da literatura e do cinema.
Com uma incontornável dose de nostalgia, Lygia Fagundes Telles evoca seus encontros com Simone de Beauvoir, Carlos Drummond de Andrade, Jorge Luis Borges, Glauber Rocha, Hilda Hilst, Monteiro Lobato, Jorge Amado Zélia Gattai, Mario de Andrade e Clarice Lispector. Os textos mais delicados e bonitos do livro foram dedicados aos momentos que a escritora partilhou com o grande amor de sua vida, Paulo Emilio Sales.
Nas travessias do livro, temos a sensação de que não estamos diante de narrativas transcorridas nas fronteiras do vivido, mas de relatos de sonhos que foram extraídos de saudades e ausências. Ela nos confessa que:
“Há uma soma de seres que amei e que já se foram, mas de um certo modo eles ficaram em mim, é difícil explicar mas eu diria assim que essa é uma espécie de legado e me impregnei desse legado lá no infinito que nos habita, a alma”.
Talvez essa atmosfera onírica e nostálgica dos textos do livro esteja fundada na compreensão de que invenção e memória são indissolúveis. Nas palavras de Lygia Fagundes Telles:
“Comigo, a memória sempre esteve a serviço da invenção e a invenção a serviço da memória. Quando eu vou contar um fato, de repente, estou inventando, acabo mentindo, mas não, não é bem mentira. Na verdade, eu floreio, estou dando ênfase àquilo que eu quero”.
Lygia Fagundes Telles é a maior escritora brasileira viva e aventurar-se pelos seus livros é oportunidade de captar as belezas e infortúnios que envolvem a complexidade da vida humana.