Cristiane.Belize 17/09/2019
Desafio de leitura - Baudolino
Eu já tinha assistido ao filme O nome da Rosa, baseado no livro dele, mas este foi meu primeiro livro do autor. Meu cunhado me emprestou e já foi logo me avisando que a história era muito doida. Baudolino não só é de ficção histórica, mas é ao mesmo tempo um livro de fantasia. O autor mescla dados históricos da destruição de Constantinopla na época das Cruzadas a lendas e crenças populares da Europa e Ásia dos tempos medievais.
O personagem principal, que dá nome ao livro, é tão inteligente quanto esperto, hábil com idiomas e criativo com invenções nas quais até ele parece acreditar. De campesino ele passa a protegido do imperador Frederico Barbarossa, que o adota e o envia para estudar na universidade em Paris. Lá ele conhece seus companheiros de farra e de aventuras. São eles que vão acompanhá-lo numa aventura épica em busca de uma mentira inventada por ele.
Ao meu ver o fio condutor da história é um estudo filosófico acerca das “verdades” da vida e do universo. Ao longo de toda o livro os encontros de Baudolino e seu bando são pretextos para refletir sobre essas questões fundamentais da existência, ética, justiça, fidelidade, amor.
Durante sua viagem em busca do reino do Preste João encontram os gimnosofistas, filósofos indianos que viviam pacificamente nus no meio da floresta. Algumas das discussões de que mais gostei:
“ ̶ Mas pelo que entendo, praticais o amor e o respeito recíproco, não matais animais, nem tampouco vossos semelhantes. Segundo qual mandamento o fazeis?
̶ Nós o fazemos justamente para compensar a ausência de qualquer mandamento. Somente praticando e ensinando o bem podemos consolar nossos semelhantes pela falta de um Pai.”
“ ̶ Qual é o mais feroz dos animais?
̶ O homem.
̶ Por quê?
̶ Pergunta a ti mesmo. És também uma fera que tem em si mesma outras feras e por desejo de poder quer tirar a vida de todas as outras feras."
Por outro lado, eu percebi que não tenho muita paciência com descrições longas de batalhas ou cenários mirabolantes. Na verdade, quando li Senhor dos Aneis já tive dificuldade em avançar na leitura desses trechos e agora pude confirmar que realmente esse não é meu estilo de leitura preferido, por mais que seja bem escrito, criativo e original.
Também achei interessante observar o grau de detalhes das referências históricas com as quais fui aprendendo e relembrando fatos estudados há muito tempo. Da mesma forma, admiro o estudo feito pelo tradutor, Marco Lucchesi, para ser fiel à obra original. Em geral não nos damos muita conta, lendo um livro estrangeiro traduzido para o português, do trabalho que tem o tradutor, não simplesmente em traduzir a obra, mas em reescrevê-la, guardando o tom literário dado pelo autor e mantendo-se fiel à intenção do autor em cada frase. Sobre traduções e a proliferação de más traduções e anglicismos na nossa língua, vale a pena ler o artigo de Juliana Cunha.
Baudolino é uma leitura que vale a pena, é um aprendizado e uma diversão ao mesmo tempo. Vou incluir outros títulos de Eco nas minhas próximas listas, com certeza.
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