Raze. 29/03/2014
Após sair suado e trêmulo da leitura animal que é o "Idoru", eis que chego ao fim do primeiro livro do conjunto de obras mais recentes deste, que se tornou um de meus autores favoritos, atualmente.
Acho que não precisam de uma sinopse, não é? Temos uma caçadora de possíveis tendências modinhas que nas horas vagas faz parte de um fórum de fãs quase-religiosos (Adoro esse costume do Gibson em transformar o fanatismo das pessoas por elementos da mídia em uma espécie de seita) que buscam solucionar o mistério por trás do surgimento de pequenas partes do que parecem ser a sequência de um filme, em lugares inusitados da internet. Acaba que seu empregador atual, um Belga ricaço e com jeito de Don Juan, a manda partir em busca do responsável pela edição e divulgação deste conjunto de pequenas cenas.
O primeiro ponto a ser percebido nele (Para minha infelicidade, mas apenas pessoalmente falando), é o fato de não ser um livro Cyberpunk. Sem Matrix, se AI's, sem Turing, sem os elementos que consagraram o Gibson no universo da ficção científica. Percebe-se que foi intencional dele e ele o fez muito bem, então você, que vai começar a lê-lo, tenha isso em mente.
Vamos falar, primeiro, do elemento mais criticado pelos companheiros que resenharam este livro antes de mim. O livro é massante, mesmo. Chato. Não sei muito bem o que levou Gibson a fazer isso, mas o tempo inteiro temos descrições com detalhes demais e utilidade de menos (e entendimento, muitas vezes, nenhum), usando termos que você só vai entender se for fazer uma pesquisa bastante chata. E sem utilidade nenhuma, repito.
Aliamos isso a um fato raríssimo dos livros do Gibson: O foco, a todo tempo, em um personagem só. Pois é, aqui não temos 2 ou 3 começos, com personagens diferentes que você sabe que no final irão se juntar, mas não sabe como. Cayce Pollard tem o palco apenas para si e esse palco, infelizmente, teve luzes demais. Muita gente aqui deve ter desistido pela metade e não sem razão, porque muitas vezes eu quase desisti, também.
Mas este é o aspecto ruim! Vamos aos bons. Uma das coisas mais agradáveis nele é a referência que ele faz aos grandes clássicos internautas da época em que ele foi escrito. Para aqueles que, como eu, se tornaram internautas assíduos no começo do século 21, com a transformação do computador em uma ferramenta que todos possuem e a popularização da banda larga, você vai ler muita coisa que vai te levar de volta a esse tempo e vai lhe arrancar risadas agradáveis (Ele fala até dos anúncios automáticos de "Aumente seu pênis"! Cara, quem ai não lembra disso!?!?!)
Outro elemento bom é que a trama é menos complexa e ainda sim, muito boa! A situação girando em torno do 11 de setembro e de como ficou a rede de influências russa após o fim da união soviética são maravilhosos.
Pra finalizar, há alguns elementos que ele quase não aborda mas tinham tudo pra tornar a história ainda mais legal do que já é. O principal deles é a suposta tentativa do falecido pai de Cayce de se comunicar através do FVE (Fenômenos de Voz Eletrônica), religião de sua mãe (Uma seita que fica tentando ouvir vozes dos mortos em interferências eletrônicas). Tinha tudo pra dar aquele elemento fantasia/SCI-FI que eu aprendi a admirar nos livros do Gibson.
Enfim, para aquele que tiver a força de vontade de ler até o fim, descobrira um desfecho tragicamente lindo da trama e, melhor ainda, fácil de entender. Livro chato? Concordo plenamente. Mas leia... faz uma força.