Gabriel Beda 04/02/2024
Negros e brancos, subjetividades indissociáveis?
Uma leitura extremamente necessária. Ressaltando que apesar da importância crítica e reflexiva, esse ainda é um texto escrito por um intelectual Martinicano, homem, residente na França no pós Segunda Guerra Mundial, logo, sua exposição possui, em alguns momentos traços misóginos e homofóbicos. Por este motivo, indico que se leiam também os textos complementares, uma vez que neles temos a possibilidade de acompanhar de que forma intelectuais posteriores dialogam com a produção de Fanon, apontando os pontos sensíveis de sua escrita e a partir deles traçando novas possibilidades teóricas, da mesma forma que Fanon fez ao dialogar com Sartre, Froid, Nietzsche entre outros pensadores.
Dito isto, a escrita de Fanon é brilhante. A forma como ele se debruça na construção de desejo e consequentemente da psique do homem negro, no seu caso particular Antilhano, e em como essa construção se associa a cultura branca e ao desejo de se embranquecer, mesmo que subconsciente. Bem como os mecanismos sociais que geram esse desejo pelo branco e a repulsa pelo negro nos homens negros colonizados.
Em contraponto, analisa como os mesmos mecanismos fazem surgir no homem branco uma imagem do homem negro à qual ele precisa constantemente se contrapor, para não se revelar desejante de uma potência viril e animalesca que ele mesmo retirou de si para despejar, enquanto forma de pecado e repulsa, nesse Outro que é representado pelo homem negro.
O livro tem uma leitura rápida e levanta uma série de temas complexos sobre a organização social, sua estrutura racial e como elas constroem a subjetividade das pessoas racializadas, sejam elas as colonizadas (negros) ou os colonizadores (branco). Sem dúvida um trabalho riquíssimo que não pode ser abordado em sua totalidade numa resenha.
Recomendo muito a leitura!